qua 19 mar 2025
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O Olhar inédito de Glauber Rocha

"A Vida é Estranha", inédito de Glauber Rocha, foi exibido pela primeira vez no festival Olhar de Cinema  (foto: divulgação)
“A Vida é Estranha”, inédito de Glauber Rocha, foi exibido pela primeira vez no festival Olhar de Cinema
(Foto: divulgação)

O anúncio de que o Olhar de Cinema iria transmitir um filme inédito do cineasta Glauber Rocha, ao longo do festival que movimenta Curitiba, deixou os nervos de qualquer cinéfilo à flor da pele. Não por menos, afinal Glauber faleceu em 1981 e deixou oito longas e nove curta-metragens, muito discutidos pela crítica e pelo público, como Terra em Transe (1967) e Barraviento (1959).

A première de A Vida é Estranha (2015), aconteceu no dia 12 de junho, às 20h, em uma das salas de cinema do Shopping Curitiba, seguido por um debate sobre a película. O filme, com 39 minutos de duração, se trata de um registro de viagem feito por Glauber e a então namorada, a cantora Mossa Bildner, em 1970. Descobertas por acaso, as imagens estavam na posse de Bildner que, junto a equipe do festival, dirigiu e acrescentou trilha sonora ao filme. Ela era, inclusive, uma das telespectadoras da estreia – e o debate que aconteceu depois foi um jogo de perguntas e respostas com a própria Mossa.

As filmagens foram feitas com um Super 8 e registram a viagem de Mossa e Glauber para Essaouira, em Marrocos. Três músicas compõem a trilha, sendo que cada uma delas dá um tom específico, pois foram escolhidas durante a reconstrução do filme. Gravado despretensiosamente, A vida é estranha é íntimo: inicia com imagens de Glauber fazendo a barba, por exemplo.

O filme termina com uma improvisação vocal, em que Bildner musicou o poema Momentos na Vida de Clarice Lispector. “É sobre o valor dos encontros humanos. Essa viagem foi sobre aproveitar a vida. Depois, de todas as viagens pelo mundo e de todas as cidades que eu fui, esse filme estava sempre comigo”, declarou emocionada, após a sessão.

Guardado por 40 anos, a cantora não acreditava que o público poderia ter interesse nas imagens e se surpreendeu com a resposta do público e da crítica. A vida é estranha foi construído diretamente na câmera e teve apenas 30 segundos cortados na hora da edição. “Eu não achei que era meu lugar mexer na ordem que ele fez. Alguns podem não entender, mas eu não tenho coragem de mexer na obra dele”, explicou durante o debate.

A possibilidade de que o filme tenha sido um esboço para outras obras de Glauber surgiu entre o público, mas não foi confirmada. “Para nós, era só registrar as férias. Com o tempo, eu interpretei que era uma semente na cabeça dele para outros filmes. Mas não posso dizer o que ele pensaria”, afirmou a cantora.

Tanto Mossa Bildner quanto Glauber Rocha são figuras públicas, e seus trabalhos anteriores foram o principal chamariz para o telespectador movido pela curiosidade. Cada uma das pessoas nas poltronas queria detalhes: como foi a edição, como foi a viagem, quais eram as músicas, como foi o relacionamento dos dois. O jornalista André Dib, que assisitiu à estreia, fez questão de ficar até o final do debate. “É um registro de viagem, mas é um resgate. Tem uma importância por ser raro e único. O filme traz frescor, apesar de ser despretensioso”, disse o jornalista, que acompanha o Olhar de Cinema anualmente. “Glauber morreu jovem e com certeza tinha muitas ideias que não foram realizadas. Ter acesso a esse material é um prazer. É uma luz, como um proto-filme”, declarou.

A vida é estranha foi exibido duas vezes durante o festival e fez parte da mostra “Exibições Especiais”.

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