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Nova geração Drag ganha destaque na mídia

Famosas no cenário brasileiro desde as décadas de 1980 e 90, as drag queens tem sua imagem marcada por diversos estereótipos no imaginário do público. Embora sejam frequentemente relacionadas a glamour, brilho, maquiagem, senso de humor e festa, essas artistas vão além dos padrões e não se limitam a homens que se vestem de mulher. Hoje, ser drag é um ato político que discute questões como sexualidade, identidade de gênero e a definição cultural de masculino e feminino. Nas próximas semanas, o Comunicação apresentará uma série de reportagens sobre vários aspectos da cultura drag brasileira – seu espaço na mídia, seu impacto na indústria cultural, sua dimensão em Curitiba e os detalhes que antecedem cada performance. A primeira matéria da série mostra como a arte transformista tem proposto a quebra de estigmas e conquistado uma legião de fãs, com um espaço cada vez maior na mídia.

Mais do que um reality show, o projeto Drag-se pretende narrar a rotina de 9 personagens em dez episódios de cinco minutos (Foto: Divulgação Drag-se)
Mais do que um reality show, o projeto Drag-se pretende narrar a rotina de 9 personagens em dez episódios de cinco minutos
(Foto: Divulgação Drag-se)

As drag queens sempre estiveram relacionadas ao espetáculo por conta de suas origens. Acredita-se que as primeiras profissionais do gênero tenham surgido em palcos de teatro no século XIX. Entre todas as hipóteses para o nascimento do termo “drag”, a mais aceita é a de que a palavra, no contexto, seja empregada no sentido de arrastar, em uma referência aos vestidos pesados utilizados pelos atores transformistas da época, que possuíam longas saias e as arrastavam pelo chão. Apesar de ter suas raízes na dramaturgia, a cultura drag sempre teve pouca representatividade nas produções audiovisuais.

O cenário começou a mudar em 2009, com a estreia do reality show RuPaul’s Drag Race, comandado por RuPaul, uma das drag queens mais populares dos Estados Unidos, onde a cultura é mais difundida. Nos moldes de outras atrações do gênero, como o America’s Next Top Model, o programa tem o objetivo de encontrar “a maior drag queen da América” através de diversas provas semanais. A primeira temporada foi ao ar pela Logo TV, emissora norte-americana originalmente voltada ao público LGBT, e registrou a maior audiência da história do canal. O sucesso absoluto veio pouco tempo depois com a aquisição da atração pelo Netflix, maior serviço de TV pela internet do mundo. O resultado foi o encontro de um programa segmentado com um novo público mais abrangente e diversificado que, por sua vez, recebeu o reality de braços abertos. Era o início da transformação da cultura drag em mainstream – ou, simplesmente, em parte significativa da cultura pop mundial.

Versões brasileiras

Com diversos prêmios recebidos, a atenção da mídia internacional e uma audiência significativa que chegou ao pico de 1,3 milhão de espectadores em 2013, na estreia da 5ª temporada, não demorou para o programa de RuPaul ganhar versões alternativas produzidas em vários locais, como Alemanha e Reino Unido. A primeira produção brasileira do gênero foi o reality Glitter – Em Busca de Um Sonho, que estreou em 2012 e, atualmente em sua segunda temporada, é exibido dentro do programa do apresentador Ênio Carlos na TV Diário, de Fortaleza. Em julho deste ano, a famosa drag queen Silvetty Montilla foi anunciada como apresentadora de Academia de Drags, atração online que deverá ser totalmente inspirada no formato de RuPaul’s Drag Race e reunirá 8 competidoras. Com a estreia marcada para 13 de outubro, os primeiros episódios contarão com a presença de Titi Muller e Alexandre Herchcovitch na bancada de jurados.

Longe de grandes emissoras e altos investimentos, produtores independentes também se mobilizam para produzir reality shows sobre o universo drag. Sócia da Suma Filmes, a diretora Bia Medeiros teve a ideia de criar um programa sobre o dia a dia das drag queens após filmar o curta-metragem Olympias, de 2013, que aborda a realidade de travestis no Rio de Janeiro. Nascia a semente do Drag-se, um projeto que está correndo contra o tempo para arrecadar fundos no site de crowdfunding Catarse. Bia explica que o objetivo da produção é quebrar barreiras e estereótipos, mostrando a vida das meninas em situações típicas do cotidiano. “Temos vários tipos de drags. Tem o lado engraçado e espalhafatoso, mas também tem os fatores políticos, o ativismo. Queremos mostrar o cotidiano delas com a família e os amigos, longe de qualquer pré-conceito”, conta.

O Drag-se será uma série documental postada semanalmente na internet. O programa pretende mostrar as rotinas de nove drags, divididas em 10 episódios de 5 minutos. Entre os tópicos abordados, estarão as relações das meninas com parentes e amigos, seu dia a dia no trabalho e nas festas e, claro, o processo de transformação.

História de Drag

Uma das selecionadas para participar do Drag-se é Natasha Fierce, nascida no Carnaval deste ano. Para se montar pela primeira vez, o carioca Vinicius Rosalvos buscou inspiração em Sasha Fierce, alter-ego de Beyoncé, que costumava entrar em cena quando a cantora subia aos palcos. Rosalvos explica que sua motivação para participar de um reality é a possibilidade de informar às pessoas sobre o verdadeiro significado da cultura drag. “É um universo muito amplo. Em São Paulo, por exemplo, essas drags que estamos acostumados a imaginar, mais escandalosas e engraçadas, são a minoria”, conta.

Para ele, um dos pontos mais altos da abertura da mídia e da indústria cultural para o universo transformista é a capacidade dos meios de comunicação de discutir e erradicar preconceitos. “A questão é muito complicada até mesmo entre as próprias drag queens. Eu, quando comecei a me montar, não conhecia e não entendia muita coisa. Essas iniciativas são fundamentais”, opina. É possível apoiar a produção do Drag-se através do Catarse, com valores que vão de R$20,00 a R$10.000. As doações podem ser recebidas até o dia 12 de outubro.

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