O laboratório de farmacologia da UFPR está desenvolvendo uma pesquisa inovadora para a medicina, que pode culminar na cura para a sepse, uma das principais causas de morte hospitalar no Brasil.
Aleksander Zampronio, professor de farmacologia e coordenador da pesquisa, trouxe a base do projeto do Canadá, onde desenvolveu seu pós-doutorado em eletrofisiologia. Ele explica que o principal problema quando o paciente desenvolve quadro de sepse – também conhecido como infecção generalizada – é a pressão baixa, que impede a oxigenação do sangue e pode levar à falência múltipla de órgãos.
Durante a pesquisa no Canadá, Zampronio observou que a causa do aumento de pressão arterial é um hormônio chamado vasopressina. Essa substância, produzida pelo próprio organismo, pode ser inibida pela endotelina, que também é fabricada naturalmente. “Normalmente, esses elementos funcionam em harmonia no corpo humano, mas, em quadro de infecção, esse circuito não funciona”, explica Zampronio, que aponta a solução, “bloquear os canabinoides aumenta a pressão arterial”.
Para isso, está sendo testada a eficácia de um remédio atualmente proibido no Brasil, o Rimonabant. Usado como emagrecedor, a droga foi retirada de circulação por ter como efeito colateral a depressão profunda dos usuários. O Rimonabant inibe a ação da endotelina, e atualmente é aplicado em cobaias. O resultado é animador, houve significativa redução na mortalidade dos ratos, previamente induzidos ao quadro de sepse.

Mariane Guttervil, orientanda de Zampronio há um ano, está animada com os resultados. “Aprendi bastante com essa pesquisa, e pretendo continuar com ela, investigar mais a fundo”, conta, já prevendo a possibilidade de continuar o projeto em sua tese de doutorado.
Apesar das boas perspectivas, o professor de farmacologia não acredita que sua pesquisa será a cura definitiva para a sepse. “O medicamento seria apenas uma terapia adicional às já utilizadas, como aplicação de adrenalina”, relata. Além disso, o Rimonabant deverá ser aplicado com cuidado e poucas vezes, durante o período mais grave da doença, para prevenir os efeitos colaterais.
Atualmente, a pesquisa desenvolvida por Mariane sob a supervisão de Zampronio tem se focado nos motivos da droga inibir a ação dos canabinoides e qual a relação disso com a vasopressina. Essa etapa deverá acabar em abril de 2014, quando provavelmente será passada a outro pesquisador. “O próximo passo deveria ser a avaliação clínica do tratamento, o que só pode ser feita por um médico”, explica Zampronio.
Ainda que a pesquisa seja financiada pela CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – o professor enfrenta problemas com a UFPR. As principais dificuldades, segundo ele, estão no número de animais fornecidos para cobaia e a burocracia, que impede a compra rápida de equipamentos.
Infecção Generalizada
A sepse caracteriza-se por infecção em um ou mais lugares do organismo, causando uma reação generalizada do corpo, na forma de inflamação. O quadro clínico do paciente pode se tornar grave, causando a falência de múltiplos órgãos. É a principal causa de morte nas UTIs brasileiras, e 65% dos pacientes infectados vão à óbito. Em 2003, 227 mil pacientes morreram em decorrência da doença, segundo o Instituto Latino Americano de Sepse.