sáb 20 abr 2024
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Narcos: a droga colombiana em formato americano

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Créditos: Netflix

 

Narcos é a série da Netflix, lançada em 2015, que conta a história de Pablo Escobar. Ela explica como ele saiu de um criminoso comum para ser o dono do maior império de tráfico de cocaína.

Ambientado na Colômbia dos anos 80, a série se propõe a contar, de maneiras não tão convencionais, a trajetória do traficante. Com um narrador, o personagem Murphy, membro do DEA (Departamento Anti-Drogas dos EUA), a verdade se mistura com a ficção em diversos momentos. A narração vai nos explicando alguns acontecimentos, mas ela parte somente do ponto de vista do agente, e representa uma história sendo contada depois de acabada.

 

Wagner Moura em Narcos (Créditos: divulgação)
Wagner Moura em Narcos (Créditos: Netflix)

 

A série inova por não ter um formato de documentário, com entrevistas e narrações típicas do gênero, mas ao mesmo tempo utiliza fotos e vídeos reais para dar ênfase aos acontecimentos (especialmente à violência, relatada na segunda metade da temporada).  A famosa foto da cadeia de Escobar, que prejudicou sua carreira política, aparece tanto com o personagem como com o próprio Pablo. Isso ajuda a entender a dimensão dos acontecimentos e a ver que, apesar de ser uma obra de ficção, ela conta com vários elementos históricos em sua narrativa.

Sendo uma obra baseada em fatos reais, é natural que dramatizações ocorram. Há várias controvérsias sobre alguns acontecimentos relatados na série, como por exemplo a associação de Pablo Escobar com o atentado ao Congresso colombiano promovido pelo grupo guerrilheiro M-19. Na série, é dado como certo e até financiado por Pablo, mas na realidade não existem provas que liguem o grupo ao chefão colombiano. É importante ter isso em mente, que o plano geral funciona e explica muito dos acontecimentos dessa época de guerra e terrorismo na Colômbia, mas que nem tudo que está ali apresentado em detalhes relata uma verdade.

 

Cena da primeira temporada da série Narcos (Créditos: Daniel Daza/Divulgação)
Cena da primeira temporada da série Narcos
(Créditos: Daniel Daza/Netflix)

 

A série, por ser produzida pelo Netflix, está disponível somente em formato digital. Típico das produções da empresa de vídeos sob demanda, a série foi colocada online com todos os dez episódios da primeira temporada prontos para serem assistidos. A tensão aumenta a cada episódio, e cada um deles se faz completo na história que propõe e ao mesmo tempo é uma peça de um quebra-cabeça maior formado pela temporada inteira e, provavelmente, pela série como um todo. Há momentos em que a ansiedade chega junto com o fim do episódio, estimulando o ínicio do seguinte. Embora seja uma estratégia da empresa, não é comum ter esse tipo de formato para os enlatados americanos.

Algumas séries até utilizam do tempo entre um episódio e outro para que seus espectadores fiquem apreensivos, querendo o mais rápido possível o próximo capítulo, algo que não acontece com séries do Netflix. São casos de séries consagradas, como Lost e Breaking Bad, que utilizavam desse recurso para alimentar a discussão e assim aumentar sua audiência. Claro que esse problema não cabe ao roteiro da série, mas sim à estratégia de sua produtora. Fato é que Narcos consegue causar sentimentos muito próximos aos que essas séries faziam com seu público.

 

Tropa de Elite colombiana

Produzido e dirigido por José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2, Robocop), Narcos é também estrelado por Wagner Moura (Tropa de Elite 1 e 2, Elysium).  A dupla que fez sucesso no cinema brasileiro com Capitão Nascimento e o BOPE agora está buscando novos patamares.

O diretor, que já mora nos EUA há alguns anos e já produziu um filme de grande orçamento como Robocop, sabe administrar muito bem os atores que ali estão, e soube dar conta do recado com uma série que não se limita à América Latina. Já o ator não errou diante do papel. Wagner Moura convence tanto como Escobar que estimula a simpatia pelo vilão. A dicotomia da série se faz, então, presente. De um lado, a luta contra as drogas; do outro, esse personagem que dá uma profundidade única a um dos nomes mais conhecidos da América Latina do fim do século XX.

Moura ainda tem sido criticado por conta de seu espanhol, que parece destoar dos demais atores que também falam a língua oficial da Colômbia. Na realidade, exceto para quem fala fluentemente o espanhol, essa diferença passa desapercebida. Pode não ser dos melhores, mas em nenhum momento chega a atrapalhar a trama, o personagem ou a imersão na série.

Padilha trabalha em Narcos com o assunto que mais gosta: política. As cenas que são carregadas de disputas e decisões políticas mostram muito bem esse fator. Não há clima leve, o risco está presente a todo momento. A violência que a série traz, muitas vezes de maneira explícita, com certeza não retrata nem uma fração do que aconteceu de verdade. O diretor não se acanha ao mostrar as execuções, no drama, ou as fotos e vídeos, da realidade. Vemos seu traço peculiar que marcou o primeiro Tropa de Elite de novo em Narcos.

Narcos pode não ser o retrato fiel dos acontecimentos, mas a série não se propõe a isso. Procura relatar a vida de Escobar, sua família, seus parceiros e sócios, seus inimigos e seus perseguidores. De uma maneira humana, mas sem deixar de lado os horrores que aconteceram naquele período.

 

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