qui 25 abr 2024
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Projeto da UFPR realiza plantio de araucárias em Moçambique

Há dois anos plantadas, mudas já estão com 50 centímetros. Foto: Dartagnan Bággio Emerenciano

Em janeiro de 2010, um novo projeto de pesquisadores da UFPR  iniciou em Moçambique o cultivo de 125 mudas de uma árvore tipicamente brasileira: a araucária. Os estudos que começaram na Floresta de Inhamacari, em Machipanda, entram agora na fase de plantio na selva africana, e a equipe da universidade conta com as semelhanças do clima da região com o do Paraná para ter sucesso.

Ao visitarem Moçambique em 1981, um grupo de professores da Universidade Federal do Paraná constatou a presença de pinheiros-do-paraná (araucaria angustifólia) em regiões do país africano. Segundo um dos integrantes da equipe, o professor do departamento de engenharia florestal, Nelson Carlos Rosot, a espécie provavelmente foi levada para lá pelos portugueses, na época da colonização moçambicana.

Colonização pode ter sido responsável por levar a espécie para outro continente

Acredita-se que o pinhão tenha sido levado do Brasil em navios, como alimento, ou também que as sementes da planta tenham sido levadas pelos portugueses para pesquisas na colônia. As árvores de lá apresentavam cerca de 40 anos, já estando em seu estágio adulto, aparentando boa adaptação às condições do local. “A gente viu que nas partes mais elevadas de Moçambique tinha araucária. E isso despertou nossa atenção”, revela Rosot.

Segundo o professor, a decisão de plantar a araucária foi tomada por alguns fatores sociais e econômicos. “Nós vimos nessa espécie uma maneira de produzir madeira de grande valor comercial e também de gerar sementes (pinhões), que servem em determinadas épocas também para amenizar o problema da fome”.

De acordo com ele, apesar de ser uma árvore com um tempo de crescimento mais longo (ao contrário do pinus e eucalipto), a araucária apresenta uma madeira de maior qualidade. Essa também seria também uma forma de replantar a espécie levada pelos portugueses, que já foi bastante desmatada na região.

Por que a araucária se adaptou?

Nesses dois anos, as árvores já cresceram 50 cm, uma média satisfatória para os pesquisadores. Rosot diz que as condições do local são semelhantes as do Paraná. “Na área mais montanhosa, nós encontramos condições mais apropriadas, como temos aqui. Naquela região, o clima é de mais umidade, e o solo não fica tão ressecado. Na latitude, o local está um pouco acima de São Paulo, e por ter uma altitude maior, as temperaturas são mais amenas”, explica.

Além do clima, outros fatores são essenciais para a boa adaptação da planta. O solo profundo, com poucos afloramentos rochosos, é ideal para a árvore. “Ela também não suporta déficit hídrico, ou seja, épocas prolongadas com baixas incidências de chuvas”, completa Rosot.

Para que houvesse uma melhor adaptação dessas mudas ao clima mais seco da região, as árvores foram plantadas no período de chuvas, que vai do final de novembro até março. Antes disso, no viveiro, a quantidade de água irrigada nas plantas vai sendo reduzida, para que a mudança de lugar não seja tão brusca.

Para o professor Nelson Rosot, araucária plantada em Moçambique pode fornecer alimento e madeira de alta qualidade. Foto: Franciele Petry Schramm

Se a muda não tiver um porte regular de crescimento, ela está má adaptada ao local. A falta ou o desenvolvimento excessivo de galhos é um indicativo disso. Nesses casos, é provável que essa planta morra. Até agora, as araucárias plantadas parecem estar em crescimento satisfatório, apesar de ser ainda muito cedo para resultados conclusivos.

Mas, não descarta-se a hipótese de que algumas mudas possam morrer daqui a algum tempo. “Num plantio, você tem uma taxa de mortalidade. A questão do solo, ataques de formigas, de outros predadores e até o fogo podem ser algum dos responsáveis dessa perda”, fala Rosot.

No momento, estão sendo produzidas mais 1525 novas mudas em viveiros, em Moçambique. Com o início do período de chuvas, as plantas serão levadas a campo.

Espécies exóticas e riscos ambientais

Quando se transporta uma espécie a um lugar em que ela não ocorreria naturalmente, considera-se essa árvore exótica na região. Segundo artigo “Introdução de espécies não nativas e invasões biológicas”, produzido pelo professor da UFPR, Jean Vitule, a mudança do lugar de origem de plantas e animais para outra região do planeta, (acidental ou não) é uma das principais causas de mudanças globais. As espécies poderiam se dispersar pelo local, alterando o ecossistema da região.

Segundo Rosot, no caso das araucárias plantadas em Moçambique, dificilmente as árvores poderão interferir de maneira extrema no local. “O plantio não é em grandes extensões e é bem concentrado”, afirma. Vitule fala que, quando maior o número de indivíduos, maior o risco de invasão biológica. Mas tudo depende do acompanhamento da espécie. “A introdução, quando bem feita e estudada, não costuma causar problemas”, explica.

Para a diretora executiva do Instituto Hórus de Desenvolvimento Ambiental, Sílvia Ziller, a araucária não parece ter características que propiciem a invasão biológica. “As sementes, se não germinaram em poucos meses, não germinam mais. E por serem grandes e pesadas, precisariam de dispersores especializados, como é a gralha aqui”, analisa.

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