sáb 19 abr 2025
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Gregório Duvivier exalta a poética popular da língua portuguesa em “O Céu da Língua”

A peça “O Céu da Língua”, que conta com a direção da atriz e cantora Luciana Paes, foi assistida por mais de 7 mil pessoas no Festival de Teatro de Curitiba

O ator, humorista, roteirista e escritor Gregório Duvivier trouxe ao Festival de Curitiba um monólogo que mescla dramaturgia e stand up – com uma pitada de musical. A comédia “O Céu da Língua”, peça parte da Mostra Lúcia Camargo, aborda sobre as origens e significados das palavras da língua portuguesa e foi escrita pelo próprio Duvivier, dirigida pela atriz e cantora brasileira Luciana Paes.  

O espetáculo é engrandecido pela direção musical do baixista Pedro Aune, responsável também pela execução da trilha sonora da peça, e pela designer Theodora Duvivier, irmã de Duvivier, que projeta palavras nas paredes do teatro ao longo do espetáculo.  

Equipe de “O Céu da Língua” em entrevista coletiva no Hotel Mabu. Foto: Camila Calaudiano. 

No palco, Duvivier interpreta um texto que viaja entre a história da linguagem, passando pelas influências que diferentes povos, como árabes e africanos, tiveram na construção da língua portuguesa, mas que acaba esbarrando sempre no mesmo ponto: a poética onipresente que permeia o nosso “português do dia a dia”.  

Um dos exemplos levantados pelo comediante é o do corpo humano, que segundo o ator é um “templo de metáforas adormecidas”. A metáfora é um dos artifícios clássicos da poesia e palavras como batata da perna, céu da boca e planta do pé são ditas constantemente, sem que se perceba o valor poético e metafórico existente nessas expressões.  

Tratando das influências africanas na constituição do português, um dos exemplos trazidos por Duvivier é a palavra “bagunça”, tão utilizada cotidianamente e que tem origem na palavra “bangula”, da língua africana quicongo, utilizada para designar desordem. Outra palavra curiosa comentada na peça e que tem origem em línguas africanas, é a expressão “muxoxo”, utilizada para designar o ato de estalar a língua no céu da boca como sinal de desdém – o famoso “tsc”. 

Segundo o humorista, que é formado em Letras pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e se autodeclara um ufanista da língua portuguesa, o objetivo da peça é justamente “mostrar que a poesia é acessível a todo mundo. Apesar do mito de que poesia é para poetas e que o poeta é um cara iluminado, que vive numa torre de marfim. A minha ideia é o contrário disso, quero mostrar que a poesia está ao rés do chão, que ela é gratuita e acessível a todos. E essa é uma paixão muito gostosa de se ter”, afirma o ator. “A nossa relação com as palavras pode ser utilitária, quando utilizada para nos comunicar, mas também pode ser gastronômica, pois podemos utilizá-las para nos deliciar”, completa. 

A peça atraiu ao Teatro Guaíra um público estimado em 7.200 pessoas, em três apresentações. Uma delas foi Guilherme Gontijo, 41, escritor e vencedor do Prêmio Jabuti (tradução), que declarou: “O Gregório [Duvivier], conseguiu representar de maneira hilária a presença de elementos poéticos no cotidiano. As pessoas, nas conversas despreocupadas fazem jogos de linguagem, rimas, aliterações, trocadilhos, metonímias”.  

Para o designer Pedro Ornieski, 23, em seu olhar como espectador, “a peça acaba sendo uma aula não convencional de Letras”, comparou. “A forma com que o Duvivier traz um olhar filosófico mesclado com conhecimento técnico é muito cativante. Depois da peça, passei a pensar a poesia de uma maneira diferente”, completou. 

A comédia “O Céu da Língua” continua em turnê pelo Brasil. A próxima capital a receber o espetáculo será São Paulo, para uma temporada no teatro Sérgio Cardoso, que ocorrerá entre 1º de maio e 1º de junho. 

FICHA TÉCNICA

Repórteres: Camila Calaudiano e Manoel Salvador  

Revisor: Alice Lima

Edição final: Alana Morzelli

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