Fim do Futsac? Confederação Brasileira fecha as portas na pandemia e segue sem previsão de retorno

Órgãos responsáveis pelo primeiro esporte de origem paranaense estão fechados após grave impacto econômico

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Jogadores de Futsac em campo. Foto: reprodução/Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

O Futsac, primeiro esporte da história a ser criado no Paraná e primeira modalidade brasileira 100% desenvolvida no século XXI, sofreu fortes impactos na pandemia. A queda brusca no financiamento, majoritariamente vinda das visitas à escolas e venda de produtos, obrigou o escritório da Confederação Brasileira e da Associação Curitibana das Crocheteiras — entidade que produzia as clássicas bolinhas coloridas — a fechar.

Bolinha de Futsac. Foto: Reprodução/EsporteSC

Do começo ao fim do esporte

O esporte foi criado pelo pesquisador e empresário Marcos Juliano Ofenbock em 2002. As inspirações, conta Ofenbock, vieram de um intercâmbio na Austrália, em 1998. Um colega de quarto neozelandês mostrou a ele o Footbag, um esporte estadunidense jogado com uma pequena bolinha de crochê, que tem por objetivo mantê-la no ar com chutes. 

De volta ao Brasil, Marcos trouxe uma bolinha e costumava jogar “altinhas” com ela em círculos de amigos, mas ela acabou se perdendo. Assim começou a jornada de Ofenbock com o esporte. O pesquisador fez uma série de tentativas para confeccionar novas bolinhas, testando diferentes recheios, como areia, brita e até feijão. O acerto veio com o plástico polipropileno, granulado e reciclado de garrafas PET.

Além disso, para confeccionar a parte externa, de crochê, Marcos conta que visitou algumas costureiras da cidade e começou a pensar na parte social do esporte, considerando montar uma associação de crocheteiras para mulheres de baixa renda complementarem as finanças de casa.

Polipropileno granulado reciclado, usado para rechear as bolinhas. Foto: Reprodução/Plascamil

Depois, a imagem de um esporte competitivo surgiu. Ofenbock se inspirou em várias modalidades, como volêi, tênis, badminton, futevolêi e peteca. Então, quando as regras do jogo foram definidas, a primeira quadra oficial foi montada.

“Construí a primeira quadra de Futsac no quintal do meu escritório, onde o esporte nasceu. Lá, fiz o primeiro campeonato em 2007”.

Marcos Ofenbock, criador do esporte Futsac.

A Associação Paranaense de Futsac foi montada e, na sequência, a Federação Paranaense. O esporte se popularizou e se espalhou para Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Foram criadas as Federações Catarinense e Gaúcha e, a partir dessa união, surgiu a Confederação Brasileira de Futsac, entidade máxima do desporto. 

No ápice do esporte, foram realizados mais de 200 campeonatos. Ele também foi reconhecido como de origem paranaense, entrando na matriz curricular de Educação Física para ser ensinado nas escolas, pois colabora no desenvolvimento psicomotor das crianças.

Agora, Marcos conta como a COVID-19 mudou todo o cenário:

“A pandemia foi severa com o esporte. Ele dependia das apresentações em colégios, que eram um lugar de grande comércio das bolinhas. A gente tinha pontos de venda pela cidade, mas eram as apresentações que traziam mais retorno”.

No entanto, sem a principal fonte de renda, Marcos ficou sem condições de manter as estruturas da Confederação e Associação das Crocheteiras abertas. Na metade de 2020, quando percebeu que a pandemia não iria rescindir tão cedo, começou a dispensar funcionários, professores, até que os órgãos foram fechados de vez. Até hoje, permanecem sem previsão de retorno.

Em seu melhor momento, a Associação Curitibana de Crocheteiras tinha cerca de 100 trabalhadoras. Mulheres de baixa renda levavam o material para casa, confeccionavam as bolinhas e as entregavam prontas para a venda. Segundo Marcos, a prática às ajudava muito com a renda extra. Ao todo, foram produzidas cerca de 70 mil bolinhas.

Um capítulo bonito do esporte paranaense

Apesar de tudo, o criador permanece otimista. “O futsac ainda existe e está guardado. Eu acredito que ele possa florescer novamente quando o ambiente for mais favorável. Ele foi criado, registrado e sedimentado. A pandemia encerrou essa fase, mas eu imagino que futuramente eu possa retornar a isso, quando meus outros projetos começarem a dar retorno financeiro o suficiente. Por agora, eu considero que esse foi um capítulo muito bonito da história do esporte paranaense”, finaliza Marcos Juliano.