De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada a cada trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou uma taxa de desocupação de 9,3% no 2º trimestre de 2022, com 10,1 milhões de pessoas desocupadas. Este índice representa a taxa mais baixa em sete anos.
Ao longo da campanha eleitoral de 2022, o candidato à reeleição presidencial Jair Bolsonaro (PL) repetiu este dado em peças publicitárias, horário gratuito político eleitoral, comícios e discursos. Porém, isto não reflete a realidade para além dos números: embora verdadeiros, os dados são tirados de levantamentos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que passaram a ser feitos por uma nova metodologia a partir de 2020, e computam hoje dados que eram subnotificados nas séries históricas anteriores, dando uma falsa sensação de que a economia no Brasil vai melhor.
Diante deste cenário conturbado de falsa melhora, a nova mão de obra que ingressa no mercado de trabalho enfrenta um período de desconhecimento. De acordo com o economista urbano e estudioso de macroeconomia Alberto Paranhos, o mercado brasileiro está passando por alterações estruturais, que levam muitos novos profissionais ao trabalho informal, e compreender os movimentos do setor é fundamental para que os novos trabalhadores trilhem seus caminhos da maneira correta.
Paranhos é graduado em economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e é pós-graduado em economia urbana e gestão de desenvolvimento pela Universidade de Sorbone, na França. Ele tem passagens por órgãos como o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
Confira abaixo a entrevista concedida pelo especialista ao Jornal Comunicação, sobre as expectativas para o setor de empregos brasileiro, as áreas promissoras no mercado de trabalho e as formas como os novos trabalhadores podem se preparar para o futuro.
Quais as suas expectativas para o setor de empregos nos próximos anos? Quem está entrando no mercado de trabalho agora vai encontrar emprego com facilidade?
O mercado de trabalho depende muito de quatro coisas principais, creio eu: o perfil da economia; as oportunidades e necessidades do sistema produtivo – as empresas; a formação e “empregabilidade” derivadas da educação – em universidades e ensino técnico; e os incentivos e apoio de políticas de governo nas três esferas territoriais – a nacional, estadual e municipal.
No Brasil, assim como em outros países, temos uma assimetria entre a tipologia das vagas de emprego e as habilidades das pessoas que buscam emprego.
Por isso, vemos ao mesmo tempo um monte de oferta de vagas, por um lado, e por outro lado outro monte de gente desempregada. Essas “pontas” não fecham…
Então o ingresso de muitos no mercado de trabalho se dá pelo trabalho informal, porque não têm as habilidades exigidas pelo mercado.
O trabalho informal é muitas vezes o primeiro passo de quem quer trabalhar. Daí se passa ao empreendedorismo, que é a capacidade de produzir bens e serviços por conta própria.
A pandemia forçou diversas pessoas a buscarem essa forma de se ocupar e gerar renda. Aí aparecem com muita força as iniciativas do chamado Sistema S – Sesc, Sesi, Sebrae, etc. – como formadores de habilidades. Muitas vezes, essa informalidade é a primeira porta do mercado de trabalho. Por isso é tão importante o governo ter políticas específicas de formalização de mão de obra e recursos humanos em geral.
A informalidade tende a crescer quando essas políticas são insuficientes, ou quando aumenta aquela assimetria entre oferta de vagas e habilidades disponíveis. Infelizmente, existe também uma outra assimetria que é o tempo entre as necessidades do setor produtivo e o tempo em que o sistema formador prepara a mão de obra. O dinamismo da economia e a rapidez das mudanças no perfil produtivo nem sempre são acompanhados de perto por essa preparação.
E quais setores do mercado de trabalho você encara como promissores para quem vai entrar no mercado?
A evolução das ferramentas e instrumentos da tecnologia de informação e comunicação (TICs) tendem a dominar as alterações no mercado de trabalho. Por isso, todas as ocupações com perfil mais tecnológico ou que supõem maior formação em temas que incorporam tecnologia são as mais promissoras.
A capacidade de inovar e desenvolver processos e produtos novos tende a ser o grande motor que vai impulsionar a economia e as alterações no perfil produtivo.
E aqueles trabalhos mais manuais, onde entram nisso tudo?
Também se deve levar isso em conta. Muitos empregos ou postos de trabalho estão sendo automatizados e substituídos por máquinas, computadores e plataformas informatizadas. Veja, por exemplo, os supermercados que tiram os caixas manuais e deixam computadores com “autoatendimento”, onde o próprio cliente faz a leitura ótica do código de barra dos produtos e depois paga a conta com algum cartão – o dinheiro de plástico, que já está sendo substituído pelo dinheiro virtual – pix, etc. Esse é um grande desafio econômico e social, porque pode aumentar o desemprego, pela redução da quantidade de postos de trabalho.
Assim, todo trabalho repetitivo e rotineiro tende a ser substituído por máquina ou plataforma, obrigando essa mão de obra a buscar uma capacitação diferenciada para permanecer no mercado de trabalho. Mas vejo hoje que este setor, das tecnologias da informação, tende a se desenvolver mais.
Para os jovens que estão começando a trabalhar agora, como eles devem se preparar para o futuro? A partir de qual momento devemos fazer provisões para uma aposentadoria?
A previdência social – sistema de seguridade – é sumamente importante desde bem cedo. Mesmo informal, quem tem alguma ocupação remunerada deveria tratar de contribuir para o INSS por menos que seja. Quem puder, deveria fazer um plano de previdência privada, porque em todos os países e economias os custos da previdência oficial tendem a crescer muito e se tornam um peso financeiro insustentável, dependendo dos benefícios oferecidos. Essa é outra assimetria importante de se avaliar. As perguntas básicas em qualquer esquema de fundo econômico são: quanto custa e como se paga, quem paga.
E, finalmente, há uma terceira assimetria igualmente importante que é o perfil demográfico da população versus as idades para se aposentar e os tempos de contribuição previdenciária. Nossa expectativa de vida está crescendo, as famílias têm menos filhos na média geral, mas isso pode variar segundo as classes de renda e a quantidade de menores de 16 anos e maiores de 60 – ditos “dependentes” – cresce muito em comparação com as coortes etárias de 16 a 60 anos (que são aquelas que contribuem para a previdência quando estão trabalhando). Existem estudos específicos para determinar esse indicador denominado índice de dependência, e quantos dependentes existem para cada pessoa que contribui para o INSS. É evidente que se um lado crescer mais que o outro, isso vai gerar algum desequilíbrio na conta final.