O menor palco da Corrente Cultural surpreendeu quem passou pela Travessa Nestor de Castro, no centro de Curitiba, ao longo do último sábado (15). O TUC (Teatro Universitário de Curitiba), localizado na galeria subterrânea que liga a Praça Tiradentes ao Largo da Ordem, recebeu apresentações de vários artistas locais, que encantaram devido à qualidade e a diversidade de estilos.
As apresentações começaram às 11h30 com o grupo Klezmorim. Em seguida foi a vez do coletivo In The Finity subir ao palco e mostrar um pouco da força da cena do hip-hop em Curitiba. A plateia ferveu e transformou o teatro numa verdadeira celebração a cultura de rua, respondendo ao chamado dos MC’s. “A cultura de rua acontece na periferia e é muito forte lá, mas o TUC é fundamental pra que essa cultura atravesse a mídia e chegue ao centro, para quem não é do mundo do rap”, declarou o MC Theo, um dos fundadores do coletivo, que surgiu em 2012.
O TUC abriu espaço para a MPB às 15h30 com a apresentação da cantora, saxofonista e compositora Rafaela Fortunato, que alternou entre canções autorais e clássicos da música popular brasileira, como “Isto Aqui, O Que É?” de Ary Barroso. As atrações com sonoridade mais intimista sofreram com a proximidade da tenda eletrônica do Largo da Ordem. “Perguntei para o segurança onde iria ser a apresentação. Não acreditei que seria possível com tanto barulho”, contou a estudante Sara de Souza Picanço, 22, que assistiu à apresentação do sexteto de saxofones Sopro no Ar.
O catarinense Guto Horn, que está há 16 anos em Curitiba, trouxe um som mais descontraído à galeria e atraiu adultos e crianças para o TUC. “Gostamos bastante, até compramos o CD”, disse o engenheiro Edson Valter, 37, que trouxe a esposa, a sobrinha e os dois filhos para acompanhar a apresentação.
Abrindo as atrações noturnas, a banda Heavy Metal Drama trouxe o rock autoral para a plateia, que não conseguiu permanecer sentada. As melodias atraentes em guitarras distorcidas fizeram muita gente que estava só de passagem entrar – e suar – no teatro sem ventilação. O rock continuou sendo o estilo, porém em forma instrumental e mais contemplativa com o Ruído/mm. A banda que lança seu quarto CD, “Rasura”, contou com a presença de muitos fãs de longa data (o grupo já tem 11 anos de estrada) para lotar completamente o TUC.
Com shows madrugada adentro (a última apresentação terminou próximo das 2h), o Teatro Universitário encerrou sua participação na Corrente Cultural de 2014 com apresentações de Léo Fé e Batucada Reza, Jô Nunes e Mistiguet Live.
Eclético não só durante a Corrente
Criado em 1976, o primeiro Teatro do Estudante do Paraná reunia estudantes em pleno período de Ditadura Militar para apresentações de diversos movimentos culturais. Desde sua criação o teatro se mostrou um espaço de efervescência e experimentalismo para artistas de diversas áreas e gêneros. Rebatizado como Teatro Universitário de Curitiba anos mais tarde e revitalizado em 2008, o TUC mantém seu aspecto experimental e plural sendo palco de estreia para muitos artistas de Curitiba e organizando semanalmente eventos como a Canja de Viola e o Samba do Compositor Paranaense, além de batalhas de hip-hop e shows de punk e metal.
Segundo o Presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, esse é o papel do espaço. “A função do TUC é mostrar as várias linguagens dos artistas locais e proporcionar o encontro da população com os artistas. Quase todos os músicos de renome de Curitiba passaram pelo TUC em algum momento”, explica Cordiolli.
Eventos como a Corrente Cultural e espaços como o TUC favorecem o diálogo e a troca entre os artistas e ajudam a fortalecer a cena musical local, aproximando a arte dos moradores da cidade. Para Guto Horn, o TUC é um espaço incrível e que precisa ser melhor aproveitado. “É muito legal ver as pessoas passando, gostando e ficando. Curitiba precisa encontrar mais seus artistas nas ruas”, diz.
Quem presenciou as apresentações aprova esse encontro. “Adoramos ver os artistas do Paraná na Corrente. Não conhecíamos e nos surpreendemos com a qualidade”, contaram Rejane, 49, e Francisco Mendes, 53. O casal que passava por acaso pela galeria e parou para assistir às apresentações disse que não conhecia o TUC, mas que pretende visitar o espaço mais vezes.