qui 21 nov 2024
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Ginástica artística revela novos ídolos do esporte 

Apesar de ótimo desempenho olímpico, especialistas alertam para a falta de incentivo público a modalidade

O esporte brasileiro tem dado grandes passos nos últimos anos, especialmente se prestarmos atenção nas Olimpíadas, com destaque para a ginástica artística. Junto ao judô, a modalidade foi a que mais trouxe medalhas para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e Paris 2024. Ginastas como Rebeca Andrade e a curitibana Júlia Soares vem trazendo cada vez mais atenção e procura ao esporte, especialmente na capital paranaense.  

A coordenadora da Academia de Ginástica Artística do Paraná (GAP), Dayane Cristina, explica que o interesse público pela prática do esporte aumentou muito. “A procura triplicou após as Olimpíadas, nas semanas seguintes tivemos um boom muito grande na procura, as ginastas acenderam a vontade nas crianças de fazerem ginástica artística”. A coordenadora comenta a importância de atletas como Júlia Soares para as jovens ginastas. “Com certeza ela se tornou inspiração para muitas meninas daqui. A Julinha, além de ser uma grande atleta, é uma menina muito carismática e querida com todos e todos a admiram por isso também.” 

Júlia Soares, ou Julinha, como é conhecida, é uma das medalhistas das Olimpíadas de Paris de 2024 e nasceu em Curitiba. A atleta fez sua carreira e toda a preparação olímpica no Centro de Excelência de Ginástica do Paraná (CEGIN). O centro é um dos maiores do estado, e dentre as atletas que já fizeram parte do time, destaca-se Luiza Trautwein, 22 anos, natural de Osasco. A ginasta conquistou diversos títulos importantes durante sua carreira, como o ouro por equipes no Campeonato Sul-Americano, ocorrido em Lima em 2022, e o título de campeã do Salto no Brasileiro Adulto de 2017. 

Luiza conta que sua maior inspiração é Jade Barbosa, lenda da ginástica artística brasileira e companheira de equipe no Trofeo Città di Jesolo, competição na qual conquistaram a medalha de prata na classificação por equipes, junto com a também olímpica Flávia Saraiva, reserva da ginástica artística em Paris 2024, e Carolyne Pedro, integrante do Cegin. 

Flávia Saraiva, Luiza Trautwein, Jade Barbosa e Carolyne Pedro em competição. Foto: Reprodução/Instagram

Em um país onde predominam jogadores de futebol como ídolos do esporte, o recente sucesso olímpico de atletas como Rebeca Andrade vem criando uma onda de heroínas do esporte nacional. “Para mim, é algo incrível ver o quanto a ginástica está sendo prestigiada por causa da Rebeca”, disse Luiza sobre o status que a bicampeã olímpica recebeu, de como ela vem se tornando cada vez mais a “cara do Brasil” quando o assunto é esportes. Durante as duas últimas Olimpíadas, o Brasil foi contemplado com seis medalhas envolvendo a ginástica. 

Medalhas olímpicas conquistadas pela ginástica feminina brasileira. Arte: Gustavo Gomes

Entre as medalhistas premiadas nas Olimpíadas de Paris mais da metade das vencedoras é associada ao Clube de Regatas do Flamengo (RJ). A associação, que já é tradicional no cenário futebolístico, cresce também em outros esportes praticados no país, dentre eles, a ginástica artística. Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa e Lorrane Oliveira são todas integrantes do grupo de atletas do clube, que cedeu 12 competidores para as modalidades em que o Brasil participou nas Olimpíadas.  

O total de investimentos privados, segundo dados divulgados pelo próprio clube, chegam a R$40 milhões em esportes olímpicos. Só em 2022, o clube chegou a investir por volta de R$ 1,3 milhão apenas para modernizar seus equipamentos de ginástica. 

Aqui [no Brasil], só investimos em quem já ganhou a medalha, mas o problema está no caminho até lá

HUGO MEZA, ECONOMISTA

Apesar da evolução brasileira nas competições internacionais, o país carece de avanços em termos de investimento e acessibilidade a essa modalidade esportiva. O economista e professor Hugo Meza comenta que, apesar do grande passo que o Brasil já deu, ainda há carência de políticas públicas de incentivo ao esporte. “Nós temos políticas separadas, mas elas não têm um objetivo claro de impulsionar o esporte de forma geral. Aqui, só investimos em quem já ganhou a medalha, mas o problema está no caminho até lá”, diz o economista.  

Dados reforçam essa análise. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) em 2022 aponta que o Brasil investe cerca de R$ 148,9 milhões no esporte, uma quantia bastante inferior quando comparada a nações como os Estados Unidos, que destina cerca de R$ 22 bilhões ao setor esportivo, e a China, com R$ 5,5 bilhões anualmente. Esse desnível reflete diretamente no quadro de medalhas olímpicas, onde essas potências dominam as primeiras posições, enquanto o Brasil, ainda que tenha feito progressos, permanece distante do topo. 

Investimento dos países x número de medalhas conquistadas. Infográfico: Gustavo Gomes

Hugo ainda cita que essa falta de investimentos acaba causando um ciclo vicioso, já que, muitas vezes, para se destacar no esporte, o atleta precisa utilizar seu próprio dinheiro para conseguir manter sua rotina de treinos ou buscar iniciativas privadas, uma lógica que acaba aumentando a desigualdade social no mundo esportivo. Muitas vezes, um atleta talentoso não pode desenvolver completamente suas habilidades por conta da falta de capital. 

Para mudar esse cenário, Meza acredita que é preciso uma mudança na forma em como o país encara o esporte. “Nosso foco deveria estar em desenvolver talentos desde a base, não apenas em quem já está pronto para ganhar medalhas. A implementação de políticas fiscais que incentivem empresas a investir em esportes seria um grande passo nesse sentido”, sugere o professor. 

Do lado dos atletas, a esperança de um futuro mais promissor está cada vez mais presente. “As meninas da nova geração estão se espelhando nas mais antigas, e isso é muito importante. Com essa passagem de experiência e sabedoria, elas vão chegar ainda mais preparadas”, conclui Luiza Trautwein, otimista com o futuro da ginástica no Brasil e com a esperança de ouvir, cada vez mais, o hino nacional no topo das principais competições. 

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