A última eleição para as câmaras municipais, ocorrida em 2024, elegeu mais de 200 vereadores em todo o Núcleo Urbano Central (NUC) da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Porém, entre os 215 parlamentares eleitos nos 14 municípios da região, apenas 28 são mulheres, o que corresponde a 13% dos vereadores eleitos.
O número, apesar de baixo, segue a lógica do resto do Brasil. Em um país onde mais da metade da população é composta por mulheres, apenas 18% dos representantes da Câmara dos Deputados são do sexo feminino. De acordo com uma pesquisa de 2025 realizada pela ONU mulher, o Brasil ocupa a 133° posição no ranking global de representação de parlamentares mulheres, ficando atrás de outros países sul americanos como Bolívia, Equador e Argentina.
A professora do departamento de comunicação da UFPR e pesquisadora de mulheres e minorias políticas, Luciana Panke, explica o motivo do Brasil ocupar essa posição. “Ainda não se vê a política como um lugar de pertencimento da mulher. Essa é uma questão cultural muito forte e enraizada aqui no Brasil e também no mundo. A mulher é vista como algo alheio, algo raro, dentro do espaço do ambiente político. , afirma a professora.
Entre os municípios do NUC da Região Metropolitana de Curitiba, em 2024, seis cidades não elegeram nenhuma mulher para a Câmara de Vereadores. O dado representa um retrocesso em relação às eleições de 2020, já que naquele ano, apenas o município de Piraquara não havia eleito uma mulher. Ao todo, dos 215 vereadores eleitos apenas 28 são do sexo feminino. Além disso, entre os 14 municípios, 7 apresentaram uma redução no número de mulheres.

Em 2024, Piraquara foi um dos únicos municípios que aumentou o número de mulheres eleitas, elegendo sua primeira representante em 28 anos. A vereadora, Professora Sonia, fala sobre a importância desse fato para o município. “É um sinal de que Piraquara está evoluindo e reconhecendo a importância da diversidade de vozes na construção das políticas públicas. Ser a primeira depois de um tempo sem nenhuma mulher na Câmara é uma honra, mas também uma grande responsabilidade, pois será através das minhas lutas, meu trabalho nesta cidade, que portas se abrirão para outras mulheres”, afirma a parlamentar.
Além de Piraquara, o município de Pinhais também apresentou um crescimento na quantidade de vereadoras, aumentando o número de uma para três parlamentares. Para a Professora Haline Siroti (PSD), vereadora eleita em Pinhais, a falta de representação feminina reflete no machismo enfrentado no ambiente legislativo. “Quando eu entrei aqui, foi difícil. Quando eu ia falar, expor minha opinião, por exemplo, no grupo de vereadores, muitas vezes eu era interrompida. Não deixavam eu falar, porque ‘eu não sabia o que eu estava falando’. Então eu precisei me impor. E por isso que muitas vezes nós mulheres somos tachadas de grossas, de loucas, porque se a gente não se impor, a gente não consegue fazer o trabalho que de fato a gente se propôs a fazer. Hoje eu não posso mais dizer que eu sofro esse tipo de coisa dentro da Câmara.” Afirma a vereadora.
Além de serem descredibilizadas pelos homens, outro fator que interfere na no baixo índice de mulheres na política, é a falta de apoio do próprio público feminino. De acordo com a professora Panke, a falta de união feminina é resultado do machismo enraizado na sociedade e, por conta dele, muitas mulheres acreditam que o lugar delas não é na política. “Tem um ditado no México que é ‘juntas nem defuntas’. Isso quer dizer que mulher não apoia mulher. Que é o pensamento da não sororidade. Então esse machismo, que impede de trazer mulheres para o ambiente político, existe tanto para mulher quanto para homem. Nem toda mulher, ela vai ter essa visão de que a outra pode representá-la.”, enfatiza a professora.
Entre as cidades do NUC, Curitiba têm o maior número de mulheres na Câmara, ocupando 12 das 38 cadeiras, o que representa 31% do total de parlamentares. Com esse número, Curitiba também é a cidade da RMC com o maior percentual de mulheres na câmara, seguida por Campo Magro (27%) e Fazenda Rio Grande (23%). Apenas esses três municípios ultrapassam os 20% de mulheres na Câmara Municipal.

Com o baixo índice de mulheres eleitas, se reforça a importância de políticas públicas que visam aumentar a presença delas na política. No país, existem algumas leis de incentivo que buscam aumentar o número de candidatas.
A Lei Eleitoral 9504/1997, impõe que 30% das candidaturas de cada partido devem ser destinadas a mulheres. Para Luciana Panke, essa lei cria o chamado “teto invisível” – os partidos veem essa porcentagem como um número máximo de candidaturas possíveis para mulheres, sendo difícil ver alguma instituição que ultrapasse essa porcentagem.
“Eu não vejo uma expectativa a curto prazo de mudança de número de candidaturas. Porém, há uma tendência, de vários partidos, vários movimentos, de que a gente tenha que eleger mais mulheres. Então talvez a gente tenha como resultado mais mulheres eleitas de vários partidos, uma visibilidade maior. Mas não vejo aumento de candidaturas.”, afirma Luciane Panke.


