Por trás do bigode branco, o espírito juvenil. “Sou jovem há muito mais tempo que vocês”, divertiu a platéia o escritor Pedro Bandeira, em bate-papo mediado pelo jornalista Yuri Al’Hanati no segundo dia da 34ª Semana Literária do Sesc em Curitiba.
Aos 73 anos, com mais de 80 títulos publicados e 24 milhões vendidos, ele é um dos maiores autores de literatura juvenil do país e atravessa gerações com suas histórias. No mini auditório montado na Santos Andrade em meio a 13ª Feira do Livro da UFPR, que acontece junto com a Semana Literária, Pedro dispensou formalidades: logo que pegou o microfone ficou em pé e, no limite entre palco e plateia, contou histórias e sua relação com a escrita.
Obras
A voz grave e a didática de um contador de histórias, não escondem o sotaque do paulistano, que falou sobre seus maiores sucessos. O Fantástico Mistério de Feiurinha, Prêmio Jabuti em 1986, narra a história das princesas dos contos de fadas após o “felizes para sempre”. A obra teve teve uma adaptação cinematográfica com a apresentadora Xuxa em 2009 que traumatizou o escritor. “Não assistam de forma alguma, a não ser como castigo. Fazem o que querem com a obra da gente”, protestou. “Enquanto eu viver não quero mais que meus livros vão para as telas”, completou.
A ideia que surgiu durante uma crise de dor de cabeça, se tornou o maior sucesso do escritor. A Droga da Obediência é o primeiro volume da coleção Os Karas e teve mais de 1,6 milhões de exemplares vendidos. Droga de Amizade, o sexto e último volume da coleção, conta o que aconteceu com os personagens Miguel, Chumbinho, Calu, Crânio e Magrí após as três décadas de aventuras depois do primeiro volume da série. O lançamento foi escrito 14 anos depois do último, Droga de Americana (1999).
Gerações de leitores
Para o escritor, a maior dificuldade em dar continuidade à série é acompanhar as mudanças rápidas do universo tecnológico na vida de personagens que foram criados antes da conectividade digital. “Parei porque meus personagens são da década de 80. É difícil fazer histórias passadas no ‘hoje em dia’, tudo muda muito rápido”, revela Pedro Bandeira.
Foi nessa época, antes dos computadores, que a bióloga Juliana Oliveira conversou pela primeira vez com o ídolo. Mandou uma carta para Pedro Bandeira após ler o romance A Marca de uma Lágrima, outro sucesso do escritor. “Eu tinha uns 12 anos e parecia que ele estava falando para mim, parecia que os problemas que o personagem enfrentava eram os mesmos que os meus. Quando ele me respondeu fiquei muito emocionada”, relembra Juliana.
No auditório, turmas do 1º e 2º ano do ensino médio ouviram atentos às palavras do escritor. É a nova geração de leitores dos Karas, que formaram fila para tirar fotos e pegar autógrafos do autor no final da sessão. A professora de português Marcília da Conceição Gonçalves acredita que autores brasileiros deveriam ser mais indicados nas escolas e bibliotecas. “Eu gosto e indico. É uma linguagem para adolescentes. Tenho alunos de 10 anos que leem ele [Pedro Bandeira], como tenho os de 18 anos que leem também. O professor e bibliotecário dificilmente indica Pedro Bandeira. É mais fácil indicar Harry Potter do que uma coisa nossa”, declara a professora.
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