No futuro todos terão seus 15 minutos de fama”. Maldita seja a hora em que o rei da Pop Art Andy Warhol proferiu a frase que parece estar a caminho de se concretizar. A qualquer momento, pessoas “causam” e viram notícia, pautando veículos nacionais e internacionais. Quem teve sua vez recentemente foi a modelo, atriz e rainha de bateria (sim, ela tem esses três “diplomas”) Nana Gouvêa, com suas fotos tiradas no ultimo dia 30 de outubro em meio aos destroços causados pelo furacão Sandy, na cidade de Nova York.
Apesar de o ator Julio Rocha e a apresentadora Janaína Jacobina também terem feito fotos semelhantes em meio ao furacão, foi Nana quem acabou sendo acusada pela imprensa ao redor do mundo de se aproveitar da desgraça alheia para alavancar sua carreira. Talvez a declaração dada por Nana, “I love Hurricanes” tenha contribuído ainda mais para seu destaque.
Depois do rebuliço, Nana disse que sua entrevista foi distorcida e que as fotos, tiradas a pedido de uma repórter do site Ego, só estavam tentando mostrar como as coisas andavam por lá. Uma semana após as imagens terem sido divulgadas, ela ainda fez um vídeo em que esclarecia sua versão dos fatos, que foi confirmada por seu marido, o produtor musical Carlos Keyes, que assegurou que a atriz jamais tentou se aproveitar da situação.
Nana é apenas mais uma entre milhares de moças que querem estar nos holofotes e fazem de tudo pra isso. Já não bastassem as mulheres de jogadores de futebol, ex-BBBs, panicats (e ex-panicats) e mulheres frutas, agora há até “peladonas” e “apalpadas” buscando uma capa de revista. Para as garotas que querem se tornar uma subcelebridade, a receita é fácil: arranje uma câmera, mostre suas curvas de maneira inusitada, jogue o resultado na internet, espere três minutos e voilà! Bertha Luz, que lutou tão assiduamente pelos direitos políticos das mulheres no Brasil, vai se revirar feito louca a sete palmos da terra, ao ver que, no século XXI, ainda há quem insista em ser reconhecida pela largura de suas coxas e circunferência de seu bumbum.
Uma mulher, ou melhor, uma pessoa, precisa ser reconhecida pelo seu conteúdo, pelo que fez e faz na sociedade. E se nunca alcançar fama? Ora, pra quê precisa dela? Seus familiares e amigos ainda vão saber quem você é mesmo que seu nome não esteja estampado na ultima edição da Ti-Ti-Ti. E convenhamos: ninguém “merece” ser famoso porque vai à academia todo dia.
O jornalismo de fofoca
Mais desprezível do que tentar ser uma celebridade instantânea é o comportamento da imprensa diante do assunto. Parece brincadeira, mas há jornalistas que escrevem manchetes como: “Apalpada diz que não gosta do apelido, é atriz!” ou “Peladona postou nova foto em sua página”.
Os sites de fofocas só existem porque há quem os leia e, acreditem ou não, eles têm muitos leitores. De fevereiro de 2010 a janeiro de 2011, por exemplo, o site Ego foi acessado por 31 milhões de computadores, o que representa uma quantia gigantesca, uma vez que o portal de notícias do mesmo grupo, o G1, teve, durante o mesmo período, 67 milhões de acessos.
Sinto que o “Ego” e seus companheiros terão vida longa, mas ao acessar a Internet, não é preciso lembrar que eles existem. Não se trata de ignorar o problema, mas de não dar Ibope a ele, na esperança de que em um futuro próximo e decente, uma foto de quem ganhou o ultimo prêmio Nobel de Medicina, por exemplo, tenha um destaque virtual maior do que um corpo torneado.
Seria bom compartilharmos mais imagens de um grupo de voluntários que está mudando a vida de uma comunidade e menos notícias sobre a última mulher que resolveu tirar a roupa no meio da rua. Se Warhol é mesmo um profeta, usemos outra frase dele como lema a partir de hoje: “Dizem que o tempo muda as coisas, mas é você quem tem de mudá-las”.