Eduardo Nascimento, conhecido em Antonina como Bó, é professor aposentado do Departamento de Design da UFPR e nasceu em Antonina. Além do trabalho que realiza fotografando a cidade, Nascimento é dono de uma agência de turismo e presidente da Associação de Empreendedores em Serviços de Turismo de Antonina. Ele conta que a paixão pela cidade sempre fez com que vivesse por perto. “Eu sempre mantive uma relação forte com a cidade, o máximo que eu consegui foi viver um ano em São Paulo, enquanto fazia o mestrado em Comunicação e Semiótica”.
O amor que Nascimento dedica à cidade nem sempre é recompensado. “Curitiba é a mulher que me aconchegou e que me deu sabedoria e Antonina é a mulher que me pariu. Às vezes ela me dá um pontapé na bunda, mas mãe é mãe”, brinca. Entretanto, ele acredita que o esforço vale à pena. “Minha vocação sempre foi fazer algo pela cidade”, desabafa.
O professor foi um dos idealizadores do primeiro Festival de Inverno da UFPR e responsável pela escolha do local que sediaria o evento nos próximos anos. “Eram duas as necessidades: a da Universidade que não tinha quase nada de cultura e a do município que precisava de uma nova alternativa de financiamento”, justifica. Ele explica que além da questão econômica, a cultura do município também foi um atrativo. “O Festival nasceu da intenção de fazer um projeto diferenciado de universidade, onde pudéssemos desenvolver atividades de ensino e extensão com a comunidade”, conta.
Comunicação: Por que sediar o Festival em Antonina?Eduardo Nascimento: O município passava por dificuldades com o setor produtivo por causa do fechamento do porto. Em 1998 não havia outra oportunidade de sustentabilidade para a cidade. E Antonina também tem uma vocação cultural muito forte, é uma das cidades mais antigas do Paraná, tem o carnaval mais famoso do estado, uma musicalidade muito presente no sangue antoninense, artesanato forte e uma história arquitetônica impressionante.
Comunicação: E qual era a proposta para a cultura do Festival?Nascimento: A idéia era mesclar o fazer cultural dentro da Universidade com o fazer cultural desenvolvido pela comunidade e promover uma integração. Antonina é uma cidade culturalmente rica, mas pouco explorada. Hoje eu acho que deveria ser revisto um pouco esse aspecto. Os moradores da cidade se sentem um pouco afastados da elaboração da programação do evento. A Universidade faz sozinha sua própria programação, deixando até a produção cultural da cidade um pouco de lado. Nós temos aqui bons artistas que poderiam dar cursos e oficinas.
Comunicação: Como a UFPR tem trabalhado a questão da extensão com a comunidade de Antonina?Nascimento: A idéia do Festival era ser o marco de um projeto maior que seria desenvolvido o ano todo. E isso infelizmente não aconteceu. A equipe tentou até o oitavo festival, quando existia a preocupação de desenvolver projetos que durassem o ano inteiro. Além do problema de ordem financeira, o problema maior foi de ordem política. Nós ainda esperamos que um dia a UFPR possa ter aqui um pólo de atividades culturais, uma sede na cidade onde possa desenvolver projetos permanentes.