Sou filho da primeira turma de Jornalismo da UFPR 100% formada na Floresta [nome do atual campus da faculdade de Comunicação Social]. De 2001 a 2005, convivi com as dificuldades de um curso cujo currículo tinha sido reestruturado recentemente. Convivi também com a falta de estrutura, com um jornal-laboratório que mal rodava edições impressas e que se focou no online como uma tábua de salvação para dar vazão à produção dos alunos. Também vivenciei a desconexão gerada pela permanência dos estúdios de rádio no prédio da Praça Santos Andrade – e seu famoso isolamento acústico com caixas de ovos. E, claro, também sofri com a falta de estúdios de TV. Mas, nada disso me amargura. Foram cinco anos que me moldaram como profissional. E eu só tenho a agradecer por tudo que recebi de professores, colegas e demais membros do curso.
De volta, nove anos depois, espero contribuir nesse mandato de ombudsman para melhorar o que já julgo, em uma primeira análise, estar à altura de um bom jornal-laboratório online. A navegação, com menu horizontal, está em linha com o que vemos de boa prática em sites noticiosos e o design é agradável . A usabilidade ainda precisa de mais trabalho. Os textos, de maneira geral, refletem o que se espera de alunos da UFPR. Um ajuste aqui, outro acolá. Mais fotos, talvez arriscar um infográfico, quem sabe. Acima de tudo, sinto que a universidade é o período de experimentar. E o jornalismo anseia por inovação, por novos formatos e novas formas de contar bem uma história. Hoje mais do que nunca.
Discutindo a imprensa
Quando julgar que houve um tema relevante, pretendo fazer aqui algumas provocações sobre a imprensa brasileira. Na semana que passou, tivemos o caso da dispensa do colunista Xico Sá pelo jornal Folha de S.Paulo. Em um primeiro momento, ficamos restritos somente ao lado do colunista, que “caiu atirando” e disse que seu texto, com declaração de voto em Dilma (PT), havia sido vetado pelo jornal. Em explicação posterior, a direção de redação informou que a prática de abrir o voto era vedada aos colunistas pelo Manual de Redação e que a Xico Sá foi oferecido um espaço para publicar seu artigo na seção Tendências e Debates.
Aos leitores assíduos do jornal paulista, a regra soou estranha, já que o jornal possui colunistas que, apesar de não declararem nominalmente seus votos, o fazem nas entrelinhas. Ou às vezes nem tanto. No fim das contas, ficou a impressão de que a aplicação da regra é seletiva.
A ombudsman da Folha tratou do tema em sua coluna deste domingo (19). Ao meu ver, o texto trata bem do tema, reconhecendo as falhas e incoerências no critério do jornal e também cobrando explicações de alguns dos “disparos” feitos por Xico Sá nas redes sociais. A resposta do ex-colunista veio na segunda-feira (20) ), assim como a íntegra do texto que teve a publicação vetada.
O que sobrou deste caso foi um dano à imagem do jornal, que escolheu aplicar uma regra de seu Manual de Redação em um momento de intensa polarização do debate político do país. Faltou sensibilidade à Folha para entender que o caso poderia ter sido tratado posteriormente, em um momento de maior tranquilidade. Para o colunista, fica a lição de que se você não está disposto a bancar as denúncias que faz em um momento de cabeça quente, é melhor não falar demais para depois ter que recuar.
Pitacos da semana (15 de outubro a 22 de setembro)
– Li as três matérias da série sobre drag queens. O assunto é de fato muito interessante e as reportagens ficaram boas. Mas, houve uma “falta de comunicação” no material. No texto desta semana, os anteriores são apresentados de forma burocrática e monótona – confira a primeira reportagem da série, por exemplo. Isso não chama a atenção do leitor e “esconde” um material que poderia ser melhor aproveitado. Minha sugestão é colocar links com os títulos das matérias, de forma que o leitor seja atraído para a leitura. No caso da segunda matéria, chamar pela entrevista pode ser até mais interessante do que a apresentação da Yara Sofia, que perdeu gancho. Outro detalhe: a primeira, a segunda, a terceira (e as seguintes) matérias também têm que ser atualizadas para conter os links das reportagens subsequentes da série. (Falta de espaço e reconhecimento em boates são percalços para drag queens curitibanas, 22/10 )
– Entendo que o objetivo era fazer uma galeria de imagens da Feirinha do Alto Juvevê. Mas, o texto de apresentação do material cita que a feira tinha “produtos de gastronomia a preços acessíveis”. Não seria alta gastronomia? Pois pagar R$ 10 em uma coxinha não me parece algo muito acessível. (Feirinha de gastronomia atrai público diverso, 16/10)
– Faltou o serviço na matéria sobre voluntariado. Há site ou telefone para entrar em contato e participar da atividade com origami no HC? O leitor espera esse tipo de coisa. (A solidariedade vem com papel, 17/10)
– A matéria sobre a Bolsa Atleta fala que o alcance é limitado, mas senti falta do dado bruto – quantos a recebem? Também poderia ter sido informado quantas equipes representativas a UFPR tem e em quais modalidades. (Bolsa Esporte beneficia atletas da UFPR, mas ajuda ainda é limitada, 17/10)
– Na matéria sobre a palestra mídia e movimentos sociais da Semana Acadêmica, notei que os tradicionais “disse” e “afirmou” foram preteridos pelos mais rebuscados “destacou”, “contou” e até um “revelou”. Claro que não existem proibições quanto ao uso dos termos escolhidos, mas é bom usá-los com parcimônia. Principalmente o último, que deve ser guardado para quando efetivamente “revelar” alguma coisa. (UFPR discute relação entre meios de comunicação e movimentos sociais, 16/10)
Fabiano Klostermann é formado em Jornalismo pela UFPR. Começou sua carreira em 2006, cobrindo Esportes para a Gazeta do Povo, como freelancer. Em 2007, foi contratado pelo jornal O Estado do Paraná para atuar nas editorias de Cidades e Tecnologia. No mesmo ano, se mudou para São Paulo, onde atuou como redator, repórter e editor-assistente na editoria de Economia do Portal Terra. Em 2010, foi para a Editora Abril para ser editor de capa do portal Abril.com. Voltou a Curitiba em 2012 e, desde então, é editor de Vida e Cidadania no site da Gazeta do Povo.
Ombudsman
O ombudsman é um jornalista designado para a função de ouvidor de um jornal. É ele quem faz a crítica interna do veículo, quem recebe, analisa e repassa as críticas e sugestões dos leitores e quem produz, periodicamente, uma coluna com as reflexões referentes a esse trabalho. O cargo existe no Brasil desde setembro de 1989, quando a Folha de S. Paulo instituiu seu primeiro ombudsman.