A depressão é uma doença que atinge todas as idades e pode ter consequências trágicas. De acordo com o Mapa da Violência, realizado pelo Ministério da Saúde, houve um aumento de 40% nos casos de suicídio de crianças entre 10 e 14 anos e de 33,5% em jovens de 15 a 19 anos, no período de 2002 a 2012.
Para a psicoterapeuta Daniela Cichacewski o aumento de incidência da depressão em jovens é causado, entre outros fatores, pelo uso de redes sociais. “Elas promovem uma preponderância do ter sobre o ser”, afirma Cichacewski, que explica que o jovem, ao ver outras pessoas postando coisas positivas como viagens ou festas, se sente insatisfeito com a própria realidade.
Uma pesquisa com 425 estudantes universitários, realizada na Universidade Utah Valley, mostrou a relação entre usar Facebook e o nível de satisfação dos participantes. Os pesquisadores concluíram que, quanto mais tempo passam na rede social, mais as pessoas tendem a achar suas vidas inferiores às dos outros. Em outra pesquisa, desta vez realizada pela Universidade de Michigan, 82 participantes respondiam a cinco questionários por dia sobre seu humor. Foi constatado que o humor dos pesquisados piorava após usarem o Facebook.
“Parece que todo mundo está indo bem, viajando, indo em restaurante legal, em festas… Mas ninguém posta foto quando pega ônibus lotado às seis horas da tarde”, brinca Cichacewski. A psicoterapeuta ressalta que às vezes falta ao adolescente discernimento para entender que a vida vai além do que é postado na internet. Para ela, essa exposição, aliada às inseguranças e crises próprias da adolescência, deixam os jovens suscetíveis à depressão.
Tratamento
Aos 16 anos, A. não se sentia motivada para nada, desde estudar até coisas mais simples, como tomar banho. Foi a mãe quem percebeu o comportamento apático da filha e sugeriu que procurasse ajuda profissional. A jovem foi diagnosticada com uma crise depressiva e seguiu tratamento conjunto com um psiquiatra, que lhe receitou medicamento, e com um parapsicólogo, que usa técnicas como regressão e hipnose em suas sessões. Além da ajuda profissional, A. acredita que ter uma ocupação auxiliou no processo de cura: “Eu tinha muito tempo livre. Comecei a trabalhar em uma clínica veterinária, o que me ajudou muito”. Hoje, 5 anos depois, ela é formada em jornalismo e está recuperada.
A psicoterapeuta Daniela Cichacewski defende o uso de medicamentos e de terapia de forma atrelada, não isolada. “Quando eu detecto indícios de depressão, faço o encaminhamento para o psiquiatra que vai avaliar a necessidade de medicamento ou não”, explica. Na abordagem da psicoterapia, é trabalhado com o jovem uma forma de lidar os sofrimentos, restaurando o equilíbrio emocional. Cichacewski alerta que há uma banalização do diagnóstico e do uso de remédios, que só devem ser feitos sob orientação médica.
Quando a crise vira doença
“Uma linha tênue diferencia um comportamento normal da adolescência e uma depressão propriamente dita”, esclarece Cichacewski. A puberdade é uma época marcada por mudanças no corpo, no humor e no comportamento. A psicoterapeuta explica que durante este período é normal que o jovem tenha momentos de isolamento, irritabilidade, desânimo, que se afaste dos pais e mude seu modo de agir. Por isso é importante ficar atento aos sinais que indicam que o que era para ser uma fase se tornou um quadro de depressão.
A frequência e a duração destes momentos depressivos são os indícios de que pode haver uma patologia. “A depressão é mais intensa, embora tudo o que aconteça com o adolescente seja muito intenso”, afirma Cichacewski. Se o isolamento e o comportamento deprimido se estende por duas ou três semanas, é aconselhável procurar ajuda profissional.
A psicoterapeuta indica como prevenção um ambiente familiar de diálogo, compreensão e limites, para que o jovem se sinta seguro. Os familiares devem entender que a rebeldia e o afastamento são normais, que o adolescente irá se reaproximar ao fim desta fase e que ele vai precisar de direcionamento durante este período.
Em casos de crise
Existem iniciativas que se propõem a ajudar em situações de dificuldades emocionais, como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e o grupo Neuróticos Anônimos. No CVV, voluntários com mais de trinta horas de treinamento, atendem, por telefone, internet e pessoalmente, pessoas que buscam um ombro amigo.
Quintino Dagostin, voluntário há 19 anos no CVV, conta que o serviço prestado não é tratamento nem substitui o acompanhamento profissional, mas que é útil para momentos de desabafo. “Não fazemos terapia, análise nem damos conselho”, explica Dagostin. O CVV conta com cerca de 2000 voluntários pelo Brasil. Em Curitiba, atendem a uma média de 30 ligações por dia.
Daniela Cichacewski concorda que os grupos de apoio não devem ser encarados como tratamento. “Funciona em situações pontuais, mas não é ajuda médica”, ressalta.
Serviço
Centro de Valorização da Vida: ligue 141 ou acesse o site
Neuróticos Anônimos: Grupo Serenidade – Curitiba, (41) 3336 2260
Reuniões: Segunda feira e Quarta Feira às 19:00
Endereço: Rua 24 de Maio – Rebouças