ter 07 maio 2024
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Parabéns ao mestre!

Já faz meia hora que estou sentado em frente ao computador. Olhando o nada. Em minha cabeça, ao contrário, espaços, ideias, lembranças e palavras se movimentam como num redemoinho.  Lá no fundo, sei que não faço a menor ideia de como fazer essa homenagem.

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Posso cair no perfil; podia escrever uma carta. Mas não. São tantos temas para uma única crônica que escorrego no chavão de não achar nenhum. Tantos, inclusive, são os assuntos que o homenageado domina; assim como as funções que exerce – cronista, e dos bons, é apenas uma delas.

Poderia falar de sua vida, seus trejeitos, sua atenção com os alunos, seu estilo de escrita. Sobre o certo ar misterioso que o cerca, sobre seu humor atrapalhado, sobre seu hábito de usar camiseta preta de poliéster da Nike por baixo da camisa – sempre com os três botões de cima abertos. Posso, sem dúvida nenhuma, forrar esse site com o nome de pessoas que ele transformou a vida, da maneira que for.

Arrisco dizer que nesse plano não há uma alma, viva ou morta, que não goste de José Carlos Fernandes. Com uma humildade de deixar a gente sem graça, nos ambientes em que circula é seguido por uma manada de admiradores anônimos que o espreitam na esperança de apreender algo. Um dedo como troféu, que seja. Ou uma dica de fonte.

De longe, ele parece uma doninha acuada. Engana-se, porém, quem pensa isso ao vê-lo no ônibus, com uma bolsa num ombro, e no outro, uma ecobag carregada de livros para serem apresentados aos alunos.

Mal sabe o jornalista exemplar com o qual divide a sanfona do biarticulado, nem que é dele a crônica de estilo muito peculiar e refinado lida anteontem.

Zeca é, na verdade, uma raposa esperta, capaz de captar sentimento na mais leve crispada de sobrancelhas.  Que destina seu precioso tempo a procurar histórias comuns – e bem por isso, tocam a todos – e sua copiada escrita a ornamenta-las de um jeito que faz brilhar nosso exigente gosto.

Se eu tivesse a chance, daria meus sinceros parabéns pelo seu aniversário. Faria questão de mostrar minha admiração, ao que ele responderia com um ‘deixa disso’ envergonhado; agradeceria por tudo que disse, em aula e fora, mas nem imagina o quanto aquilo me mudou; tentaria sugar todo conhecimento e repertório que possui, que, convenhamos, vale mais do que dinheiro. E, claro. Imploraria para que lesse todos os meus textos e me enviasse feedbacks semanais.

Mas, negativo. Há muita gente na fila, quem eu penso que sou? E de pensar que é assim que José Carlos Fernandes se sente perante o leitor – quando justifica sua opção por esconder a primeira pessoa nas crônicas…

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Ta aí, esse pode ser o meu tema. Mas enquanto eu não decido, vou ler um texto do Zeca para me inspirar.

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