O Narguilé é um cachimbo a base de água. O princípio é simples: a fumaça deve passar pela água (ou líquido utilizado) antes de ser fumado. De origem oriental, esse ato de fumar usando essências de diferentes sabores se popularizou entre os jovens brasileiros. Quase 300 mil pessoas no país consomem o Narguilé, segundo a Pesquisa Especial sobre o Tabagismo (PETab), realizada em 2008 pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em Curitiba o cenário não é diferente. A cidade é a capital brasileira com o maior índice do uso de derivados do tabaco – exceto o cigarro – entre os adolescentes. Divulgada ano passado pelo IBGE, a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) revelou que 14,4% dos estudantes de Curitiba afirmaram ter usado algum produto derivado do tabaco, principalmente o Narguilé, nos 30 dias anteriores à pesquisa. O resultado foi três vezes maior que o da média nacional, 4,8%. Em Curitiba, foram entrevistados 2.153 alunos de 43 escolas públicas e particulares para a pesquisa.
Para a coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Cláudia Weingaertner, a popularização do Narguilé está interligada ao seu aspecto de socialização. “Podemos dizer que virou moda entre os jovens, e como é algo que se pratica em grupo, a aceitação do jovem dentro de um grupo também está em jogo”, afirma a coordenadora.
Como funciona?
Foi com os árabes que o Narguilé foi incorporado com o intuito que se é utilizado hoje pelos jovens, como um cachimbo a ser compartilhado em grupo. No Brasil, ele foi trazido pelos imigrantes europeus e disseminado por colônias turcas, judaicas e libanesas. Nesses tempos, as peças ainda eram primitivas, feitas de madeira e coco.
O Narguilé funciona como um cachimbo, onde o tabaco é queimado e a fumaça passa por um filtro de água antes de ser aspirado por meio da mangueira, geralmente, por um grupo de pessoas compartilhando uma sessão. Os aromas agradáveis disfarçam o cheiro da fumaça e levam os usuários a pensarem que essa forma de consumo de tabaco seja menos prejudicial. Ele é composto da seguinte maneira:
- Fornilho: se encontra no topo, é uma tigela de barro ou metal, onde se coloca o fumo e serve como apoio para o carvão em brasa;
- Corpo: é por ele que a fumaça aquecida passa em direção à base para ser resfriada e filtrada;
- Base ou Vaso: peça principal do Narguilé. É onde se armazena a água (entre outros líquidos, não se deve usar líquidos inflamáveis) que resfria a fumaça;
- Mangueira: sai do corpo Narguilé. Através dela se aspira a fumaça em direção ao bico, ou piteira. Pode haver mais mangueiras, como quando fumado por várias pessoas em uma sessão.
Narguilé x Cigarro
Fumar Narguilé pode parecer menos nocivo à saúde do que o cigarro, mas estudos do Inca afirmam que participar de uma sessão de aproximadamente uma hora de Narguilé equivale a consumir cerca de cem cigarros. Isso se deve ao fato do fumante ficar exposto à inalação de fumaça, sem nenhum tipo de filtro, por um período superior ao do consumo de um cigarro.
Segundo o pneumologista Marcelo Tuleski, em razão da maior exposição às substâncias tóxicas e à quantidade de fumaça excessiva, o Narguilé é sim mais nocivo que o cigarro. “A adição de ‘aromas’ pode até enganar quem fuma o Narguilé, mas em uma sessão o fumante inala uma quantidade maior de fumaça”, analisa o pneumologista.
Além de utilizar o tabaco, assim como o cigarro, o Narguilé contém nicotina e outras 4.700 substâncias tóxicas, além do carvão em brasa, que produz substâncias cancerígenas. “Análises comprovam que a fumaça do Narguilé contém quantidades superiores de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e outras substâncias cancerígenas, como o benzeno”, complementa Tuleski.
Para o pneumologista Ricardo Alves, a diferença entre o consumo de cigarro e Narguilé é o tempo de exposição e a quantidade de fumaça inalada. O fumante passivo do Narguilé também é mais prejudicado do que o do cigarro. “Mesmo que você não esteja tragando no momento, mas está em contato com a fumaça, no grupo, a fumaça é prejudicial e mais tóxica do que a do cigarro, com metais mais pesados”, afirma a coordenadora Cláudia Weingaertner.
Os efeitos do consumo
Segundo Cláudia Weingaertner, o problema do Narguilé não está apenas no fumo do tabaco, mas também, por exemplo, na biqueira que passa de uma boca para outra durante uma sessão, sem higienização.
Os efeitos do consumo de Narguilé sobre a saúde são diversos e derivados do tabaco. Em longo prazo, Marcelo Tuleski avisa que essa prática pode causar diversos tipos de câncer, enfisema, doenças circulatórias (infarto, derrame, trombose), úlcera, entre outras. Há também o risco de transmissão de doenças infecciosas, já que é compartilhado sem qualquer esterilização. Ricardo Alves afirma que a curto prazo a fumaça em excesso pode provocar irritação das vias aéreas e provocar sintomas como tosse, pigarro e irritação nasal. “A grande preocupação é que o uso do Narguilé possa provocar a dependência nicotínica e com esta, fazer com que o indivíduo acabe por tornar-se um tabagista habitual”, finaliza Alves.
Assim como os produtos de derivados de tabaco, a venda de Narguilé é proibida para menores de dezoito anos, mas essa medida não parece ser totalmente efetiva, como afirma a coordenadora de Tabagismo. “Não temos um controle rigoroso da situação, porque assim como menores conseguem que alguém os compre cigarro, eles conseguem o mesmo com o Narguilé”, aponta. Em 2013, campanhas, como a do Ministério da Saúde para o Dia Nacional de Combate ao Fumo, procuram alertar adolescentes e jovens quanto aos malefícios do Narguilé, visando prevenir a experimentação e iniciação desta faixa etária da população brasileira.