A chuva de dezembro não espantou o público da 21ª Jornada de Agroecologia. Crianças e suas famílias presentes na Feira da Agrobiodiversidade durante os últimos dias do evento se acomodaram debaixo da barraca mais fervorosa da Jornada, onde a Cia Mirabólica aqueceu o público com a palhaçaria.
Tem mamulengo em Curitiba?
O espetáculo apresentado foi “Tem mamulengo aqui!”, a história de amor do vaqueiro Benedito com Rosinha, filha do coronel João Redondo, cuja terrível cobra tenta separá-los. O diferencial do espetáculo são os diálogos diretos dos personagens com os palhaços e com o público. “Desde o início já acreditávamos que essa é a ferramenta mais potente para acessar as pessoas”, conta Luz Medeiros, atriz-palhaça e contadora de histórias que, em 2014, junto ao palhaço Ronaldo Pituim, fundou a Cia Mirabólica.

O espetáculo apresentado foi “Tem mamulengo aqui!”, a história de amor do vaqueiro Benedito com Rosinha, filha do coronel João Redondo, cuja terrível cobra tenta separá-los. O diferencial do espetáculo são os diálogos diretos dos personagens com os palhaços e com o público. “Desde o início já acreditávamos que essa é a ferramenta mais potente para acessar as pessoas”, conta Luz Medeiros, atriz-palhaça e contadora de histórias que, em 2014, junto ao palhaço Ronaldo Pituim, fundou a Cia Mirabólica.
Na encenação são retratadas e discutidas relações de poder, trabalho e culturalidade. “Não é só uma representação”, afirma Luz. “Com esse teatro acontece um processo de representatividade”. O ator, palhaço e contador de histórias Ronaldo Pituim chama atenção ao protagonista do espetáculo: “O Benedito é um herói, a ideia de que o negro pode ser o protagonista e o herói da própria história”, explica.

O Mamulengo – derivado de “mão molenga” que veste a luva – nasceu no Nordeste, dentro das senzalas como um movimento de resistência, reconhecido pelo Iphan como patrimônio cultural imaterial do Brasil em 2015. “Assumimos o papel de fazer a vanguarda desse trabalho”, afirma Medeiros. “As pessoas chegam, veem o cenário montado e já enxergam o mamulengo”. O ator-bonequeiro explica o título do espetáculo: “A gente quer dizer que tem mamulengo aqui também, esse patrimônio também é nosso e as pessoas precisam conhecer”.
Riso para a luta
“O riso é uma forma de manifestação humana. Quando perdemos a nossa capacidade de rir, perdemos a nossa humanidade”, pontua Pituim. O ator-palhaço reforça que o fortalecimento do neoliberalismo expressa uma tentativa de tirar do povo o direito ao riso. “O corpo que não brinca, o corpo que não ri, é o corpo fácil de controlar”, explica.
“O corpo que não brinca, o corpo que não ri, é o corpo fácil de controlar”
– Ronaldo Pituim, ator-palhaço
O espetáculo conta com diálogos fervorosos entre os personagens Palhaço da Vitória e coronel João Redondo, o qual, na tentativa de oprimir, vira motivo de piada. “Queremos rir do lado do oprimido, a gente quer rir da cara do opressor”, conclama Pituim. “Se eu posso rir dele, ele não está acima de mim”.

Adulto pode brincar?
“O capitalismo nos diz que brincar é coisa de preguiçoso e esses brinquedos foram jogados no chão. Quem os resgatou? As crianças”
– Ronaldo Pituim, ator-palhaço
A atriz-palhaça Luz relata que a palhaçaria é muito associada à infância, mas sua intenção é acessar cada vez mais territórios com pessoas adultas. “Justamente para despertar a humanidade dessas pessoas, trazer percepções e reflexões sobre a sua existência, sobre o seu lugar no mundo e sobre os nossos processos de reexistência”, afirma.

Ficha técnica
Reportagem e edição: Luiza Yasumoto e Beatriz Deschamps
Orientação: Cândida de Oliveira