qui 25 abr 2024
HomeDestaquesSuspense grotesco é tema da companhia Vigor Mortis no Festival de Teatro...

Suspense grotesco é tema da companhia Vigor Mortis no Festival de Teatro de Curitiba

As apresentações da companhia são repletas de artifícios que deixam o roteiro mais condizente com a realidade. (Foto: Valsui Júnior)
As apresentações da companhia são repletas de artifícios que deixam o roteiro mais condizente com a realidade (Foto: Valsui Júnior)

Sangue, terror e ficção, são palavras que podem sintetizar o trabalho da companhia artística Vigor Mortis. O grupo, que existe desde 1997, tem na mostra desta edição do Festival três apresentações no Teatro Cine Glóriah, localizado na Praça Tiradentes. Muito do teatro de horror criado na Vigor Mortis é influência do teatro de Grand Guignol, em Paris, que esteve em cena entre os anos de 1897 e 1962, fazendo uma arte baseada especialmente no suspense grotesco. A antiga companhia de teatro ficava na Rua Chaptal, 20 – e foi inspiração para duas das peças que agora representam a Vigor Mortis: “Duplo Homicídio na Chaptal 20: Farol em Fúria e Crime no Manicômio”.

Além do sucesso que o coletivo ganhou com as peças teatrais, a produção audiovisual foi além e foram lançados vários curta-metragens e dois filmes baseados em trabalhos anteriores do grupo: “Morgue Story”, em 2009, e “Nervo Craniano Zero”, em 2012. Em paralelo, foi lançada a obra “Vigor Mortis Comics”, em 2013, uma graphic novel com roteiros de José Aguiar e Paulo Biscaia Filho e desenhos de José Aguiar e DW, baseados em montagens da companhia.

Novela mexicana ou suspense inglês

Em um sonho de fugir à capital hollywoodiana do México Guadalajara, a jovem Luísa acaba fazendo discípulas na peça tragicômica “Crime no Manicômio”. (Foto: Valsui Júnior)
Em um sonho de fugir à capital hollywoodiana do México Guadalajara, a jovem Luísa acaba fazendo discípulas na peça tragicômica “Crime no Manicômio” (Foto: Valsui Júnior)

“Duplo Homicídio na Chaptal 20: Crime no Manicômio”, uma das peças em exibição no Festival de Teatro de Curitiba, conta a história de três mulheres psicóticas e uma garota na sua última noite em um manicômio em La Castañeda, no México. Baseado na obra “Crime dans une Maison de Fous”, do Grand Guignol, a peça usa referências estéticas do cinema noir dos anos 40 e diversos artifícios visuais que deixam o conjunto mais verossímil.

Já “Duplo Homicício na Chaptal 20: Farol em Fúria” retrata a história das irmãs Meg e Lizzie, donas de uma pousada em Nantucket na Nova Inglaterra, em 1947. Tentando se proteger de um cachorro com sinais de raiva, as irmãs escondem-se num farol administrado pelo marinheiro e ex-combatente de guerra, Pops, homem de personalidade forte e com um terrível segredo. A peça tem influências de romances policiais difundidos na cultura inglesa no início do século XX, como os de Sir Arthur Conan Doyle.

Para o revisor de textos Luiz Henrique Bezerra, “Farol em Fúria” lembra muito os livros de terror de Agatha Christie. “Começa com um grande mistério que vai se desenvolvendo e chega no clímax, que é a morte, sangue e um mistério, então, solucionado”, relata. “Na peça, no entanto, não existe o mistério em evidência, mas sim a carnificina e como o ser humano é algo muito mais profundo do que possamos imaginar”, complementa Luiz.

Os quatro integrantes do coletivo “Trupe Trabalhe Essa Ideia”, de Brasília, vieram a Curitiba para apresentar uma peça de gênero infanto-juvenil chamada “Brincatividade” e aproveitaram para conhecer uma apresentação da Vigor Mortis. “Quando surgiu a oportunidade nós aproveitamos, pois nunca tínhamos experimentado ver uma peça de terror”, conta a atriz Renata Bittencourt. O grupo pretende apresentar, em Brasília, um espetáculo musical de temática grotesca dirigido por Rafael Souto. “No cinema nós temos bastante referência, mas no teatro em si, nós nunca tínhamos visto”, relata a atriz Paula Hesketh, 21. “O teatro de horror parece mais recente no sentido de oferta, mas é mais antigo do que isso”, pontua Paula.

Nova experiência cognitiva

Separado do espectador apenas por uma caixa, o ator Kenni Rogers interpreta seis papéis diferentes durante toda a apresentação de Jukebox: Volume I. (Fotos: Valsui Júnior)
Separado do espectador apenas por uma caixa, o ator Kenni Rogers interpreta seis papéis diferentes durante toda a apresentação de Jukebox: Volume I (Fotos: Valsui Júnior)

A terceira apresentação da Vigor Mortis, “Jukebox: Volume I”, conta com uma experiência que ressignifica todo o teatro de horror que a companhia teatral criou até hoje. Apenas com o artifício de uma caixa, um ator e oito esquetes, seis espectadores da plateia são convidados a se dirigir ao palco e escolher entre as oito histórias disponíveis. Enquanto o indivíduo escolhido assiste a performance frente a frente com o ator, separados apenas por uma caixa de madeira, a plateia acompanha a peça por meio de uma projeção.

O nome da peça foi atribuída devido às caixas de som norte-americanas em que as pessoas podiam escolher faixas musicais a sua própria escolha. As oito apresentações divulgadas têm inspiração no trabalho do roqueiro Nick Cave, cantor que viveu um curto período de tempo no Brasil e escrevia sobre temas como violência e amor dramático. A estudante de Design e Publicidade e Propaganda Bruna Soffiatti , foi uma das escolhidas para assistir um dos esquetes na frente da caixa. “Foi bem pesado e perturbador. Fiquei bem assustada”, conta. “É uma experiência diferente e ainda mais surpreendente para quem assiste pela primeira vez”, relata a estudante.

Completamente interativa, a peça pressupõe que o espectador sorteado antes do início das apresentações escolha um dos oitos esquetes presentes no palco. (Foto: Valsui Júnior)
Completamente interativa, a peça pressupõe que o espectador sorteado antes do início das apresentações escolha um dos oitos esquetes presentes no palco (Foto: Valsui Júnior)

O idealizador da Vigor Mortis, Paulo Biscaia Filho orgulha-se de a companhia ser uma que a mais tempo permaneceu no mercado teatral. “Nós estamos há 17 anos em atividade e sempre tentamos evoluir a cada nova peça”, comenta o diretor. Junto apenas a uma companhia norte-americana que trabalha com a linguagem do Grand Guignol, a Vigor Mortis sobrevive temporada após temporada com cada vez mais espectadores. “Isso se deve pela persistência na linguagem”, conta Paulo.  “É necessário perceber as possiblidades que a linguagem pode oferecer e querer mesmo explorar isso”, reitera. Quando questionado se vai continuar a produzir peças temáticas de horror, Paulo responde: “Eu tenho um CNPJ pra isso”.

Próximas apresentações

Duplo Homicídio na Chaptal 20: Crime no Manicômio

Terror | Teatro Cine Glóriah – 01/04/2015 18:00 – 02/04/2015 23:00 – 03/04/2015 15:00

Censura: 16 anos | Duração: 45 min | Valor: R$ 48,00

Duplo Homicídio na Chaptal 20: Farol em Fúria

Terror | Teatro Cine Glóriah – 01/04/2015 23:00 – 02/04/2015 15:00 – 03/04/2015 23:00 – 04/04/2015 15:00 – 05/04/2015 18:00

Censura: 16 anos | Duração: 55 min | Valor: R$ 48,00

Vigor Mortis Jukebox Vol.1

Terror | Teatro Cine Glóriah –  02/04/2015 18:00 – 03/04/2015 18:00 – 04/04/2015 18:00 – 05/04/2015 15:00

Censura: 16 anos | Duração: 60 min | Valor: R$ 48,00

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo