Qualquer jornalista que batesse os olhos no site nos últimos dias provavelmente teria a mesma impressão que eu tive ao vistoriá-lo para dar o primeiro palpite pós-greve: o olho pulou quando surgiu a manchete anunciando uma exclusiva do delegado Igor Romário, um dos principais nomes da Lava Jato. Primeiro: palmas e loas a todos os envolvidos.
Pode ser que nem seja a preferência de vocês. Exclusivas, digo. Isso de entrar no noticiário do dia e tentar achar algo que só vocês fizeram, meio que furar a imprensa. Ainda mais em política (quantos de vocês querem fazer jornalismo de política? Não faço a menor ideia, mas serão bem-vindos ao clube).
Fato é que eu, pelo menos, fui direto lá. Ouvir o delegado. E a entrevista estava bem feita. Dentro das formalidades, com perguntas interessantes. Até minha primeira reação foi de me perguntar por que isso não estava na manchete principal. Por que vocês não transcreveram e aproveitaram para fazer também em texto? A gente tem que ordenhar bem a vaquinha leiteira: quando acha um furo como esse, tem que fazer render. Cacarejar, alardear. Dar o devido valor.
Digo isso como um elogio. Vocês ainda estão no começo de carreira. Que nada! Estão antes do começo da carreira. E às vezes acertam coisas como gente grande. Não é fácil. E não vai ser sempre. Mas neste mundo digital em que tanta coisa é ruído, repetição, é bom ver algo novo.
E não precisa ser algo ligado ao noticiário, aos fatos quentes. A matéria sobre tatuagem escapa ao estilo hard News mas traz também algo que as pessoas podem não ver no jornal. Original. Não redundante. Lembrem sempre: a redundância é a morte do jornalismo.
Quando fui ombudsman deste jornal pela primeira vez, anos atrás, sugeri uma ideia que não foi acatada. Como sou teimoso (e tenho poucas ideias) aproveito o bote para fazer novamente a mesma proposta. Por que não se aprofundar em um assunto, ou em uns poucos, e tornar o Comunicação referência neles. Não é preciso deixar de ser generalista para isso.
Imagine que alguns de vocês se interessem por transporte coletivo. Ou feminismo – ou algo mais específico, como a polêmica do excesso de cesáreas no país. Ou sobre teatro curitibano. Seria absolutamente genial vocês fazendo pedidos de informações (por meio da Lei de Acesso a Informações, perguntem aí pros professores); lendo Diários Oficiais; indo a seminários específicos; descobrindo pesquisadores e relatórios de fora do país. E se transformando em uma referência para algo.
Quem quisesse saber mais sobre latrocínios em Curitiba ia dizer: peraí, dizem que onde tem esses dados é no jornal da UFPR. O melhor lugar para saber de tatuadores profissionais? Dizem que tem um site de uns estudantes sobre isso.
Eu, particularmente, acho muito melhor a gente saber mais de algumas poucas coisas e se aprofundar nelas (sem perder a curiosidade e o gosto pelo geral) e poder ajudar a aprofundar um debate. Ajudar as pessoas a conhecer o mundo em que elas vivem, esse é o desafio do jornalismo. Quanto mais original e mais completa, quanto mais profunda e confiável for a informação que vocês derem às pessoas, melhor estarão fazendo esse belo trabalho em que vocês estão se iniciando.
Rogerio Waldrigues Galindo é jornalista formado pela UFPR e trabalha na Gazeta do Povo como repórter e colunista.