qua 04 dez 2024
HomeDestaquesPrograma do Governo Federal contra os crimes de ódio na internet desperta...

Programa do Governo Federal contra os crimes de ódio na internet desperta debate sobre os limites da liberdade de expressão

Com o objetivo de diminuir os crimes contra os direitos humanos, o Governo Federal criou o Pacto Nacional de Enfrentamento às Violações de Direitos Humanos na Internet, uma ferramenta onde o usuário pode denunciar casos de preconceito vistos ou sofridos na própria rede. Conhecido como Humaniza Redes, o programa, lançado no início de abril, funciona da seguinte maneira: quem encontra exemplos de agressões virtuais deve fazer o registro visual da página (printscreen) e encaminhar o link no site http://www.humanizaredes.gov.br/. A ferramenta ainda disponibiliza material para livre compartilhamento, apostando na conscientização como uma forma de prevenção mais eficaz contra as manifestações de ódio online.

humaniza redes1
Programa #HumanizaRedes: denúncia contra crimes de ódio em multiplataformas. (Foto: Bruna Remes)

Expressão e os limites

Crime de ódio é toda agressão gerada por motivo preconceituoso contra determinada pessoa ou grupo social, de forma explícita ou disfarçada. Quem ofende embasa seu argumento no direito à liberdade de expressão (confira o box sobre o Artigo V), entretanto, esse direito é relativo e deve ser ponderado por outras questões, conforme explica o advogado e pesquisador em Justiça Eletrônica, César Antônio Serbena. “Todos são livres para expressar suas convicções, desde que não violem outros princípios igualmente constitucionais, especialmente o principio da dignidade humana”, explica. Segundo Serbena, o anonimato e o conforto da internet trazem também um estímulo ao insulto. Ao pensar que ninguém poderá repreendê-lo, o agressor sente-se mais à vontade para atacar.

artigo v
Parte do artigo 5° da Constituição Federal de 1988, onde é garantida a liberdade de expressão desde que não haja anonimato. (Créditos: Diário Oficial da União)

O Estado na Esfera Virtual e censura

Tanto a logo do programa, acusada de ser um plágio, quanto o orçamento de R$ 300 mil foram alvo de inúmeras críticas. No entanto, a presença do governo na esfera virtual é o que mais está gerando discussão entre os usuários. Muitos internautas, inclusive famosos, como o apresentador Danilo Gentili, afirmam que o programa criado pelo governo é uma medida de censura imposta pela presidente Dilma Rousseff, onde críticas seriam reprimidas. Mestrando de Comunicação Social da UFPR e pesquisador da Internet, Nilton Kleina acredita que os apontamentos são infundados. “O Humaniza Redes significa mais uma entre as poucas iniciativas do Governo Federal de criar um canal direto e mais específico de comunicação com a população. A sociedade, em geral, acaba sendo ingênua ao achar que canais de denúncia e participação devem ser “de raiz”, nascer e crescer fora do Estado”, argumenta Kleina.

O pesquisador Serbena esclarece que, de acordo com o Marco Civil da Internet (Lei 12.965, de 23 de abril de 2014), a rede é um território neutro em que cidadãos e Estado são iguais em poder. “Toda tecnologia tem pontos positivos e pontos negativos, e o mecanismo mais eficiente para o controle é a polícia e o Estado atuarem em cooperação com as redes sociais e os grandes disseminadores de conteúdo”, defende.

 

Criadores da logo acusados de plágio. Comparações entre as ilustrações da capa do livro de Lurlene McDaniel, publicado em 2010, e do álbum de Erasmo Carlos, lançado em 2011.
Criadores da logo acusados de plágio. Comparações entre as ilustrações da capa do livro de Lurlene McDaniel, publicado em 2010, e do álbum de Erasmo Carlos, lançado em 2011. (Créditos: Amanda Pupo)

Provas?

A facilidade no uso da ferramenta alerta para o risco de ocorrerem denúncias falsas, o que poderia resultar até mesmo no cerceamento da liberdade de expressão apontada por alguns internautas. Provas alteradas ou forjadas, a partir das facilidades tecnológicas, colocariam o usuário denunciado em problemas. Kleina alega que a falsificação de provas não é exclusividade do espaço online e que mesmo nos meios tradicionais isso pode ocorrer. “As fraudes podem existir da mesma forma em que é possível ligar para o 190 e passar um trote”, ele sustenta. Questionada sobre o assunto, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, responsável pelo programa, divulgou em nota o procedimento adotado quando se recebe uma denúncia: “A veracidade das denúncias são avaliadas pelos órgãos de investigação e do sistema de justiça. Em caso de fraudes ou qualquer outro crime, são os órgãos de investigação que tomam as providências cabíveis. Até porque fraude, adulteração e falsificação são crimes”.

 

Disque 100 continua funcionando

Canal tradicional para denúncia de crimes contra direitos humanos, o Disque 100 continua sendo uma opção. Para o pesquisador Nilton Kleina, os dois serviços são complementares.”O Disque 100 é direcionado para denúncias que ocorrem fora da internet e continua operando normalmente por telefone. A diferença é que agora existe também em versão virtual, incorporada ao Humaniza Redes, por meio de uma ouvidoria online no site”, argumenta. Ou seja, para denunciar crimes ocorridos fora da internet, o usuário também pode usar a ferramenta virtual.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo