Por: Valentina Copack
Mesmo sendo uma cidade relevante para a história da animação no Brasil, a falta de incentivos na década de 80 atrasou os animadores de curitibanos em relação a outras regiões do país. Em um mercado competitivo, principalmente em comparação aos estúdios internacionais, Curitiba se destaca cada vez mais na produção de desenhos animados.
A história entre a cidade e as produções animadas não é recente. O maior exemplo dessa relação de longa data é o grupo curitibano, “Irmãos Wagner”, formado por Ingrid Marie, Elizabeth Elze, Rosane Edith e Helmuth Jr, filhos do fotógrafo Helmut Wagner. O trabalho do grupo iniciou nos anos 70 e logo se destacou, sendo uma de suas produções mais conhecidas o filme “Pudim de Morango”, censurado durante a ditadura militar. Os irmãos foram homenageados na bienal “Traços Curitibanos”, em 2024, com a reprodução de seus filmes na Cinemateca.
Ainda que a capital paranaense tivesse a presença de animadores importantes como os Irmãos Wagner, Curitiba foi deixada de lado nos primeiros grandes incentivos nacionais para a animação. Na década de 70, a Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME), iniciou uma parceria com o National Film Board of Canada (NFB), uma instituição canadense especializada em desenhos animados, com animadores e equipamentos profissionais. Essa união iniciou um programa de intercâmbio de animadores desses dois países.
O projeto resultou em 1985 no primeiro núcleo de animação em um CTAv (Centro Técnico Audiovisual), no Rio de Janeiro, voltado à formação de animadores. A iniciativa expandiu-se para Fortaleza, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas não chegou a Curitiba, o que dificultou o fortalecimento do setor local.
Curitiba nas Telas
Mesmo com dificuldades, profissionais curitibanos conseguiram recuperar o prejuízo. Paulo Munhoz é um dos fundadores do estúdio Tecnokema, um dos locais de destaque na produção de séries e filmes animados. O artista e empresário se destaca no mercado de animações, principalmente pelo longa-metragem, “Brichos”, e a continuação, “Brichos 2 – A Floresta É Nossa”, vencedora do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2013.

Paulo Munhoz também é idealizador do Animatiba (Festival Internacional de Animação de Curitiba). O evento seleciona, exibe e premia filmes de 110 países, incluindo longas e curtas-metragens dos mais diversos estilos de animação, que atraem cerca de 2 mil espectadores por edição. A iniciativa começou em 2019, e de acordo com Munhoz, a curadoria “busca ter uma representatividade de todo o planeta, (…) além dos países que já são fortes”. Apesar de existir essa preocupação com a representatividade global, tradicionalmente, o evento seleciona artistas da cidade para animarem as aberturas do site e escolhe um filme curitibano para iniciar o festival.
“Ao mesmo tempo que a gente tem essa estratégia de trazer o estado da arte internacional e o estado da arte brasileira para ser mostrada, a gente tem o cuidado também de valorizar o pessoal daqui.” Relata Munhoz
De acordo com um levantamento de 2025, liderado pelo animador Walkir Fernandes, o mercado das animações traz um retorno socioeconômico importante para a cidade. As informações divulgadas a partir do teaser “A força da animação curitibana”, revelam que Curitiba arrecada anualmente 8 milhões de reais a partir da prestação de serviços em animação, muitas vezes para empresas internacionais como a Disney. Ao ano, também são empregados mais de 160 funcionários para trabalhar em estúdios profissionais.
“As animações marcaram minha vida, aprendi muitas coisas novas e vivi muitos momentos divertidos”, cita a estudante, Daniella Dallarmi Gil, que desde a infância possui uma conexão afetiva com animações. Entre todos os desenhos animados que já assistiu, Daniella relembra de um curitibano: a animação “Carlos”, produzida pela empresa “Spirit Animation”. A série infantil conseguiu se destacar para além do Brasil. A ausência de diálogos nas histórias facilitou a exibição internacional, sendo distribuídas em diversos países do continente americano e asiático.
Para conhecer mais
Atualmente, alguns dos estúdios que se sobressaem na cidade são o Tecnokema, Dogzilla Studio e o Spirit Animation. Uma característica importante de estúdios de animação é que muitas vezes a produção não é essencialmente de uma só empresa. Levando em consideração o alto custo de produção de um desenho animado, é comum que mais de um estúdio (que podem ser até mesmo de países diferentes) trabalhem juntos para concluir um projeto. Veja a seguir uma lista de animações com um toque curitibano:
- Brichos (2007) – Tecnokema
- Brichos, A Floresta é nossa (2012) – Tecnokema
- Carlos (2014) – Spirit Animation
- Menino Maluquinho (2022) – Dogzilla e Birdo Studio
- Carrapatos e Catapultas (2011) – Dogzilla Studio
Editado por: Gabriel Schroeder Vitória Panza


