
A Corrente Cultural deste ano ofereceu diversos motivos para o público curitibano sair de casa. Os shows de bandas locais e de notoriedade nacional constituíram grande parte das atrações, mas, em meio a isso, também foi possível desfrutar de outras atividades culturais, como as apresentações de dança. Neste domingo, 10, o local para se prestigiar a dança foi o Largo da Ordem.
Às 18h, uma música intensa começou a tocar próxima à Casa Hoffmann, e os bailarinos do Guaíra apareceram com a coreografia “Interferência Urbana”. Vestidos casualmente, sem figurinos elaborados, eles se mesclaram à cidade com seus movimentos. Logo, uma roda de espectadores se formou em torno do grupo, que se apresentou sem cerimônias no meio da rua.
O trabalho apresentado já existe há um ano e meio, mas, segundo o coreógrafo Airton Rodrigues, “não se apaga do corpo do bailarino”. A coreografia foi construída a partir de um mapa que cada bailarino construiu: seu percurso de casa até o Teatro Guaíra. Foi atribuída à apresentação um tipo de dinâmica com alguns elementos da cidade que faziam parte desse itinerário.
Não é a primeira vez que a companhia apresenta um espetáculo do tipo na Corrente Cultural. O primeiro grande trabalho de rua que fizeram também aconteceu em uma edição da Corrente, sendo que para este houve a presença até de uma especialista nesse tipo específico de dança. “Foi o primeiro trabalho grande de rua. Com os bailarinos na cidade, fazendo parte da cidade, e não como um espetáculo que para tudo”, conta o coreógrafo.
A apresentação, entre outras coisas, fala sobre decisões. Há pessoas que param para olhar, e outras que passam reto, talvez sem perceber ou se interessar pelo que está acontecendo a sua volta. Para Airton, cada pessoa tem uma percepção urbana diferente, e o trabalho em geral tem uma boa recepção. “É sempre bem aceito. Não tem uma profundidade que exija concentração. É casual”, diz.
Homenagem a Cartola
Outra apresentação de dança no Largo da Ordem foi a coreografia “Teu Corpo Que Me Toca”, da Companhia Eliane Fetzer de Dança Contemporânea. O espetáculo começou ás 19h30, em um palco dentro do Memorial de Curitiba, e era inspirado na vida e obra do cantor Cartola. “O ballet retrata a relação entre as pessoas, altos e baixos, os diferentes amores que temos na vida”, explica a bailarina Priscila Rocha.
A coreografia foi desenvolvida no ano passado para a Bienal Internacional da Dança. Originalmente, o espetáculo possuía um tecido como parte do cenário, em que eram presas fotografias da vida dos bailarinos. Algumas cenas eram feitas atrás desse tecido, com uma luz contra. “Achei que a vida dele [Cartola] poderia ser a vida de todos nós”, diz a coreógrafa Eliane Fetzer, sobre a intertextualidade entre o tema e esse elemento cênico.
A estrutura do local, porém, impossibilitava o uso do material. Segundo Eliane, a coreografia perde um pouco com a falta do tecido. “Perde porque o ballet foi feito com uma luz especial em cima dessas fotos, mas a gente dança. A ideia era levar a dança para o povo. Levar para mais perto”, diz.
Para Priscila, porém, as diferenças no palco não foram prejudiciais. Como o espaço era todo aberto e não haviam coxias, os bailarinos não podiam sair de cena. “A visão foi outra, realmente foi muito bonito”, declara ela.
Um elemento presente no espetáculo foram folhas secas no chão, que complementavam muito bem a obra. A coreografia falou sobre muitos sofrimentos que Cartola experimentou em sua vida, e as folhas foram uma metáfora com o tempo – como se este estivesse passando e indo embora. A principal música, que esteve presente na maior parte do espetáculo, foi “O Mundo é um Moinho”, sobre a filha do cantor.
