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“Carta ao meu corpo” estreia no 33º Festival de Curitiba e traz para a cena a autoaceitação

“A peça é sobre a vida real, as histórias de amor e ódio que a gente tem com a gente mesmo”, diz atriz Gabriela Severini

Por Jaine Vergopolem & Jaqueline Medeiros

“Carta ao meu corpo” é um espetáculo de reconexão e amor próprio, e faz sua estreia no 33º Festival de Teatro de Curitiba na Mostra Fringe. A peça representa a busca intensa da personagem pelo autoconhecimento e, principalmente, pelo perdão, sendo um grito coletivo de liberdade e aceitação do corpo. 

A partir da história pessoal e íntima, a encenação é um reflexo das questões universais sobre imagem corporal e a constante luta para ‘se aceitar’.

A diretora e atriz Rafaela Jacon Dutra compartilha que o projeto surgiu em 2019, como um monólogo de 10 minutos, mas que, ao longo do tempo e com novas experiências, foi se transformando. “Quando migramos para o formato digital, a peça se expandiu para três atrizes no palco. Eu conto minha história, enquanto Danielle Marques e Gabriela Severini interpretam as vozes — tanto as da minha cabeça quanto as sociais, que ecoam dentro de todos nós. O objetivo da trama é abordar a reconexão com o corpo e a autoaceitação, mostrando que podemos olhar para nós mesmos com mais carinho e menos comparação.


A artista ainda menciona o impacto da perda da colega Larissa Garcia em sua carreira. A ex-diretora da Cia de Teatro Conscius Dementia, faleceu em 2023, devido ao câncer. Apesar da grande dor pela perda da eterna diretora do espetáculo e da Cia, Rafaela tem se colocado a disposição da direção do espetáculo. “Foi um momento de transformação tanto profissional quanto pessoal”, relembra

Para Rafaela, sua própria trajetória de autoaceitação foi intensificada pela criação do espetáculo. “O processo de como vejo meu corpo hoje só existe devido a este espetáculo. Falar sobre isso constantemente me ajuda a me olhar com mais carinho todos os dias. Eu diria que 100% de quem sou hoje está diretamente relacionado à existência desse trabalho”, declara.

Importante para todos

O espetáculo não se limita às experiências de um único corpo. A equipe acredita que pessoas de diferentes contextos podem se identificar com a mensagem. “Uma pessoa gorda, por exemplo, pode se identificar. Assim como uma pessoa negra que sofreu racismo por causa do cabelo ou do tom de pele, ou até mesmo uma mulher trans. Embora o espetáculo não trate diretamente disso, sinto que ele traz uma representação importante para todos.”, explica a diretora Rafaela Dutra.

Nas apresentações habituais, ao fim de cada espetáculo, são realizados bate-papos. Contudo, o formato dinâmico do Festival de Teatro impossibilita essa interação durante a mostra. “É sempre emocionante ouvir o impacto que o espetáculo tem nas pessoas. Mesmo sem o bate-papo, essas trocas são fundamentais”, acrescenta Rafaela.

Danielle Marques, atriz das “vozes”, compartilha uma relação pessoal com a peça. “Já enfrentei questões como anorexia, bulimia e compulsão alimentar. Substituir nossa diretora falecida foi uma grande superação para mim. Cada apresentação é uma chance de me redescobrir e impactar o público de maneira profunda.”

Rafaela Jacon Dutra encontra equilíbrio ao enxergar a si mesma com afeto e respeito
(Foto: Jaine Vergopolem)

Gabriela Severini, a outra “voz”, define “Carta ao meu corpo” como um reflexo das realidades que todos enfrentam. “A peça traz uma reflexão importante sobre olhar para si, se valorizar e entender que todo corpo merece respeito. Isso toca as pessoas e transforma a maneira como elas se veem e se relacionam com os outros. Aborda essas idas e vindas da relação com o corpo e é um convite a refletir sobre esses sentimentos”, complementa.

Sinceridade vale ouro – ou verdades

O público também se emociona com a sinceridade da peça. Bruna Colmann, 23 anos, jornalista, comenta: “É uma peça muito sincera, que transmite uma grande verdade. Falar sobre autoestima e sobre como nos sentimos em relação ao próprio corpo é essencial. Muitas pessoas não percebem a importância desse tema, mas acredito que peças como essa são fundamentais para aumentar a visibilidade dessas questões.”

Jacira Siqueira Fragoso, 64 anos, aposentada, deixa o espetáculo transformada: “Muitas pessoas, principalmente obesas, deixam de viver em função do corpo. Ver a atriz desabrochar na peça, encontrar o amor próprio e viver bem consigo mesma é lindo!”

“Carta ao meu corpo” é uma celebração da diversidade e uma importante reflexão sobre como aprender a cultivar o amor próprio e aceitar as imperfeições do próprio corpo. Cada apresentação traz a promessa de tocar o coração de quem assiste e de promover uma discussão necessária sobre autoestima e a construção de uma relação mais saudável com o próprio corpo.

Rafaela Jacon Dutra descobre a importância da autoaceitação
(Foto: Jaine Vergopolem)

Diferenças geracionais e pressão estética

Um estudo realizado pela consultoria Dubu, especializada em estratégia de marcas e negócios, evidenciou como mulheres de diferentes partes do Brasil percebem e se relacionam com seus corpos. O levantamento revelou que 79% das mulheres sentem-se discriminadas pela aparência física, experiência que gera sentimentos como vergonha (20%), tristeza (20%) e isolamento (11%). Além disso, 37% afirmaram evitar a exposição pública devido à insatisfação com a própria imagem corporal.

Intitulada “Sem Cabimento”, a pesquisa também apontou diferenças significativas entre as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (nascidos entre 1997 e 2010) no que diz respeito à percepção da própria aparência. Entre as entrevistadas da Geração Y, 40% relataram evitar a exposição, enquanto entre as mulheres da Geração Z esse número foi de 30%. A tristeza com o próprio corpo também se mostrou mais frequente entre as mulheres mais velhas (21%) do que entre as mais jovens (12%).

Legenda: Estudo aponta divergências na percepção do corpo entre mulheres de diferentes gerações
(Fonte: Dubu – Sem Cabimento)

O estudo ainda compara a relação com a autoimagem entre gêneros, concluindo que as mulheres sofrem mais pressão e insatisfação com seus corpos do que os homens. Elas são mais propensas a evitar situações de exposição pública (37% contra 27%) e a sentir tristeza ao refletir sobre a própria aparência (19% vs. 5%).

Estudo aponta diferenças na percepção corporal entre mulheres e homens
(Fonte: Dubu – Sem Cabimento)

A pesquisa reforça a importância de debater o impacto da pressão estética na saúde mental e emocional das mulheres, além de incentivar uma relação mais equilibrada e respeitosa com a própria imagem corporal.

A importância da autoaceitação

O psicólogo Jean Gamarra explica que a autoaceitação desempenha um papel fundamental na saúde mental e emocional. “A autoaceitação é a capacidade de aceitar a si mesmo com todas as qualidades e imperfeições, sem depender de julgamentos externos. Isso contribui para a redução da autocrítica, fortalece a autoestima e diminui sintomas como ansiedade e depressão. Além disso, permite viver de forma mais autêntica, melhorando a saúde emocional e os relacionamentos interpessoais”, explica.

O especialista em comportamento destaca ainda que a autoaceitação difere da autoestima. “Enquanto a autoestima muitas vezes depende de conquistas e validação externa, a autoaceitação é mais estável e interna, permitindo que a pessoa se aceite incondicionalmente. Isso também favorece a resiliência emocional, ajudando a lidar melhor com desafios e diminuindo a necessidade de aprovação constante”, conclui.

Referência: Chamberlain, J., & Haaga, D. (2001). Unconditional Self-Acceptance and Psychological Health. Journal Of Rational-Emotive & Cognitive-Behavior Therapy, 19(3).

Serviço: 

“Carta ao meu corpo”: teatro e autoaceitação no Fringe 2025

Festival de Curitiba 2025

Mostra Fringe

Duração: 25 min

Gênero: DRAMA

Classificação: 10 ANOS

Festival Festival de Teatro de Curitiba 2025

Descrição — Um espetáculo de reconexão, de busca pelo autoconhecimento e pela autoaceitação do próprio corpo. É um pedido de desculpas das atrizes para si mesmas por todas as vezes em que se torturaram, se odiaram e, mais que tudo, desejaram ser outro alguém. Um momento para celebrar a diversidade dos corpos.

Elenco e Maquiagem: Danielle Marques, Gabriela Severini / Direção e Elenco: Rafaela Jacon Dutra / Produção: Andressa Rodrigues e Dani Silva / Sonoplastia: Carine Michelucci.

Origem: POÇOS DE CALDAS / MG

30/03/2025 16:00:00 – Praça João Cândido

31/03/2025 14:00:00 – Praça Generoso Marques

01/04/2025 18:00:00 – Praça Generoso Marques

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