O grupo de música latino-americana Vientosur fechou a segunda noite do Festival de Antonina com uma apresentação no Palco Principal. O show foi bastante animado, com direito a espetáculos de malabarismo e dança na platéia. A apresentação teve problemas técnicos com o som em alguns momentos, mas o grupo contornou a situação com bom humor. O violonista e vocalista Carlos Segundo arrancou risos da platéia ao dizer que o grupo só usava tecnologia de ponta de estoque.
Música latina com encanto africano
O espetáculo ganhou o nome de “Encanto Negro”, título referente à forte presença cultural africana na identidade musical latino-americana. “A cultura negra é a base fundamental da música latina, desde o Uruguai até Cuba”, coloca Miguel Angel Rodrigues, vocalista e percussionista do grupo. No show, o grupo apresentou uma canção popular peruana na qual ficava clara a explicação: o ritmo era essencialmente africano.
Quem gosta de música latina, aprovou. Para a professora Gláucia Santos, moradora de Antonina e fã do grupo, “a música latino-americana tem alma, tem sentimento”. “Adoro o trabalho deles”, conclui. Até mesmo quem não conhecia o trabalho do grupo saiu satisfeito. O estudante de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR) André Pesserl gostou do que viu: “conheci hoje, mas achei o som deles muito bom”.
Resgatar para redescobrir
Rodrigues explica que o principal objetivo do Vientosur é resgatar os valores culturais latino-americanos. “A situação da América Latina só será melhor quando não tivermos vergonha da nossa terra”, afirma. De acordo com ele, existe uma forte conexão entre os diversos ritmos produzidos na região, graças à miscigenação entre índios, europeus e negros no continente. “Para todo ritmo existente em um ponto da América Latina, há um correspondente em outro ponto”, explica. “Se no Brasil há o samba, há um ritmo muito parecido na Argentina, também chamado de la samba”.
Para Rodrigues, esse resgate é essencial para o momento histórico que vive a América Latina. Em um momento de intenso conflito entre as elites culturais e as massas mestiças, especialmente em países como a Bolívia e a Venezuela, a música se torna um elemento central de afirmação política e étnica para os povos latino-americanos. “Precisamos redescobrir quem somos nós”, afirma. O percussionista afirma também que seria interessante se mais grupos tentassem promover a cultura latino-americana em sua totalidade, assim como o Vientosur.
O Vientosur foi fundado em São Paulo e está radicado em Curitiba há mais de 20 anos. Atualmente, o grupo é formado por três argentinos, Carlos Segundo, Jorge Francisco Javier Estigarriba e Luis Roger Gasparovic, um uruguaio, Miguel Angel Rodrigues, e um brasileiro, o maranhense í‚ngelo Teixeira Passos. A banda possui um vasto repertório de canções populares de diversas partes da América Latina, da cubana “Guantanamera” à brasileira “Romaria”.