Na tarde desta sexta-feira, dia 12 de março, profissionais da área de meio ambiente e urbanismo se reuniram num dos painéis de discussão da CICI 2010 para debater os desafios e as inovações requeridas pelas cidades modernas. Na oportunidade, os palestrantes discutiram as possibilidades de melhoria da mobilidade urbana em confronto com as mudanças climáticas que ocorrem no planeta.
Os participantes disseram que é necessária a conscientização das autoridades e empresariado na intenção de encontrar alternativas de crescimento urbano que atendam a todos os setores sociais e não apenas aos empresários. Isso seria importante para o crescimento consciente das cidades em tempos de aquecimento global. O geógrafo da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Costa Ribeiro disse que o Brasil não conhece com precisão as implicações das mudanças climáticas em grandes centros urbanos, mas o país pode estimar essas consequências.
Segundo Ribeiro, as populações de baixa renda, que moram em áreas precárias, são as mais atingidas por essas alterações. Apesar da necessidade de dados para analisar como a mudança na temperatura global pode afetar o espaço urbano, já se pode perceber que as os resultados da temperatura mais alta podem ser alarmantes. “Não é preciso esperar nenhuma mudança climática para perceber a importância de se retirar as pessoas dessas áreas”.
O geógrafo afirma que a otimização de vazios urbanos pode ser uma saída tanto social quanto empresarial para a melhoria do ambiente urbano. Ele defende que os edifícios não sejam construídos apenas para atender a especulação imobiliária e que é possível pensar em “torres” (prédios) menores. “É uma forma de renovar os ambientes com menor circulação de ar, com maior espaço entre os edifícios para diminuir os problemas que o clima pode trazer como aquecimento global”. Ribeiro chama atenção de que essas alternativas também devem ser aplicadas em novas metrópoles regionais, e não apenas em grandes cidades, como São Paulo
Clima e transporte
Nas grandes cidades, 13,5% da emissão de gases poluentes, muitos deles responsáveis pelo efeito estufa, são lançados na atmosfera pelos veículos de combustão, segundo dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alexandre d”Avignon, presente na palestra, as grandes cidades devem reduzir essas emissões de poluentes, seja pela substituição de combustíveis ou pelo estímulo ao transporte coletivo.
O palestrante disse que Curitiba, com seus ônibus expressos, pode e precisa substituir os combustíveis fósseis. “Uma tendência seria a transformação de motores de combustão interna em motores elétricos. Em Curitiba, os ônibus biarticulados são uma opção. Se isso será viável economicamente, precisa ser estudado”, afirma.
As cidades passam por uma congestão urbana pela demanda de veículos particulares, afirma D”Avignon. Com isso, modos de transporte não motorizados também podem ser uma opção de benefício tanto para a mobilidade nas cidades, como para o clima e a saúde da população. “Melhorias nas redes de transporte coletivo e o estímulo aos transportes alternativos, como a bicicleta, são pontos a serem discutidos. Deixar de ter o carro na rua, deixa-se também de ter pessoas nos hospitais por problemas respiratórios”, enfatiza.
Mas o doutor em Teoria e Métodos em Design e Inovação, Adriano Braun Galvão alerta que para que isso se torne realidade é necessária melhor atenção para essas formas alternativas de transporte. “O decréscimo no uso dos ônibus ocorre tanto pela falta de estrutura quanto pelo aumento da tarifa, o que gera maior procura de meios individuais”.