Na terça-feira, dia 23, os curitibanos ficaram maravilhados com um fenômeno metereológico: depois de 38 anos, nevou na capital paranaense. A precipitação foi modesta, durou poucos minutos e não chegou a cobrir o chão, mas foi o suficiente para deixar os moradores felizes. “É a primeira vez que eu vi neve, é incrível!”, declara Viviane Pinheiro, estudante de 15 anos, que completa: “claro que eu preferia uma nevasca como a de uns anos atrás, para poder brincar, fazer boneco de neve. Mas a neve dessa semana foi o suficiente”.
Lizandro Jacobsten, metereologista do Simepar (antiga sigla para Sistema Metereológico do Paraná), explica quais condições são necessárias para a ocorrência de neve: “Muita umidade e muito frio na superfície. Nas nuvens, a temperatura tem que estar abaixo de zero graus, e o caminho entre o céu e a superfície deve estar muito frio. Céu nublado também é essencial”. Segundo Jacobsten, esse evento é raro no Brasil por causa dessas condições, que raramente acontecem todas juntas. “Não é raro estar frio ou nublado no sul do Brasil, mas todas essas condições devem ser cumpridas ao mesmo tempo para acontecer a precipitação de neve”, explica.
Pouca neve em Curitiba
A neve no final do mês de julho foi mais forte em alguns lugares. Em Guarapuava, por exemplo, ela foi tanta que chegou a cobrir o chão. No quintal da casa de Milena Lemos, estudante, as plantas congelaram e os arbustos ficaram brancos. “Guarapuava estava linda! Eu morei a minha vida inteira lá e nunca vi neve. O parque do lago também estava muito legal, com o céu branco e as cerejeiras rosa”, descreve Lemos.
Apesar da forte neve em vários pontos do Paraná e Santa Catarina, em Curitiba o evento foi isolado. Em muitos bairros, os moradores não chegaram a ver a precipitação, o que gerou dúvidas sobre se realmente nevou em Curitiba ou se foi apenas o evento conhecido como “chuva congelada”. O professor de climatologia agrícola da UFPR, Marco Aurélio de Mello Machado, esclarece os acontecimentos. “Houve chuva congelada por toda Curitiba e Região Metropolitana, e a neve caiu principalmente nos bairros da região sul, como Xaxim e Tatuquara, e nas cidades como Araucária”. Machado ainda declara que a precipitação de neve foi muito menos intensa esse ano do que na nevasca de 1975, que cobriu a cidade com um manto branco.
A precipitação de neve em Curitiba não é comum, mas está prevista dentro do que Machado chama de “variabilidade climática”. Isso quer dizer que é um evento possível de acontecer no inverno curitibano, sem que haja a interferência de eventos como as mudanças climáticas globais. “Essas mudanças climáticas, como o aquecimento ou resfriamento global, são avaliados por meio de gráficos que abrangem todo o clima de um lugar ao longo de anos. Um evento isolado, como a neve em Curitiba, não é resultado dessas mudanças, mas algo previsto na variabilidade climática”, explica o professor, que acredita que as mudanças climáticas estão realmente acontecendo, mas não que os eventos do final de julho sejam reflexo disso.
O frio ainda não acabou
O professor ainda dá um alerta: outra onda de frio, que pode ser tão forte quando a da semana entre 22 e 25 de julho, está programada para setembro. O Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) está publicando estudos que preveem uma massa de ar frio que pode causar muitos estragos. “Ondas de frio no começo do outono, em março ou abril, e no final do inverno, em agosto e setembro, tendem a causar mais danos do que as do meio do inverno. Nessas épocas, as plantações não são adaptadas para enfrentar frio e geada, o que causa mais problemas na agricultura e economia, mesmo que as temperaturas não sejam tão baixas”, explica Machado. Sendo assim, ainda há esperança de mais neve nas cidades paranaenses ainda esse ano.