Em meio às apresentações artísticas, as Ruínas do São Francisco foram palco também para um debate sobre drogas que contou com a presença dos jornalistas Zé Beto e Tarso Araújo, editor da Revista Galileu e autor do Almanaque das Drogas, e de Diogo Busse, diretor do Departamento de Política Municipal Sobre Drogas da Secretaria Municipal de Defesa Social. Com mediação do jornalista Álvaro Borba, o público da Corrente Cultural também participou da conversa, criando assim um diálogo aberto em meio ao evento.
Diante de um assunto polêmico e ainda pouco discutido, uma das principais questões levantadas foi o contraste entre as políticas para drogas ilícitas em comparação com as do álcool. “Acabar com essa hipocrisia faz parte de uma conversa razoável. É tudo droga”, enfatizou Tarso Araújo, explicando que o álcool está no centro das causas de câncer ou doenças mentais, por exemplo. Segundo Busse, cerca de metade dos casos de violência doméstica e do trânsito em Curitiba são em decorrência do álcool.
Álvaro Borba falou sobre as mudanças em relação ao tema, como a oportunidade recente de “falar na praça” sobre a legalização, por exemplo, e que isso é muito representativo. Tarso explicita a dificuldade em encontrar dados relevantes no Brasil. “A ONU calcula que 2,5% da população mundial consome drogas, e que desses, 5% se tornem dependentes.”, aponta, afirmando que só o fato de não termos essas informações já reflete a falta de esclarecimento que cerca o tema.
O jornalista Zé Beto, que é voluntário em clínicas de recuperação e fez relatos da própria história, enfatizou a importância de entender o porquê das pessoas consumirem drogas, e buscar esclarecimento quanto aos motivos que levam o usuário a adoecer. “A maioria tem alguém na família com um ‘problema’ de crack ou álcool, e então repele esse problema”, disse.
No sentido comportamental, Tarso questionou o motivo das pessoas usarem tanta droga nesse momento em que vivemos. O debate buscou uma reflexão quanto ao contexto em que as drogas estão, em aspectos sociais e mesmo culturais. “Com o tabaco, há dez anos, houve prevenção comunitária, campanhas de educação, essa mudança é também cultural. É inestimável pensar isso para o álcool”, lembrou Busse.
Com a participação do público, falou-se de políticas de redução de dano. Sandra Batista, da Rede Latino americana de Redução de Danos, defendeu que a questão das drogas fosse tratada não numa visão militarista, mas de direitos humanos, e questionou o conceito de “dependente químico”. Diogo explicou que se usa o conceito biosociopsicoespiritual para dar conta da complexidade dos aspectos.
Tarso colocou em perspectiva ações como a descriminalização da maconha no Uruguai. “Criminalizar causa mais danos que o uso. A ‘guerra’ tem levado a uma situação absurda: o combate às drogas mata mais que as drogas em si”. No México, calcula-se que até o momento o combate contra o narcotráfico tenha deixado um saldo de 60 mil mortos. “Essa política tem que ser revista”, enfatizou.