Manifestado em 3 a 6% das crianças com 6 a 12 anos, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem origem predominantemente genética, causando impulsividade, inquietude e desatenção na criança, adolescente ou adulto. Nos últimos 10 anos, o consumo do medicamento para tratar os sintomas desse transtorno, aumentou 775% no Brasil, o que tornou o país o segundo maior consumidor de Ritalina – perdendo apenas para os Estados Unidos. A causa para esse aumento massivo tem duas explicações: um melhor conhecimento sobre o distúrbio, facilitando o diagnóstico, e o uso indevido da medicação. Com o mesmo mecanismo da cocaína, jovens e adultos utilizam a Ritalina para irem além de seus limites e obterem resultados melhores na faculdade ou no trabalho, por exemplo.
O estudante de Direito de 18 anos, Matheus Binder, foi diagnosticado com o transtorno quando tinha seis anos. Na escola, ele era a criança mais agitada e isso sempre lhe causava problemas. “Fui expulso de sala de aula diversas vezes por simplesmente não conseguir ficar quieto na cadeira. Hoje em dia, o Transtorno de Déficit de Atenção se manifesta geralmente quando estou assistindo aula ou lendo. Olhar para o professor mas ficar ‘viajando’, estar pensando em alguma coisa nada a ver ou estar lendo um livro e perceber que li uma página inteira sem prestar atenção acontece sempre”.
Depois de utilizar a Ritalina por alguns meses, Binder hoje não faz uso da medicação por causa dos seus efeitos colaterais. “Eu a tomava antes de ir pra aula e percebia que algo mudava em relação a minha atenção, mas não necessariamente era para melhor. As vezes ficava confuso e no fim do efeito ficava triste e sem vontade de fazer nada. Então vi que o melhor era eu aprender a me concentrar e controlar o Transtorno, do que depender de um remédio cujos efeitos colaterais eram maiores do que as coisas boas dele”, conta o estudante.
A psicóloga e professora de psicologia Graziela Sapienza trabalha com um grupo de crianças que tem o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e que pretende, por meio de atividades e jogos, ajudar as crianças e os pais a lidarem melhor com o transtorno. “Todas as crianças, em algum momento, poderão ser consideradas agitadas ou desatentas… não só as crianças, qualquer um de nós já passou por momentos de maior agitação e desatenção. Mas nos indivíduos com o Transtorno, o problema pode ser a intensidade dos sintomas e o quanto esses problemas interferem na vida dessas pessoas”, explica a psicóloga.
Como identificar alguém com TDAH?
Os sintomas de uma pessoa com o Transtorno, segundo Sapienza, podem ser notados muito cedo em alguns casos. Bebês irritadiços, que choram muito nos primeiros meses de vida, têm sono agitado e acordam várias vezes durante a noite, podem apresentar o transtorno. “Como esses comportamentos podem ser comuns em algumas famílias, muitas vezes passam despercebidos pelos pais até a entrada na escola, quando os sintomas atrapalham o desempenho escolar. Essas crianças possuem dificuldades para ficar sentadas na sala de aula e para terminar tarefas, têm dificuldades sociais, normalmente por impulsividade, respondem as perguntas antes das pessoas terminá-las”, explica a psicóloga. Entre outros sintomas com os quais os pais devem ficar atentos, Sapienza ainda cita que crianças com o distúrbio cometem erros em tarefas escolares por descuido e desatenção, interrompem a conversa das pessoas com frequência e perdem e esquecem objetos importantes.