qui 21 nov 2024
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Livrarias de rua adotam estratégias para resistir à tendência do mercado editorial 

Em Curitiba, a venda física de livros persiste, apesar do êxodo progressivo do Centro e pressões do comércio online, que já representa 32,47% do faturamento das vendas de livros no Brasil

A facilidade de comprar qualquer produto sem sair de casa afetou diretamente os estabelecimentos comerciais. As 556 empresas que, segundo levantamento Bem Paraná com base em informações do Mapa de Empresas, atuam no comércio varejista de livros em Curitiba, parecem contradizer a tendência de esvaziamento dos espaços físicos. A professora Edna Cicmanec, da FAE Curitiba, especialista em comportamento do consumidor, aponta que a troca do ambiente de compra se dá por diversos fatores. “A venda no sistema de dropshipping – em que o lojista vende produtos online sem ter estoque próprio –, a facilidade de acesso a preços competitivos e a conveniência do e-commerce torna-se muito atraente para os consumidores”, elenca. 

Em 2023, de acordo com pesquisa realizada pela Nielsen e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), as livrarias exclusivamente virtuais representaram 32,47% do faturamento total do mercado editorial brasileiro, contra 27,97% das livrarias tradicionais. A estratégia consiste, muitas vezes, em sufocar os concorrentes com preços praticamente impossíveis de se concorrer – prática conhecida como dumping. Ainda em 2019, de acordo com estimativa da plataforma Statista, a Amazon já concentrava metade das vendas online de livros e 80% das vendas de e-books no Brasil. 

Uma das estratégias das livrarias de rua no Centro é diversificar o ambiente. Foto: Sophia Martinez

Olhar para o público  

“É como se desacelerasse toda a rotina e eu finalmente respirasse, e eu respiro os livros”

Maria Eduarda Rompala – Estudante

A Nielsen e CBL também traçaram o perfil dos leitores brasileiros. A pesquisa revelou que 40% dos consumidores de livros preferem a compra presencial. O principal motivo da escolha (52,4%) é poder ver/abrir o livro antes de comprá-lo. Para a estudante e leitora Maria Eduarda Rompala (19), estar em contato com a obra faz toda a diferença.  “Gosto de quando vou em algum compromisso no Centro e sempre paro [em uma livraria]. Eu gosto dessa sensação… é como se desacelerasse toda a rotina e eu finalmente respirasse, e eu respiro os livros”, salienta a jovem.  

De acordo com a professora Cicmanec, esse sentimento se opõe ao perfil do consumidor atual – que busca por conveniência, rapidez e eficiência – e pode ser uma vantagem para os livreiros que buscam criar um espaço de convivência. No entanto, Barbara Tanaka, proprietária da livraria de rua no Centro de Curitiba, a questão econômica também impacta a sobrevivência desses espaços físicos. “Um grande desafio é acostumar o público com a precificação do livro, que depende de muitos fatores”, destaca a proprietária.  

Maria Eduarda integra os 22% de compradores de livros no Brasil que possuem 18 a 24 anos. Para atrair o público, especialmente os jovens, as livrarias de rua adotam estratégias especiais. Livrarias de rua com cafés, galerias, tornaram-se cada vez mais comuns. O livreiro Thiago Tizzot revela: “Tem várias razões que coloca o jovem nas livrarias, seja uma coisa simples como vir para tirar uma foto para o Instagram, seja porque existe essas séries [de livros] voltadas principalmente para meninas entre seus 17 e 20 anos e que tem aumentado esse público.”  

Arte: Sophia Martinez

Curadoria como estratégia 

“Aqui [na livraria física] você vai entrar em contato com muita coisa que não conhecia, e não ler as coisas que o algoritmo vai te dar, que vão de acordo com o que você já leu”

Thiago Tizzot / Livreiro

A tendência de esvaziamento do Centro afeta diretamente o mercado editorial. A professora indica que os motivos desse êxodo central “decorrem diretamente do aumento dos custos fixos e variáveis destes negócios, muito maiores que as operações virtuais. O aumento nos custos não são proporcionais às receitas geradas. A conta não fecha”. Barbara comenta que o abandono do Centro da cidade e a falta de fluxo de pessoas nos últimos anos refletem em seu negócio. Mas ela também vê a situação como uma oportunidade. “Ainda há uma necessidade de ressignificar o Centro da cidade. Com a livraria, esperamos também contribuir para esse movimento.”  

Apesar dos desafios, ao contrário das grandes redes, nas quais o foco é a venda em massa, as livrarias de rua oferecem uma seleção de títulos, ambiente e eventos escolhidos especialmente para atender ao gosto particular de seus clientes. Esse diferencial é crucial na hora de se optar por uma livraria de rua e atrair o público presencial, como destaca o livreiro. Para Thiago, a curadoria é fruto de muita pesquisa. “Aqui você vai entrar em contato com muita coisa que não conhecia, e não ler as coisas que o algoritmo vai te dar, que vão de acordo com o que você já leu.”

Barbara também preza a curadoria e observa especialmente seu público, visto que, além de livraria, o espaço que gere é café e selo editorial. Mesmo ao perceber a maior presença de mulheres em seu estabelecimento, Barbara busca o equilíbrio na hora da escolha dos títulos. “Os livros com maior saída na livraria são principalmente os de prosa contemporânea escritos por mulheres, mas sempre fazemos o possível para conseguir os livros procurados pelos clientes, por meio de encomendas”, revela. Esse cuidado faz toda a diferença para Maria Eduarda. “Sinto que elas não ligam só para a venda em si, mas para qual sentimento irão despertar ao leitor”, ressalta a estudante.  

Reportagem: Sophia Martinez

Edição: Gustavo Gomes e Marya Marcondes

Orientação: Cândida de Oliveira

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