“A arte tumular é uma forma de individualizar o ente querido, demonstrar poder, exaltar símbolos cristãos e negar a morte”, explica Grassi. As estátuas e túmulos passam por constante depredação e são alvos de vandalismo. Em um ato mais recente, vândalos beijaram a boca de um importante monumento de mármore. O batom, rapidamente absorvido pela pedra porosa, só foi removido com o uso de escovas de aço que também danificaram o objeto.
O Cemitério Municipal São Francisco de Paula, o mais antigo de Curitiba, exibe estátuas, adornos e túmulos – verdadeiras obras de arte – para visitantes e curiosos. O passeio é conduzido pela cemiteróloga Clarissa Grassi, que também pesquisa o local.
É a arte quebrando mais um tabu. Ou melhor, enterrando um tabu!
Confira mais sobre o tour curioso na matéria “De túmulo em túmulo”, de Mariana Ceccon.
O cemitério é morada de diversas personalidades, de Barão do Serro Azul até a poetisa Helena Kolody. Um dos túmulos mais visitados é a da milagreira Maria Bueno. Cerca de cem pessoas passam diariamente para agradecer as graças da mulher, que foi degolada por um soldado, entre a Rua Barão do Rio Branco e Visconde de Nácar. Este foi considerado o primeiro crime passional da história de Curitiba.
A visita guiada é um projeto apoiado pela Fundação Cultural de Curitiba e realizado durante a Virada Cultural. Em dois anos de passeio, 240 curiosos por belas artes, história e turismo, visitaram o cemitério mais antigo de Curitiba.
Clarissa cuida do cemitério como se fosse sua casa. Cada vaso, flor e ornamento são juntados, postos no lugar de onde não deveriam ter saído. Tudo isso de modo quase inconsciente, enquanto a pesquisadora conta a história de alguma personalidade importante.
Com quase 52 mil metros quadrados o municipal possui 5.766 túmulos distribuídos por “bairros”, como brinca Clarissa. Ao fundo a grande cúpula é característica da quadra que a cemiterióloga costuma anunciar como “Batel”.
Além de belas artes, os visitantes recebem uma aula de história, economia e até de moda. Para Clarissa Grassi, o cemitério é o “espelho da sociedade” refletindo as divergências sociais e as crenças populares. O longo corredor leva até a pedra fundadora do cemitério.
Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres procuram a visita guiada. Ao contrário do que muitos podem pensar, o passeio está longe de ser mórbido ou triste. Até em um sábado chuvoso, a turma atinge mais de 50 inscritos.
Tirar fotografias dos túmulos apenas com autorização especial da prefeitura e da família dos mortos. Clarissa entrou em contato com os parentes de cada túmulo que apareceu em seu livro “Um olhar… A arte no silêncio”, lançado em 2006. O portal na foto representa o cuidado das famílias em ornamentar o local.
O Cemitério Municipal São Francisco de Paula foi fundado em 7 de dezembro de 1854, para suprir a necessidade de enterrar os corpos longe dos centro urbanos. Atualmente, localizado na Praça Souto Maior, centro de Curitiba, o cemitério passou a receber visitas guiadas pela cemiterióloga Clarissa Grassi.
“A arte tumular é uma forma de individualizar o ente querido, demonstrar poder, exaltar símbolos cristãos e negar a morte”, explica Grassi. As estátuas e túmulos passam por constante depredação e são alvos de vandalismo. Em um ato mais recente, vândalos beijaram a boca de um importante monumento de mármore. O batom, rapidamente absorvido pela pedra porosa, só foi removido com o uso de escovas de aço que também danificaram o objeto.