Na quarta-feira, a Igreja Matriz voltou alguns séculos no passado. O Projeto Endriago, de música medieval, trouxe as melodias e composições dos cavaleiros, donzelas, senhores e servos para o Festival de Antonina, transformando a velha igreja em um pequeno feudo provençal.
O quinteto começou a tocar junto no início deste ano. Carlos Ramos, flautista e de trompa marina (um estranho instrumento de cordas), afirma que se encantou com a música e a cultura medieval quando estudava história da música. O gosto pela pesquisa histórica é necessário para quem se aventura a interpretar obras de origem tão antiga. “A técnica medieval é difícil e para fazer exatamente igual é praticamente impossível”, explica Ramos.
Além de exigir muita pesquisa, muitas vezes é preciso construir seu próprio instrumento. Ramos, por exemplo, montou sua trompa marina, instrumento pitoresco que lembra vagamente um violoncelo, em um laboratório da Universidade Federal do Paraná.
O repertório do Projeto Endriago vem de documentos dos séculos XII, XIII e XIV, como o Livro Vermelho de Montserrat (espécie de “index” de músicas cantadas por peregrinos). Como as letras das músicas estão escritas em dialetos feudais, hoje em desuso, Ramos utiliza a origem dos documentos para deduzir o jeito correto de cantá-las. “Se é de Montserrat, por exemplo, dá para imaginar que puxa um pouco para o francês”, diz ele.
A apresentação lotou a igreja e foi bastante aplaudida. “Deu vontade de dançar, achei ruim ter que ficar sentado na hora do espetáculo”, comentou o ator João Graf. O quinteto também gostou da experiência. “É esse o ambiente da música medieval”, contra Ramos. “Essa igreja tem uma vibração que recebe o som, ela deixa a sonoridade sair”.