Os meses de março e abril marcam a passagem de um dos maiores festivais de teatro e artes performáticas da América Latina, o Festival de Curitiba. Inicialmente apresentado como “Festival de Teatro”, o evento tradicional da capital paranaense procura se reinventar a cada edição. Um dos primeiros passos? Repaginar a marca. O nome encurtou e as propagandas passaram a dissociar a imagem do evento da ideia exclusiva de peças teatrais. O intuito passou a ser a reunião de diversas experiências artísticas, como a dança e a performance.
Ao todo, a edição de 2025 do festival trouxe ao público presente em Curitiba um total de 12 espetáculos de dança, a maioria dentro da mostra Fringe. Apesar do pequeno número, se comparado as mais de 300 peças teatrais presentes no evento, a diversidade atraiu a população para os espetáculos.

Direto de São Paulo, o Coletivo Ne_xo trouxe para Curitiba o espetáculo de dança e teatro “Em Atos de Ruir (Estudos sobre o Fracasso)”. A atração é baseada na obra “Sociedade do Cansaço”, do escritor sul-coreano Byung-Chul Han, que explora a sociedade ansiosa, acelerada e cansada presente na atualidade.
Com isso em mente, os bailarinos Gisele Rosa e Cassio Gondim conduzem toda a produção. Vestidos de preto e pés descalços, os dois entregam uma coreografia marcada por passos inacabados e expressões angustiadas. Eles vivem o fracasso em pleno calçadão da rua XV de Novembro.
“Mesmo que a gente acabe performando, não precisa existir um ideal de performance. O importante é buscar um espaço de autocuidado dentro do espetáculo.”, conta Cassio que, ao lado de Gisele, criou uma obra que mistura momentos de silêncio com o caos urbano. Ao quebrar as exigências da dança, os bailarinos mostram que é possível desafiar as amarras da perfeição. “Temos a ideia central e, dentro disso, trabalhamos livres na hora da apresentação, para a gente não se sentir fechado.”, conta o dançarino.
Dançando Villa
A Curitiba Companhia de Dança trouxe para o festival o contemporâneo “Dançando Villa”, obra que celebra a vida e a personalidade de Heitor Villa Lobos. O espetáculo existe desde 2015, mas foi repaginado em 2022 quando a diretora Nicole Vanoni convidou a coreógrafa Rosa Antuña para repensar a peça. Juntas, conseguiram traduzir elementos da cultura indígena, europeia e africana em um espetáculo que une danças brasileiras e forte influência da umbanda.

Além disso, a participação da companhia este ano é bastante simbólica: Nicole e sua equipe completam dez anos de estrada, uma década marcada pela entrega, investindo tempo, trabalho, suor e lágrimas na dança. Um dos balés favoritos da fundadora da companhia, Villa Lobos estreia a comemoração que deve perdurar durante o ano.
Confira mais imagens e detalhes do espetáculo aqui: https://youtu.be/qIj9pR-xo2Y?si=FEbLsApmZkMP7SV6
“Pra gente continuar sendo artista”
Para que a dança possa conquistar cada vez mais espaço no Festival de Curitiba, é importante o envolvimento do público. Nos espetáculos de rua, como o de Gisele e Cassio, ou nos teatros, como o Dançando Villa, são as pessoas que dão a vida e a oportunidade a quem sobe nos palcos.
Portanto, ao assistir espetáculos de dança, o público contribui não só para a inclusão desse tipo de arte em mais espaços, mas também para a sobrevivência desses artistas. Como coloca Nicole, “vir ao teatro é o que nos alimenta e sustenta”.
Ficha Técnica
Repórteres: Fernanda Gomes e Francielle Lacerda
Revisor: Luisa de Cássia
Edição Final: Alana Morzelli