O ato de contar histórias é, para muitos especialistas, uma das maneiras mais eficazes de incentivar a leitura ainda na infância. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2011, ver o adulto ler – para si ou compartilhando histórias – faz com que a criança tenha vontade de mergulhar nos livros.
De acordo com a doutoranda na área de estudos literários Deisily de Quadros, o papel do adulto é mediar a relação entre a criança e o livro. “Quanto mais cedo ele começar a contar história para a criança, maior é a chance de ela se tornar um leitor no futuro. Por isso a função da escola e da família é promover esse incentivo, levando os pequenos à biblioteca ou compartilhando narrativas”, afirma a especialista.
É através desse contato que a criança aprende sobre novas maneiras de pensar o mundo. A escritora de Literatura Infanto-juvenil e contadora de histórias Marilza Conceição explica que quem ouve um conto se depara com um mundo novo. “Algumas crianças chegam a questionar o contador dizendo ‘mas você não é a bruxa’. De repente, tudo o que elas conhecem fica desestabilizado. Elas tiram as dúvidas para ter certeza de que podem pisar nesse novo terreno”, completa. Segundo Conceição, elas “caem na teia” da imaginação.
O poder de Chapeuzinho Vermelho
Ainda de acordo com a escritora, os contos de fadas são os tipos de história que mais enriquecem a formação infantil. Narrativas como a da Chapeuzinho Vermelho ou da Branca de Neve colaboram com a constituição da psique e ajudam na passagem de fases.
“Quando o lobo fala ‘a boca grande é para te comer melhor’, as crianças se assustam. Esse pequeno susto contribui para que elas encontrem novas saídas para situações de perigo. E esse é um ótimo exercício”, diz a contadora de histórias. “A contação, acima de tudo, é um momento de aprendizagem e de encantamento para a infância. E nós, adultos, temos o dever de proporcionar isso”, finaliza.
As aventuras de Mimi
Há um ano, a contadora de histórias Maria Lúcia de Faria – “Mimi” para as crianças – apresenta lendas indígenas e africanas para o público infantil. Ao narrar suas aventuras, Maria Lúcia deseja resgatar os pequenos do estresse diário. “A contação leva a fantasia aos ouvintes. Eles saem de um lugar atordoado e entram em um mundo mágico. Isso estimula a busca por livros”, afirma.
Maria Lúcia comenta que há vezes em que as crianças voltam para pegar o mesmo livro usado na contação. Apesar disso, ela defende que o retorno não significa uma mudança imediata do comportamento em relação à leitura. “O incentivo funciona a longo prazo. É só com o tempo que ler se torna prazeroso para a criança. Não hábito, porque essa é uma palavra mecânica, mas prazer mesmo”, explica.
As histórias preferidas das crianças, segundo a contadora, são as mais impactantes – aquelas que prendem a atenção. “Eu percebo que algumas crianças chegam a limpar alguma lágrima do olho durante a contação de O Menino e o Tuim, de Rubem Braga. Elas realmente querem saber o que vai acontecer com o passarinho”.
Influência dos pais
Alisson Samuel tem apenas seis anos de idade mas não dispensa uma boa leitura. “Ler é tão bom porque eu aprendo mais. Leio quase todos os dias, só às vezes prefiro jogar videogame”, conta o menino. Os livros preferidos de Alisson são os do camundongo Mickey e do Peter Pan, além dos gibis da Turma da Mônica.
A mãe, Ketlyn, diz que contar histórias para o filho ajudou a desenvolver o gosto dele pela leitura. “Antes eu sempre lia para ele. Acho que isso contribuiu muito para despertar o interesse pelos livros. Se os meus pais tivessem feito o mesmo quando eu era criança, talvez agora eu tivesse mais vontade de ler”, confessa.
Serviço
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
com Cinthia Lago
Data: 29 de janeiro
Classificação: 5 a 10 anos
Horário: 14h30
Local: Casa da Leitura Hilda Hilst
Ingresso Gratuito