ter 23 abr 2024
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UFPR promove inclusão digital de idosos antes e durante pandemia

Conhecimento do ambiente tecnológico se tornou necessidade para pessoas acima dos 60 anos em isolamento social

A tecnologia tem avançado rapidamente nas últimas décadas. Ela, inclusive, tem ajudado a definir as diferenças de geração, por influenciar as diferentes formas de se relacionar, comunicar, trabalhar, se entreter, entre outras ações que moldam o comportamento. O rápido avanço tecnológico exige também rápida adaptação a essa nova realidade. Para a chamada geração Z, nascidos a partir do começo dos anos 1990, a adaptação tende a ser mais fácil, mas para muitos adultos e idosos trata-se de um processo lento e que exige orientação. Por conta dessa lacuna, foi criado um programa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que visa instrumentalizar idosos no ambiente digital.

Inclusão Digital de Adultos e Idosos (Idai) é um projeto de extensão fruto da parceria da UFPR e do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Apesar de mencionar a inclusão de adultos no nome, a ação passou a atender somente o público idoso acima dos 60 anos, que é a faixa etária que mais procura pelos auxílios do Idai. O foco do grupo de extensionistas, que realiza o trabalho desde 2016, é instrumentalizar os idosos para o uso independente de tecnologias.

O Idai faz parte do departamento de terapia ocupacional da UFPR. Foto: Reprodução/Instagram do projeto.

Idosos cada vez mais conectados

O uso da tecnologia em atividades cotidianas foi potencializado desde o início da pandemia. Trabalhar e estudar em casa se tornaram práticas comuns. Além de escritórios, salas de aula, entre outros ambientes de produção e ensino, salas de cinema, teatro, praças, parques e outros espaços de lazer e cultura também foram fechados ou passaram por restrição. Porém, tudo isso ganhou certa adaptação atrás das telas de computadores e smartphones. Idosos, que são um dos grupos de risco da Covid-19, tiveram que usar a tecnologia a fim de ampliar as possibilidades de comunicação com familiares e amigos.

De 2018 para 2021, o número de idosos acessando a internet teve um aumento de 29%, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas. O levantamento foi realizado pela internet com 414 pessoas acima de 60 anos em todas as capitais do país, e a margem de erro de 4,8 pontos percentuais.

A pesquisa mostrou também que o smartphone é o principal meio pelo qual este público busca se conectar, sendo citado como preferência por 84% dos usuários. Ainda segundo o levantamento, “a principal motivação para acessar a internet é manter-se informado sobre economia, política, esportes e outros assuntos (64%). Outros motivos destacados foram: manter o contato com outras pessoas (61%) e a busca de informações sobre produtos e serviços (54%)”. WhatsApp e Facebook foram as redes sociais mais utilizadas, representando 92% e 85% dos acessos.

Contribuição da universidade

Na UFPR, o projeto Inclusão Digital de Adultos e Idosos realizava o atendimento de forma presencial no campus Jardim Botânico, especificamente no prédio do Departamento de Terapia Ocupacional – curso que promove o Idai. Como conta a coordenadora do projeto, Taiuani Marquine, a pandemia exigiu mudanças no atendimento. “Antes a gente não exigia dos idosos conhecimento algum das plataformas digitais. Agora, como esse aprendizado tem que acontecer por meio da tecnologia, a gente passou a exigir pelo menos o conhecimento do WhatsApp”.

Quando presencial, uma ou duas extensionistas ficavam responsáveis por auxiliar cada idoso. Elas também faziam todo o processo de preparo do material, de elaboração da aula e do ensino da tecnologia. “O maior desafio é ensinar sobre a tecnologia através da própria tecnologia, para uma população que muitas vezes não teve contato com esses dispositivos. Então isso tem sido o maior desafio. A gente tem sentido que muitas pessoas estão ficando sem acesso à participação social, por não ter esse conhecimento”, afirma a coordenadora.

Evelin Wisniewski, de 70 anos, participou do projeto Inclusão Digital de Adultos e Idosos no ano de 2019. A aposentada tinha participado de outros cursos e projetos dentro da UFPR e lá conheceu a ação de inclusão digital. Recentemente, trocou de smartphone e buscou se atualizar em outro programa de capacitação tecnológica, dessa vez oferecido pela Fundação de Ação Social de Curitiba.

“Em relação a esses ‘cursos’, onde aprendemos a trabalhar com qualquer equipamento e instrumento digital, eles só vêm a somar e agregar. Até porque muitas vezes ficamos em dúvida e deixamos de fazer uso por ignorância”, conta a aposentada. Ela ainda relata que, após as orientações, passou a fazer uso de muitos aplicativos e plataformas que ainda não conhecia. Alguns deles Evelin não via necessidade no uso, o que mudou após conseguir ampliar seu conhecimento sobre o dispositivo.

A UFPR, IFRJ e a Fundação Social de Curitiba não são os únicos a oferecer auxílio para este público. A Unidade de Inclusão Digital de Idosos (Unidi) é um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que caminha na mesma proposta da instrumentalização desta parcela da população.

Durante a pandemia, o Idai passou a criar publicações nas redes sociais com dicas e orientações sobre o uso de instrumentos digitais; oficinas online com vagas limitadas; além de posts relacionados ao coronavírus. “E se a gente espera que todas as pessoas sejam independentes para realizar essas atividades. Precisamos não só pensar nos ambientes digitais cada vez mais inclusivos, mas incluir as pessoas para que elas possam participar e se sentirem pertencentes a essa realidade”, enfatiza Taiuani.

Lucas Daniel
Estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR)
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