Os grupos reunidos para a segunda Farofada do Transporte ganharam as ruas da capital paranaense na noite da última sexta-feira (21). Mais de 15 mil pessoas compareceram. A manifestação deveria ser estática na Praça Rui Barbosa, mas desmembrou-se em três grupos que seguiram para a Praça do Japão, a Arena da Baixada e para o Palácio Iguaçu, deixando estragos em alguns pontos da Avenida Cândido de Abreu.
Durante a noite de chuva, o primeiro grupo a se deslocar da praça Rui Barbosa, contra a vontade de quem havia pensado no protesto, saiu perto das 18h sem rumo definido. Alguns organizadores tentaram tomar a frente do grupo, porém foram constantes os momentos de indefinições. O primeiro aconteceu logo em frente ao prédio da UTFPR na Av. Sete de Setembro. Decidiu-se, então marchar para a Praça do Japão.
Entre paradas na frente da igreja Universal do Reino de Deus para manifestar contra Marco Feliciano, presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, e a dispersão dos manifestantes na Praça do Japão, imperaram momentos de instabilidade e falta de coerência nos gritos e cartazes do protesto. “PEC 37, palhaçada”, “Feliciano, que pena que você se curou.”, “13% do PIB para a educação”, “O Brasil não é meu time, o Brasil é meu país”, “O transporte é público, fim da privatização” e muitas outras frases figuraram nas placas de protesto. A Frente de Luta pelo Transporte – grupo que apoia a farofada – postou, em sua página no Facebook, pedindo entendimento do foco da pauta: o transporte.
A marcha que chegou até o Batel logo dispersou e se encaminhou para outros locais. “Fui até o Batel e estava uma desorganização total. Larguei desse grupo e parti pro Palácio”, afirma o jovem Leonardo Belga Sampaio. Para ele, a depredação do espaço público foi grande e representa uma vergonha para o movimento. “Deveríamos apenas quebrar o palácio e a prefeitura. Passividade quase nunca leva a nada, temos que demonstrar a nossa revolta porque só caminhar não incomoda ninguém”, completa.
O segundo aglomerado foi em direção à Arena da Baixada, estádio do Atlético Paranaense e sede da Copa do Mundo de 2014. Para a manifestante Michelle Fiakolski, o principal protesto era contra o dinheiro desviado para a Copa. Ela relatou que, apesar da desorganização, sentia-se orgulhosa em participar. Ela também estava lá quando bombas estouraram e um grupo de uma torcida organizada do Atlético foi para cima da passeata. “Deu no que deu: pessoas feridas e correria para todos os lados”, lamenta.
Yuri Duarte caminhou no sentido do Palácio do Iguaçu e desaprovou as atitudes das pessoas que, já na Praça Tiradentes, começaram a depredar o patrimônio público. “Cantar o hino foi a melhor parte, mas não valeu a força de quem participou por conta do fim desencadeado por vândalos”, afirma
Algumas horas depois dos incidentes, a Frente de Luta pelo Transporte afirmou que repudia os atos de vândalos e que apoiou a manifestação, apenas, enquanto estava parada na Rui Barbosa. Na página da Farofada, uma nota oficial divulgou que o protesto foi adiado porque os manifestantes não entenderam o objetivo buscado.”Saibam para onde estão marchando, qual a pauta, qual a organização. Não seja mais um na multidão gritando por gritar”, ressalta a nota na rede social.
A universidade na manifestação
A participação dos estudantes no movimento chamou a atenção. O posicionamento em relação à manifestação e às formas de protesto, entretanto, não foi unanimidade.
Guilherme Toscan, aluno do curso de Engenharia Elétrica da UFPR, destacou a importância do envolvimento dos estudantes em manifestações como essa. “A Universidade é local de produção de conhecimento e discussão de ideias, por isso deve estar nesses movimentos”, afirma. Ele diz não ter ido para protestar, mas para tentar entender do que se tratam as passeatas que se espalham pelo país. “Estava acompanhando pela internet e vi muitas discrepâncias. Acho que a maioria dos que estão aqui são classe média alta, que saiu do comodismo. Os movimentos sociais nunca dormiram”, completa.
A maneira de reivindicação também é ponto de divergência. Para Guilherme Rocha, estudante de Ciência da Computação pela UFPR. o movimento precisa ser mais enfático. “Os protestos estão muito pacíficos. Falta fazer barulho, ser a pedra no sapato do governo. Vandalismo, em alguns momentos, deve ser praticado”, concluiu.