Por Flavia Keretch e Maria Regina Guimarães
No dia 30 de março, a peça “Amma Circo Show” estreou na mostra Fringe da 33ª edição do Festival de Teatro de Curitiba. Com sua primeira exibição ainda em 2021, a obra é o segundo trabalho do repertório da AMMA Companhia de Teatro, grupo artístico de Londrina (PR). O espetáculo, exibido em 2025 na praça Santos Andrade, acompanha os palhaços Furebo e Pinduca, que compartilham com o público situações de uma recém fundada companhia de teatro e circo, cativando a plateia com música, dança, interações com o público e muita risada. A peça é livre para todas as idades e conta com um intérprete de libras.
A AMMA Companhia de Teatro surgiu em 2018, a partir do desejo dos dois artistas de se aventurarem na palhaçaria e na arte drag. “Ao mesmo tempo que parecem artes muito distintas, tem muitas semelhanças” diz Adalberto Pereira, ator e um dos fundadores da companhia. O ator explica que assim como se identificam com a palhaçaria, também bebem muito do “Drag Comic” — vertente que une drag com comédia. Nany People e Vera Verão são algumas das referências citadas pelos atores da companhia. “A gente começou esse trabalho sem ter muito entendimento de Drag, hoje a gente entende como Drag, mas antigamente eram personagens de um espetáculo que a gente tinha.”, explica André Demarchi, também ator e o outro fundador da companhia.
O que é a arte drag?
Drag Queen ou King seria o artista que se veste, de maneira caricata, conforme o gênero escolhido, para fins artísticos ou de entretenimento. O professor e diretor de teatro, Rafael Pedretti, comenta que a arte drag tem um impacto completamente diferente por ser uma arte de resistência. Para ele, ela “tem o potencial político de questionar esses padrões de gênero, trazendo essas diferenças para nós como possibilidades de vida”.
Ele explica que hoje existem mudanças e possibilidades mais ousadas dentro da arte drag como o drag king, quando mulheres performam suas drags na versão masculina, ou ainda as drags andróginas. Para Pedretti, a arte da palhaçaria também é um lugar de luta. “Até pouco tempo atrás existia um olhar com certo preconceito em relação ao circo especificamente”, afirma o professor.
A palhaçaria é uma arte muito difícil de executar e que demanda muito estudo. “Descobrir o seu palhaço é um processo imenso, descobrir quais serão os traços de maquiagem”, explica o professor. “A maquiagem de um palhaço é como nossa digital do dedo, ela é única. Ninguém tem igual”, afirma Pedretti.
Adalberto e André relatam que a criação de suas personagens Drags “Xandra” e “Andréia” surgiu da ideia de satirizar o padrão da mulher branca, loira e correta, além de brincar com a sexualidade. Embora “Amma Circo Show” seja uma peça dos palhaços Furebo e Pinduca, os atores confirmam que a performance também flerta um pouco com a arte Drag.

Opinião do público
Para a espectadora Mara Cristina Miranda Gomes, 46, a peça foi muito divertida. Ela afirma que gostou da mesclagem do teatro com o circo e com a comunidade LGBTQIA+. “Não é pesada, o que é uma característica boa tanto para adultos quanto para crianças… Tem uma pegada muito de ingenuidade que remete a infância e uma pitada de algo provocativo, essa misturinha é gostosa”. Já Eder José Firmino, 42, gostou muito da interação com o público. “Esse é um diferencial, essa é a melhor parte para mim”.
