qua 30 abr 2025
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Escravidão moderna é encenada em espetáculo no Festival de Curitiba

Mel de Laranjeira tem enredo dramático que denuncia o sofrimento de quem se encontra em situação análoga à escravidão na contemporaneidade

Anualmente, Curitiba vive duas semanas de muita arte nos palcos e ruas da cidade. Em 2025, entre os dias 24 de março e 6 de abril, a capital paranaense recebe a 33ª edição do Festival de Teatro de Curitiba, o maior evento da segunda arte na América Latina. De acordo com a organização, os espetáculos atraem um público de mais de 200 mil pessoas por ano.

Assim como toda forma de arte, o Festival levanta temas de debate social. Entre essas questões, a representação da luta pela garantia dos Direitos Humanos nas apresentações reflete a busca por inclusão, respeito e dignidade a todas as pessoas, sem distinção. Entre as 350 atrações que compõem a programação desta edição do Festival de Curitiba , nove (2.5%) peças, seis (1.7%) mostras, e três (0.85%) eventos do circuito independente são focados em temáticas relacionadas à reivindicação da dignidade humana. Além disso,  outras apresentações não centradas na temática dos Direitos Humanos  conversam com a inclusão e  o respeito. Ao retratar experiências minoritárias, como de mulheres, da comunidade LGBTQIA+ e de pessoas com deficiência, o evento se mostra preocupado com o direito fundamental à igualdade.

FRINGE

A Mostra Fringe é aberta, apresentada por companhias profissionais e estudantes de teatro, circo, música, dança e performances de todo Brasil, assim como de outros países. Nela, programações especiais apresentam conceitos, temas ou repertórios propostos por coletivos para reflexão da produção de artes cênicas contemporâneas.

SEM CHICOTES, MAS NÃO INVISÍVEL

“A escravidão ainda existe! Aparentemente sem um pelourinho e chicotes, porém em uma escravidão moderna e bem disfarçada, sobrevivemos em um país com um povo de bom coração e outros cheios de malícias de exploração”, enuncia a sinopse – e trecho inicial– da peça Mel de Laranjeira, uma das obras da Mostra Fringe.

Espetáculo Mel de Laranjeira. Foto: Flavia Cé Steil.

O espetáculo é produzido pela Alldeias, uma trupe teatral curitibana. Através da música e atuação, o elenco aborda a escravidão moderna e provoca a plateia com uma narrativa dramática e emocionante da vida de trabalhadores explorados. A diretora Karen Novaes comentou, em entrevista, que o foco da narrativa conversou e tocou os integrantes da companhia de artes cênicas e por isso foi escolhido para ser trabalhado. “É uma grande oportunidade de falar sobre um tema tão recorrente na vida em sociedade”, disse a diretora. “O Festival abrange um público muito grande e é importante levar esse tema para tantas pessoas”, ressaltou. 

Segundo dados do Global Slavery Index, elaborado pela fundação Walk Free, no Brasil, cinco a cada mil pessoas vive em situações análogas à escravidão. Isso coloca o país em nonagésimo primeiro lugar no ranking mundial da escravidão moderna. 

Fotolegenda:  Vulnerabilidade à escravidão moderna por país. Elaborado por: Walk Free. Disponível em: https://www.walkfree.org/global-slavery-index/map/#mode=map:map=prevalence:year=2023:view=countries 

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, manter pessoas em regime de escravidão, como situações em que uma pessoa é submetida a trabalhos forçados, jornadas exaustivas ou condições degradantes de trabalho é uma violação dos direitos fundamentais da pessoa humana.

FESTIVAL ALÉM-FRONTEIRAS

Todas as apresentações do espetáculo Mel de Laranjeira serão no Teatro Municipal José Carlos Zanlorenzi, em Campina Grande do Sul, cidade da Região Metropolitana de Curitiba. O assessor da Secretaria de Educação da cidade, José Antônio, relatou que a expansão do Festival para além das fronteiras de Curitiba é essencial. “Essa extensão do Festival para fora do eixo Curitiba é fundamental para que mais pessoas tenham acesso aos espetáculos. Além disso, é uma forma do Festival abranger mais, tomar mais volume e espaço fora da capital”, destacou o assessor.

Dois dos atores da peça, Lucas de Paula e Wandy Willians, já retratam a RMC em outra produção. O filme de produção independente “Dois Caipiras em Colombo” conta a história de Cráudio e Chiquinho, dois caipiras que deixam o interior em busca de uma vida melhor na cidade grande de Colombo e já conta com mais de 1.8 milhão de visualizações no YouTube.  Lucas de Paula destacou a importância da representação de outras cidades, além das capitais, nas obras artísticas. “A gente pode fazer com que as pessoas venham ao teatro, venham ao cinema, cada vez mais quando elas vêm a cidade onde moram passando num filme. A cidade faz parte do espetáculo e o lugar, os artistas e os moradores trabalham juntos para que o espetáculo aconteça”, comentou o ator.

Reportagem em vídeo com depoimento de atores

Na estreia de Mel de Laranjeira, no dia 03 de abril, colégios da rede pública de Campina Grande do Sul levaram os estudantes do ensino fundamental para prestigiarem a chegada do espetáculo à cidade. Rostinhos impactados e chorosos não faltaram entre a criançada, que sentiu o peso da temática da peça. A atriz Laura Williams relatou a experiência de transmitir uma mensagem difícil aos pequenos, ressaltando o que todos são convidados a participarem das apresentações da trupo Alldeias. “A gente não limita os temas pelo público que irá assistir. Gostamos de apresentar e deixar aberto para que a criança, o adulto, o jovem, o velho interprete à sua maneira. A diferença é na recepção, por quais lentes o espectador vai ver esse espetáculo”, afirmou.

Espetáculo Mel de Laranjeira. Foto: Flavia Cé Steil
Reportagem sobre a participação do público infantil na peça

FICHA TÉCNICA

Título: Mel de Laranjeira 

Direção: Karen Novaes 

Texto: Jonathas Novaes 

Luz e Som: Jonathas Novaes 

Figurino: Laura siza

Cenário: Wandy Willians

Elenco: Laura siza, Luiza Wilt, Bruna Simões, Melissa Albuquerque, Maria Clara, Vitor Pacheco, Lucas de Paula, Wandy Willians e Ryan Gustavo.


Reportagem por Flávia Cé Steil e Izabel Forquim

Revisão: Pietra Hara

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