sex 28 nov 2025
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O Estado tarda e falha no bairro Parolin 

Enquanto moradores do Parolin lutam por uma agenda com o Ministério Público do Paraná (MPPR) para discutir execuções e espancamentos, a Rede Nenhuma Vida a Menos aponta o racismo e a falta de controle institucional como entraves à justiça em Curitiba.

Há meses, familiares de vítimas aguardam o cumprimento de uma promessa: a reunião com o procurador-geral, Francisco Zanicotti, firmada após um protesto em agosto em frente ao MPPR. Um novo ofício, enviado em setembro com prazo de 15 dias, também não obteve resposta. Na avaliação da Rede Nenhuma Vida a Menos, o órgão é omisso e conivente com a violência policial. “Quando as respostas são fornecidas, são genéricas e repetem informações que a comunidade já conhece”, critica o movimento.  

Procurado, o MPPR afirmou, em nota padronizada, sua atuação por meio do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp)  que recebe comunicação de todos os confrontos policiais no estado e encaminha os casos às promotorias competentes.  

Protesto nas escadarias do Prédio Histórico exigindo resposta do MPPR. Foto: Rede Nenhuma Vida a Menos.

Os relatos de violência se acumulam e apontam para a escalada da truculência policial no Parolin. As vítimas são majoritariamente homens jovens e negros, mas a violência atinge também mulheres, crianças e idosos. Os depoimentos descrevem invasões de domicílio sem mandado, destruição de pertences, humilhações contra trabalhadores, revistas vexatórias em crianças às portas das escolas e agressões a mulheres.

A situação foi resumida por uma moradora anônima: “De maio até agora já foram quatro invasões. Sem mandados, sem boletins de ocorrência, só a covardia mesmo”.

“De maio até agora já foram quatro invasões. Sem mandados, sem boletins de ocorrência, só a covardia mesmo”.

Moradora do bairro Parolin
Protesto contra a violência policial na Boca Maldita. Foto: Rede Nenhuma Vida a Menos

Em agosto, Ivan Ramos Mathias Filho, 23 anos, conhecido como Ivanzinho, morreu com suspeitas de tortura. Sua família descreveu o corpo com marcas de espancamento, roupas sujas de urina e perfuradas. Sobre o caso, o MPPR informou que o inquérito policial militar tramita sob sigilo na 1ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria Militar de Curitiba.  

Em outubro, foi a vez de Yago Gabriel Pires, 20 anos. Um vídeo mostra o jovem sendo arrastado por policiais, ainda com vida, dentro de um barracão de recicláveis. Minutos depois, uma foto registrava seu corpo baleado e sem vida no chão do mesmo local. A operação investigava tiros contra o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), ocorridos em maio. A Secretaria de Segurança Pública (Sesp) não se manifestou sobre a morte.  

O corpo de Yago Pires no barracão de recicláveis onde morreu. Foto: Reprodução

Presente em ato pela paz no Parolin, o deputado estadual Renato Freitas resume: “Aqui, faltam saneamento, saúde e educação, mas sobra polícia apavorando moradores e assassinando sonhos”.  

Enquanto as instituições silenciam, a comunidade segue nas ruas e nas redes, documentando, a cada dia, a violência que o Estado insiste em não enxergar.  

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