Em 2009, a peça In On It, adaptação do texto homônimo de Daniel Maclvor, fez uma temporada de sucesso nos palcos do Brasil, o que rendeu à obra o reconhecimento do Prêmio Shell – mais importante do teatro brasileiro – nas categorias de Melhor Direção, para Enrique Diaz, e Melhor Ator, para Fernando Eiras. Depois de 15 anos, a peça retornou ao Festival de Curitiba nos dias 2 e 3 de abril, onde conquistou grande sucesso no ano de 2010. Depois de mais de uma década, o mundo passou por grandes transformações. Mas os atores Fernando Eiras e Emílio de Mello, o diretor Enrique Diaz, o texto e até as cadeiras do cenário permanecem iguais à primeira exibição do espetáculo.
A ideia de reviver a peça surgiu de um post despretensioso feito por Emílio em seu Instagram, no qual perguntava aos seguidores se gostariam de ver In On It de volta aos palcos. A postagem bombou e a resposta foi unânime: todos desejavam assistir novamente ao espetáculo que tanto marcou sua época. Mesmo sem patrocínio, o espetáculo lotou salas no Rio de Janeiro e, após o Festival de Curitiba, segue a temporada em São Paulo.
In On It é marcada por gerar confusão nos espectadores ao retratar realidades distintas em um curto espaço de tempo. In On It utiliza do metateatro ao longo de toda a construção da narrativa que segue a história de um homem desiludido com a vida. A peça também é sobre dois amantes que veem seu amor terminar e dois homens narram essa história. Emílio e Fernando interpretam todos os dez personagens do espetáculo.
A relação dos atores com o texto, devido ao hiato, não permanece a mesma. Segundo Emílio, “um ator que se relaciona com o texto da mesma maneira que há 15 anos é um ator que não está vivendo o seu tempo. A cada ensaio, a cada espetáculo, a gente descobre uma coisa nova no texto.”

Temática e recepção
A maneira de lidar com a perda é algo que não muda
Emílio de Mello, ator
A peça é uma das dez produções da mostra Lúcia Camargo – a principal do Festival – que trazem à tona temas LGBTQIA+ em sua narrativa central. Para o diretor-presidente da Aliança Nacional, organização brasileira LGBTQIA+, Toni Reis, “o teatro é fundamental para a mudança de comportamento. Ter peças que retratem a realidade da comunidade LGBTQIA+ é importante, pois as pessoas veem e se acostumam. A cultura muda tudo”.
Com o surgimento de uma nova geração na plateia, surgem também novas reações. “Desde que meu marido me conhece, eu falo dessa peça”, contou a comerciante Ana Carolina do Rosário, que já assistiu ao espetáculo duas vezes e agora leva a filha para ver pela primeira vez. Já a professora Célia Neves, na fila para ver a peça pela primeira vez, revelou: “Como conheço os atores, estou com uma expectativa excelente. Sei que vai ser ótimo.”
Para Emílio de Mello, os temas do espetáculo são profundamente arquetípicos e universais, o que continua a prender o público. Ele afirma: “A maneira de lidar com a perda, a relação com a perda, é algo que não muda… esses temas não mudam drasticamente em 15 anos.”
Ficha Técnica
Repórteres: Gabriel Costa e Sophia Martinez
Revisor: Rodrigo Matana
Edição Final: Alana Morzelli