O esporte brasileiro tem dado grandes passos nos últimos anos, especialmente se prestarmos atenção nas Olimpíadas, com destaque para a ginástica artística. Junto ao judô, a modalidade foi a que mais trouxe medalhas para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e Paris 2024. Ginastas como Rebeca Andrade e a curitibana Júlia Soares vem trazendo cada vez mais atenção e procura ao esporte, especialmente na capital paranaense.
A coordenadora da Academia de Ginástica Artística do Paraná (GAP), Dayane Cristina, explica que o interesse público pela prática do esporte aumentou muito. “A procura triplicou após as Olimpíadas, nas semanas seguintes tivemos um boom muito grande na procura, as ginastas acenderam a vontade nas crianças de fazerem ginástica artística”. A coordenadora comenta a importância de atletas como Júlia Soares para as jovens ginastas. “Com certeza ela se tornou inspiração para muitas meninas daqui. A Julinha, além de ser uma grande atleta, é uma menina muito carismática e querida com todos e todos a admiram por isso também.”
Júlia Soares, ou Julinha, como é conhecida, é uma das medalhistas das Olimpíadas de Paris de 2024 e nasceu em Curitiba. A atleta fez sua carreira e toda a preparação olímpica no Centro de Excelência de Ginástica do Paraná (CEGIN). O centro é um dos maiores do estado, e dentre as atletas que já fizeram parte do time, destaca-se Luiza Trautwein, 22 anos, natural de Osasco. A ginasta conquistou diversos títulos importantes durante sua carreira, como o ouro por equipes no Campeonato Sul-Americano, ocorrido em Lima em 2022, e o título de campeã do Salto no Brasileiro Adulto de 2017.
Luiza conta que sua maior inspiração é Jade Barbosa, lenda da ginástica artística brasileira e companheira de equipe no Trofeo Città di Jesolo, competição na qual conquistaram a medalha de prata na classificação por equipes, junto com a também olímpica Flávia Saraiva, reserva da ginástica artística em Paris 2024, e Carolyne Pedro, integrante do Cegin.
Em um país onde predominam jogadores de futebol como ídolos do esporte, o recente sucesso olímpico de atletas como Rebeca Andrade vem criando uma onda de heroínas do esporte nacional. “Para mim, é algo incrível ver o quanto a ginástica está sendo prestigiada por causa da Rebeca”, disse Luiza sobre o status que a bicampeã olímpica recebeu, de como ela vem se tornando cada vez mais a “cara do Brasil” quando o assunto é esportes. Durante as duas últimas Olimpíadas, o Brasil foi contemplado com seis medalhas envolvendo a ginástica.
Entre as medalhistas premiadas nas Olimpíadas de Paris mais da metade das vencedoras é associada ao Clube de Regatas do Flamengo (RJ). A associação, que já é tradicional no cenário futebolístico, cresce também em outros esportes praticados no país, dentre eles, a ginástica artística. Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa e Lorrane Oliveira são todas integrantes do grupo de atletas do clube, que cedeu 12 competidores para as modalidades em que o Brasil participou nas Olimpíadas.
O total de investimentos privados, segundo dados divulgados pelo próprio clube, chegam a R$40 milhões em esportes olímpicos. Só em 2022, o clube chegou a investir por volta de R$ 1,3 milhão apenas para modernizar seus equipamentos de ginástica.
Apesar da evolução brasileira nas competições internacionais, o país carece de avanços em termos de investimento e acessibilidade a essa modalidade esportiva. O economista e professor Hugo Meza comenta que, apesar do grande passo que o Brasil já deu, ainda há carência de políticas públicas de incentivo ao esporte. “Nós temos políticas separadas, mas elas não têm um objetivo claro de impulsionar o esporte de forma geral. Aqui, só investimos em quem já ganhou a medalha, mas o problema está no caminho até lá”, diz o economista.
Dados reforçam essa análise. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) em 2022 aponta que o Brasil investe cerca de R$ 148,9 milhões no esporte, uma quantia bastante inferior quando comparada a nações como os Estados Unidos, que destina cerca de R$ 22 bilhões ao setor esportivo, e a China, com R$ 5,5 bilhões anualmente. Esse desnível reflete diretamente no quadro de medalhas olímpicas, onde essas potências dominam as primeiras posições, enquanto o Brasil, ainda que tenha feito progressos, permanece distante do topo.
Hugo ainda cita que essa falta de investimentos acaba causando um ciclo vicioso, já que, muitas vezes, para se destacar no esporte, o atleta precisa utilizar seu próprio dinheiro para conseguir manter sua rotina de treinos ou buscar iniciativas privadas, uma lógica que acaba aumentando a desigualdade social no mundo esportivo. Muitas vezes, um atleta talentoso não pode desenvolver completamente suas habilidades por conta da falta de capital.
Para mudar esse cenário, Meza acredita que é preciso uma mudança na forma em como o país encara o esporte. “Nosso foco deveria estar em desenvolver talentos desde a base, não apenas em quem já está pronto para ganhar medalhas. A implementação de políticas fiscais que incentivem empresas a investir em esportes seria um grande passo nesse sentido”, sugere o professor.
Do lado dos atletas, a esperança de um futuro mais promissor está cada vez mais presente. “As meninas da nova geração estão se espelhando nas mais antigas, e isso é muito importante. Com essa passagem de experiência e sabedoria, elas vão chegar ainda mais preparadas”, conclui Luiza Trautwein, otimista com o futuro da ginástica no Brasil e com a esperança de ouvir, cada vez mais, o hino nacional no topo das principais competições.