O ser humano sempre teve necessidade de armazenar informações, seja na parede de cavernas ou em bloco de notas. É por isso que a invenção de equipamentos eletrônicos e o desenvolvimento de dispositivos de memória se tornaram um grande desafio para a ciência.
Em busca de computadores cada vez menores e com mais memória, a ciência não para. Nesse ano a UFPR recebeu sua terceira patente com a pesquisa intitulada “Dispositivos de memória construídos de polímeros orgânicos e nanotubos de carbono”. Os responsáveis pelo trabalho foram o grupo de Química de Materiais da UFPR, em parceria com o grupo de Dispositivos Nanoestruturados do Departamento de Física.
Esse novo dispositivo criado por alunos e professores da Universidade usa o mesmo sistema binário – seqüências de 1 e 0 que formam caracteres e informações – que outros dispositivos anteriores já usavam. Para criar esses códigos é aplicada uma corrente elétrica nos nanotubos cruzados que faz com que as moléculas de ferro, que estão dentro dos tubos, “emprestem” elétrons do oxigênio que está na atmosfera. Caso haja uma troca de elétrons o material fica ligado, representando o numero 1 e, caso essa troca não ocorra, o material fica desligado representando o zero. Então é a seqüência de nanotubos, ligados ou não, que forma os códigos binários.
Esses novos dispositivos trazem grandes inovações. A Coordenadora do Grupo de Dispositivos Nanoestruturados, professora Lucimara Roman, ressalta que a maior novidade está na forma de usar energia: “A memória feita de nanotubos de carbono preenchidos com magnetita tem a gravação, leitura e regravação apenas utilizando a corrente elétrica e isso pode vir a ser uma vantagem em casos que o equipamento não precise possuir sensores magnéticos ou mecânicos.”
Já para o professor de Ciência da Computação Eduardo Todt a principal revolução que esse novo dispositivo irá trazer está no seu tamanho “A gente está atingindo o limite físico de reduzir células de memórias elétricas, um elétron de um componente de memória já está quase pulando para o componente vizinho, ou seja, é muito pequeno.
Apesar das várias novidades que o esse dispositivo traz, a ideia básica do seu sistema já é antiga. O professor Eduardo explica que a orientação de corrente elétrica surgiu nos primeiros tipos de memória que tivemos, os chamados núcleos de ferrite, depois passou-se a utilizar um sistema elétrico aonde a presença, ou não, de elétrons define se aquele signo é 1 ou 0. E agora, os nanotubos representam um retorno a orientação de correntes: “É interessante esse paralelo porque do mesmo jeito que na década de 60 ou 70 a gente tinha a orientação magnética, voltamos a ter orientação de nanotubos de carbono e a posição desses tubos que armazenam determinado dado.”
Apesar da boa descoberta que rendeu uma patente, as ideias ainda não saíram dos laboratórios. Segundo a professora Lucimara o problema é que a escala de produção em laboratório é muito menor do que o mercado exige. Mas a ideia é que, algum dia, esses produtos possam chegar à mão de consumidores “São mundos ainda distantes que precisam se encontrar”, afirma a professora.