Desenvolvido pela diretora e coreógrafa Lia Rodrigues, Encantado é uma apresentação de dança que estreou originalmente no Festival d’Automne de Paris e conquistou o Prêmio APCA de Dança em 2022. O espetáculo chegou à capital paranaense por meio do Festival de Curitiba, com duas apresentações nos dias 1º e 2 de abril.
Tive a oportunidade de assistir à peça no Teatro Guaira na última quarta-feira (2) e, ao longo dos 60 minutos do espetáculo, experimentei um grande misto de emoções — emoções que não considero tão boas para se sentir ao assistir a uma apresentação musical.
O espetáculo se inicia em completo silêncio, com o grupo de 11 dançarinos desenrolando lentamente os 140 cobertores coloridos que serão usados durante a apresentação como figurino. Após cobrirem o palco, os artistas se retiram e retornam um a um, completamente nus.
Admito que, nesse momento, precisei segurar uma risada involuntária, pois pensei comigo mesmo que havia várias famílias com crianças pequenas na plateia. Entretanto, foi exatamente nesse instante que a peça me perdeu completamente como espectador. Sendo bem sincero, a questão do nudismo é o de menos, mas o fato de cerca de 25 a 30 minutos de um espetáculo de uma hora se resumirem a: os artistas desenrolam lentamente os cobertores, caminham lentamente de volta ao palco e se cobrem lentamente com os cobertores foi algo que, francamente, beira o inacreditável.
Reitero aqui o motivo de repetir tantas vezes o termo “lentamente”: essa foi exatamente a sensação de assistir a Encantado. Chegou ao ponto de eu pegar o celular para ver as horas, de tão desinteressante e maçante que a peça estava.
Sendo justo, a partir da segunda metade o espetáculo começa a engrenar, finalmente ganhando música e coreografias. As danças e performances entre os artistas são criativas e visualmente vibrantes, encaixando-se bem com o ritmo tribal da trilha sonora. A própria diretora da peça já declarou que se inspirou em elementos de povos indígenas e africanos para criar as coreografias de Encantado, o que é bem bacana e confere um senso de identidade à apresentação.
Entretanto, para finalmente chegar à parte interessante da peça, o espectador precisa aguentar praticamente metade da duração com absolutamente nada acontecendo, correndo o risco de perder completamente o interesse antes da segunda metade.
Talvez esta seja uma boa forma de definir Encantado: uma experiência inconstante, que certamente não agradará a todos.