
Quatro músicos, sentados na disposição de um círculo, e os atores cantando, contam a história de um dos maiores influenciadores da música e cultura brasileira: Luís Gonzaga. A peça, que mais parece um cordel nordestino, fez muito sucesso na sua temporada do Rio de Janeiro e, no último domingo (31), veio para o Festival de Teatro de Curitiba.
Na entrada, muitos conhecem obras clássicas do músico — como Asa Branca — mas poucos conhecem sua história. A maioria veio assistir a peça por ser um musical conhecido e bem abrasileirado. Como Marli Pereira, aposentada, paulista e amante de teatro, que veio para Curitiba só para o Festival. Suas preferidas são as autorais da mostra paralela Fringe, mas “Gonzagão” chamou sua atenção e acabou escolhida pois ela já conhecia o trabalho do diretor, João Falcão, na peça “As Máquinas”.
A musicografia de Gonzaga tem características bem típicas: enquanto umas são alegres, dançantes, perfeitas para um baião a dois; outras trazem de volta a dor do sertanejo, por estar longe de sua família em suas tristes partidas. A peça, com toda sua musicalidade, consegue acompanhar esse ritmo. De forma bem sutil, a história de Gonzaga é contada, mas com o enfoque sempre em sua obra. Cenas intercaladas de alegria, movimento e muita dança podem ser seguidas de momentos tristes, cantados só.
O público não tira o olho do palco e, mesmo com um cenário fixo e alguns objetos para ajudar na contextualização, a história sai bem delineada. Para entender melhor a história do artista, vale uma leitura externa. Os detalhes da sua vida pessoal são tratados com muita delicadeza. Sua relação conflituosa com seu filho Gonzaguinha, por exemplo, é tratada sutilmente.

Uma das explicações para sua história ser contada de forma mais teatral e menos literal é que Gonzagão já se tornou uma lenda brasileira. As biografias não batem, histórias pequenas não necessariamente são verdade e ele já se tornou o que o público quer ler das suas músicas. Por exemplo, uma das cenas que o músico participa de um repente com Lampião. É a batalha do Rei do Baião com o Rei do Cangaço.
Foi aproximadamente uma hora de espetáculo, que o público fez jus com quase cinco minutos de aplausos em pé. Gonzagão ficaria orgulhoso de ver novas gerações conhecendo e prestigiando suas obras através de uma peça tão bem desenvolvida.