ter 11 nov 2025
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A Bienal do Livro do Paraná que não aconteceu 

Evento anunciado como o maior encontro literário do Sul do Brasil é adiado para 2026 e deixa público e convidados sem respostas

Por Murilo Ferreira e João Pedro Mello 

Anunciada como “o primeiro maior evento do livro, da leitura e das bibliotecas do Sul do Brasil”, a Bienal do Livro do Paraná estava marcada para ocorrer entre 29 de setembro e 5 de outubro de 2025, em Curitiba. A expectativa era alta: cerca de 150 autores nacionais e internacionais, quase 40 editoras e nomes conhecidos da literatura e da comunicação, como Pedro Bial, Thalita Rebouças, MV Bill, Itamar Vieira Júnior e Mia Couto. Porém, a grande estreia do evento acabou não acontecendo. 

O público foi surpreendido no dia 5 de outubro, a apenas cinco dias do início, com o anúncio de adiamento para uma data indefinida em 2026. Segundo nota oficial publicada no Instagram do evento, os motivos seriam “questões operacionais e logísticas, somadas às condições climáticas adversas registradas na última semana”. 

Para a comunidade leitora, entretanto, o sentimento foi de frustração. O curitibano Demerson Comin, que havia adquirido ingresso antecipado, relata que estava ansioso para participar. “As expectativas eram as melhores possíveis. Estava muito empolgado, tanto que comprei ingresso mesmo sem ter noção de qual seria a programação, só para garantir a vaga, porque era um evento que não dava para perder”, afirma. Ele lamenta o desfecho: “O adiamento, na verdade, é sinônimo de cancelamento. A Bienal não vai acontecer, pelo menos não com esses organizadores.” 

A organização, liderada pela empresa Cocar Produções Editoriais, enfrentou uma série de impasses ao longo do planejamento. Em março de 2025, uma reportagem do site PublishNews revelou que o projeto havia sido arquivado na Lei Rouanet por uma irregularidade na ficha técnica: o nome de uma produtora que já havia deixado a equipe permanecia listado. 

A jornalista Luciana Nogueira Melo, do portal Plural, acompanhou o caso. “Uma das produtoras já havia se desligado da equipe, e o projeto foi apresentado com o currículo dela na ficha técnica”, explica. Segundo ela, a ex-produtora entrou em contato com o Ministério da Cultura pedindo a retirada do nome, o que levou ao arquivamento do projeto. “O projeto foi arquivado e precisou ser reapresentado. Ela clonou o projeto, retirou o currículo dessa pessoa e apresentou novamente”, completa Luciana. 

Mesmo após a reapresentação, o processo enfrentou entraves. Pela plataforma da Lei Rouanet, a conta do projeto estava bloqueada desde maio. Ainda assim, a Bienal divulgou vários patrocinadores, mas sem regularização, esses apoios não poderiam existir. Além disso, instituições públicas como a Prefeitura de Curitiba e a Secretaria Estadual da Cultura foram citadas como apoiadoras, mas, segundo o Plural, não houve parceria oficial. “Ela divulgou apoios de órgãos públicos que dão credibilidade ao evento. Nenhuma dessas instituições apoiou”, conclui a jornalista. 

Outro episódio que levantou questionamentos foi o uso indevido de nomes na programação. O jornalista Rogério Galindo, um dos diretores do Plural, teve seu sobrenome incluído sem autorização. “Anunciaram na programação alguém chamado ‘Professor Doutor Galindo’, sem nome completo. Meu irmão, que também é professor, ficou preocupado e entrou em contato pedindo explicações. Depois, disseram que o convidado era o ‘diretor do plural’, mas eu nunca fui chamado nem aceitaria”, esclareceu. 

A mudança de local do evento, do Viasoft Experience para o Jockey Club do Paraná, também causou estranhamento. O novo espaço tinha quase metade do tamanho do local original. Em entrevista à Folha de S.Paulo, a produtora Lis Alves, representante da Cocar Produções, afirmou que a alteração ocorreu por dificuldades no repasse de verbas da Lei Rouanet. 

Apesar do adiamento, a conta oficial do evento no Instagram segue ativa, prometendo novas informações sobre a reestruturação e a possível realização em 2026. Até o momento, contudo, não há confirmação de data, local ou nova lista de atrações. 

Enquanto isso, o público aguarda respostas sobre o futuro da Bienal e o ressarcimento dos ingressos. A promessa de um dos maiores eventos literários do Sul do Brasil, ao menos por enquanto, permanece apenas no papel. 

O Jornal Comunicação tentou contato com Lis Alves e Cocar Produções e não teve respostas. Mais informações podem ser divulgadas no perfil do Instagram @bienaldolivroparana. 

Confira a reportagem especial completa no Spotify do Jornal Comunicação.

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