Cerca de 250 anos se passaram desde o início da Revolução Industrial, período em que houve um salto no desenvolvimento das técnicas de produção em massa. A princípio, a sociedade não levava em conta o impacto que o uso de combustíveis fósseis causaria no meio ambiente. Hoje, após décadas de estudos, ninguém ignora as conseqüências trazidas pela poluição que a humanidade produz.
Embora a população esteja ciente do problema, quando se trata de agir individualmente para reduzir estragos, a situação muda.
A organização não-governamental Fundação Verde, a fim de melhorar esse cenário, elaborou em maio do ano passado um projeto de lei que obriga supermercados a reduzir o impacto causado pelas sacolas plásticas. Em junho, o texto foi votado na Câmara Municipal de Curitiba, que estabeleceu novembro como prazo final para que a medida fosse colocada em prática. Uma vez aprovada a lei, o Ministério Público do Paraná comunicou a resolução às redes de supermercado com lojas no estado. A adesão, contudo, não é uniforme, e cada grupo vem buscando alternativas próprias em seus estabelecimentos.
Em fevereiro, a loja Wal-Mart Supercenter Tamboré, em Alphaville, São Paulo, adotou por um mês sacolas oxi-biodegradáveis. O desempenho do novo material foi satisfatório em termos de manuseio, resistência e praticidade. Mas ainda não havia comprovação científica de que o aditivo químico usado no plástico era inofensivo ao meio ambiente, por isso, as embalagens não foram incorporadas definitivamente. A assessora de imprensa do Grupo Wal-Mart no Paraná, Tatyane Nunes, adiantou que seria realizado um novo projeto piloto em janeiro deste ano. “As lojas Mercadorama Novo Mundo e Big Pinheirinho irão disponibilizar embalagens alternativas”, diz. “A experiência durará três meses, e nesse período os clientes poderão escolher entre sacola de papel reciclado, retornável de lona, ou de algodão cru”, enumera a assessora.
Um problema global
Outros países também combatem de modo efetivo o impacto ambiental causado pelo uso do plástico. Entre eles, os Estados Unidos, um dos maiores consumidores mundiais de petróleo. Na cidade de São Francisco, por exemplo, as embalagens plásticas começaram a ser substituídas por sacolas de papel reciclado e materiais feitos com goma de batata ou milho.
Em Bangladesh, país localizado ao sul da China, a fabricação, a compra e até mesmo o porte de sacolas plásticas são condenados por Lei. A multa para quem não cumprir a regra equivale a R$ 21, e a reincidência pode terminar em prisão. O país já sofreu entupimentos de esgoto e cheias causados por plástico, o que explica a rigidez da legislação.
E no Brasil?
Uma medida que vem sendo apoiada por muitos veículos de comunicação é o uso de sacolas de algodão. A campanha Eu Não Sou de Plástico, iniciada na Inglaterra, aposta no senso estético do consumidor: as bolsas são projetadas por estilistas renomados. No Brasil, o projeto Sacolas Para a Vida, levado adiante por Silvana Buena, também incentiva a substituição das embalagens plásticas pelas de algodão.
A dona-de-casa Ana Luiza Jablinski Castelhano recorda que esse tipo de produto já foi usado no Brasil há algumas décadas. “Lá pelos anos 70 e até o começo dos 90, o Mercadorama disponibilizava saquinhos de papel, e muitas pessoas usavam bolsas de lona ou algodão para fazer as compras”, conta. Ana lamenta que a prática tenha caído em desuso, pois reconhece o estrago que a não-decomposição dos sacos plásticos causa.
Alguns supermercados, por sua vez, já adotaram sacolas oxi-biodegradáveis, como o Condor e o Muffato. O Festval, além de fazer o mesmo, inaugurou em uma de suas lojas o Caixa Ecológico. O programa funciona da seguinte maneira: ao passar pelo caixa, o cliente pode deixar as embalagens dos produtos adquiridos. “Assim, já no supermercado se resolve a questão da separação do lixo”, acrescenta Jane Sodré, gerente de marketing do Festval. As embalagens em seguida são vendidas, e o valor adquirido é doado a instituições de caridade. O Caixa Ecológico foi implantado na loja Festval Barigüi logo na sua inauguração, em outubro de 2006.
Em contrapartida, alguns consumidores acreditam que, apesar de todos os efeitos positivos, esses projetos não vingariam sem os benefícios de marketing. É o caso do professor de Filosofia Benito Araújo Maeso. “Fico pensando até que ponto essa preocupação ambiental não é uma ‘moeda de troca’ com a mídia, já que beneficia a imagem das redes”, indaga. Maeso espera que o cenário atual leve a uma conscientização real por parte dos cidadãos. “É muito fácil levantar bandeiras e não tomar atitudes individualmente”, critica.