sáb 19 abr 2025
HomeCulturaCamaradas: acreditar é essencial para manter a ordem

Camaradas: acreditar é essencial para manter a ordem

Por Ana Beatriz Rocha e Rafael Maldonado

A peça Camaradas, vinda de Maringá, e apresentada no Festival de Curitiba, propõe uma reflexão sobre o controle social e os limites da liberdade individual em um regime totalitário. Com uma narrativa provocadora, o espetáculo questiona até onde a manipulação de uma sociedade pode moldar a realidade.

A trama começa com uma pergunta simples: “Quanto são dois mais dois?” A resposta parece óbvia, mas, à medida que o protagonista responde “4”, ele sofre um choque elétrico, um castigo para corrigir sua resposta. A partir desse momento, o personagem é forçado a se submeter à imposição de uma nova “verdade”, até que ele finalmente aceite que “2 + 2 = 5”.

Este é “O Procedimento”, representando o poder absoluto do regime de controlar a realidade, para que todos se alinhem à narrativa oficial. Todos os cidadãos são submetidos. Os que se recusam ou escapam – chamados “Indomesticáveis” – são perseguidos, silenciados e eliminados. A ambientação ajuda a contar a história. Com apenas um ator, o espetáculo utiliza vários recursos audiovisuais como projeções e monitores que cercam o protagonista e a plateia, além do esquema de iluminação e objetos de cena.

Público com máscaras, fazendo parte da peça “Camaradas”. Foto: Ana Beatriz Rocha.

Ao iniciar o espetáculo, 40 máscaras são distribuídas entre os espectadores, que, mesmo que de forma passiva, se tornam parte do cenário totalitário. Eles simbolizam a submissão da sociedade ao controle do Partido, sendo testemunhas da transformação forçada. No decorrer da performance, os espectadores são instruídos a movimentar as cadeiras em diferentes configurações conforme a posição das cenas.

O espetáculo que teve como inspiração o livro “1984” de George Orwell, despertou a curiosidade de alguns espectadores, como foi o caso de Isac Kempe, 22, estudante de teatro, “Eu conheço um pouco do texto do Orwell, então eu fui querendo ver o que ia ser essa brincadeira, e acho que eles jogaram muito bem. Foi uma loucura, foi diferente ter que mexer as cadeiras, mas foi muito legal.”, disse.

 Leonardo Fabiano, ator principal da peça “Camaradas”. Foto: Ana Beatriz Rocha.

Para Leonardo Fabiano, produtor e protagonista da peça, esse foi o espaço para mostrar que a arte também é política, “Eu acho que a arte é coletiva, mesmo não escolhendo um lado, é político. Porque é para as pessoas, e feito com pessoas. Então eu acho muito bom a gente poder colocar o que a gente acredita e se expressar da nossa maneira, […] foi muito legal ter feito isso, dado um brincada com uma coisa política não tão escancarada.”, conclui o ator.

Apesar de ser uma peça política, o diretor e dramaturgo Fernando Ponce não se atreve a afirmar que Camaradas traz respostas definitivas, mas sim provocações. “Seria muita ambição da nossa parte propor reflexões, é a nossa tentativa, mas a gente não sabe como isso vai ser efetivo. Acho que o nosso papel está muito mais em criar certos questionamentos, certas interrogações, do que o que cada espectador faz a partir disso.”, afirma Ponce.

Em um contexto de incertezas, a peça nos leva a refletir: será que, diante do cenário atual, conseguimos provocar mudanças, ou estamos apenas repetindo ciclos de opressão?

Revisão do texto: Pietra Hara

CONFIRA OS DESTAQUES DA PEÇA

Principais momentos do espetáculo “Camaradas”. Imagens e edição: Ana Beatriz Rocha.

Ficha técnica

Diretor, dramaturgo e assistente de produção: Fernando Ponce

Atuação e produção: Leonardo Fabiano

Operadora de vídeos: Bárbara Bittencourt

Assistente técnica: Vitória Campanari

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo