qui 28 mar 2024
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Abusos trabalhistas e falta de direitos ofuscam performance das seleções

Catar e FIFA permanecem inflexíveis frente aos protestos contra leis discriminatórias e violações trabalhistas do país-sede

Há doze anos, numa decisão inédita, os 22 dirigentes do comitê da FIFA escolheram um país do Oriente Médio para sediar a Copa do Mundo 2022. Além de inédita, a escolha também é controversa.

Na época do anúncio, o Catar, país com 2,9 milhões de habitantes, não tinha nenhum estádio apto a sediar a Copa, nem infraestrutura suficiente para receber ou acomodar os visitantes do evento. O país, cujo território tem metade do tamanho de Sergipe, o menor estado brasileiro, também enfrenta temperaturas escaldantes – e perigosas – que frequentemente passam dos 40°C no verão (o que forçou a Copa a ser realizada em novembro e dezembro, durante o inverno do Hemisfério Norte). 

Não havia, perceptivelmente, razões pelas quais o Catar deveria ser o favorito para sediar a Copa, principalmente frente às propostas de países que já haviam sediado o evento, como Estados Unidos, França, Coreia do Sul e Japão. Por conta disso, as acusações de suborno à FIFA ganharam credibilidade e até hoje fazem parte das polêmicas da edição, como elencado pelo Globo Esporte

Em contrapartida, especialistas geopolíticos do Golfo Pérsico explicaram que sediar a Copa do Mundo é parte de uma ambição de longa data do país, em entrevista à BBC News, publicada no dia 20 de novembro. 

Desde 1995, quando o xeique Hamad Ibn Khalifa Al-Thani tomou o poder de seu próprio pai (e em 2013 abdicou em favor de seu filho, o atual emir Tamim Ibn Hamad Al-Thani), o Catar investe em uma série de aberturas econômicas. Como resultado, segundo o Fundo Monetário Internacional, o país é hoje o mais rico do mundo em relação ao PIB (Produto Interno Bruno), devido à exportação de petróleo.

Em adição a isso, ao construir museus, abrigar torneios esportivos internacionais (como os Jogos Asiáticos de 2006) e atrair universidades ocidentais para parcerias, o Catar enriqueceu, também, em relevância internacional.

“O Catar investe em uma série de aberturas econômicas. Ao construir museus, abrigar torneios esportivos internacionais e atrair universidades ocidentais para parcerias, o Catar enriqueceu, também, em relevância internacional.”

Na última década, o Catar vem se preparando para receber diversas culturas de todos os cantos do globo, com uma expectativa de abrigar cerca de 1,5 milhões de torcedores. Para receber os jogos foram construídos oito estádios na capital, Doha, e nos arredores. 

Sediar a Copa do Mundo, de acordo com Chris Doyle, diretor do Conselho para Compreensão Árabe-Britânica, para a BBC News, é o ápice deste processo.

A Copa mais polêmica de todas?

Nas semanas que antecederam a Copa do Mundo, com mais minúcia do que na última década, o Catar se tornou alvo de críticas devido às violações aos direitos humanos, reportadas por plataformas globais como a Humans Rights Watch. 

O guia de 42 páginas, “Qatar: FIFA World Cup 2022 – Human Rights Guide for Reporters” (Catar: Copa do Mundo FIFA 2022 – Guia de Direitos Humanos para Jornalistas, na tradução literal), publicado pela Humans Rights Watch em novembro deste ano, resume as preocupações gerais com relação aos direitos humanos no país.

A instituição relatou que a infraestrutura do torneio (oito estádios, a expansão de um aeroporto, um novo metrô, vários hotéis e outras infraestruturas importantes, com um custo estimado de US$ 220 bilhões) foi construída por trabalhadores migrantes, que trabalharam em condições insalubres e análogas à escravidão.

“A infraestrutura do torneio foi construída por trabalhadores migrantes, que trabalharam em condições insalubres e análogas à escravidão”

Além das mais recentes denúncias, também foram salientadas as leis discriminatórias contra mulheres e a população LGBTQIA+, contra a liberdade de expressão e contra a liberdade de imprensa. 

A FIFA, apesar de notificada quanto aos problemas, não demonstrou comprometimento com a segurança dos trabalhadores e ameaçou punir as seleções que pretendiam protestar a favor dos direitos humanos. Em resposta, as seleções da Alemanha, Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Holanda e Suíça desistiram da braçadeira contra a homofobia. 

A entrevista com o mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Araújo, realizada pelos estudantes de Jornalismo Clarissa Freiberger, Eric Rodrigues, Gabriel Leão e Lívia Betim, busca esclarecer o complexo contexto político do Catar, um emirado absolutista e hereditário governado pela mesma família desde 1825. Confira abaixo.

#FocaNaCopa

A equipe do Jornal Comunicação, em conjunto com os professores de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, estão produzindo a iniciativa #FocaNaCopa, mesmo que a quase 12 mil quilômetros de distância da sede do evento. A Copa do Mundo reúne países de todos os continentes e é, sem dúvidas, o evento mais assistido durante sua veiculação. A cobertura envolverá reportagens para diferentes mídias, como rádio e televisão. Acompanhe a história e o impacto, social, político e econômico da Copa do Mundo, maior competição esportiva do globo, nas redes sociais e no portal do Jornal Comunicação.

Isabela Stanga
Estudante do curso de Jornalismo da UFPR.
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Isabela Stanga
Estudante do curso de Jornalismo da UFPR.
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