As placas que indicam os nomes das ruas muitas vezes passam despercebidas pelas pessoas que caminham dia e noite pela cidade. Esses nomes, espalhados por toda Curitiba, não são escolhidos por acaso, mas carregam uma origem capaz de trazer, de sua toponímia, a memória histórica e a identidade de sua respectiva região. Além de fazerem parte do patrimônio cultural da cidade, são fundamentais. De acordo com Camila Muzzillo, arquiteta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e planejadora da obra intitulada “1001 ruas de Curitiba”, “a questão de você ter um endereço já te coloca no mundo”, e ter essa identificação é de extrema importância.
“A questão de você ter um endereço já te coloca no mundo”
Camila Muzzillo
A arquiteta afirma que a principal fonte de busca utilizada para suas pesquisas foi a Câmara Municipal, mas que para a complementação de informações pendentes, foram utilizadas pesquisas familiares, condição em que a própria família da região fornecia os dados necessários para o preenchimento histórico de suas ruas. “Depois da publicação do livro, várias pessoas queriam que aparecesse o nome de suas famílias nele.”, afirma Muzzillo.
De acordo com Muzzillo, sua pesquisa lhe permitiu observar um padrão na nomeação das ruas de Curitiba: todos os bairros homenageiam alguém da comunidade que tenha contribuído para o crescimento do bairro, seja através do comércio, por causas sociais ou de outras maneiras.
Assim como algumas ruas carregam nomes de grandes generais, capitães, barões e outras grandes figuras públicas famosas, há diversas ruas que também ajudam a construir a identidade da cidade. Um exemplo é a rua que, antes da chegada de Clarice Saltarello, residente no Pilarzinho, era chamada de “Rua E”, padrão que era seguido pelas outras ruas da região. Saltarello diz morar na mesma rua há 31 anos e afirma que desejou alterar o nome de sua rua porque “Rua E” não soava bem como nome de Rua. Além disso, ela diz achar “interessante que se possa dar nomes de pessoas já falecidas, homenageando-os”.
“Acho interessante que se possa dar nomes de pessoas já falecidas, homenageando-os”.
Clarice Saltarello
Através desses nomes também é possível localizar aspectos históricos da imigração curitibana. Nomes como a rua de Clarice Saltarello representam comunidades de diversas origens que contribuíram para o desenvolvimento e a diversidade cultural, como italianas, polonesas, ucranianas ou alemãs. Para a arquiteta, Curitiba é diferente de outras cidades que separam e nomeiam suas ruas por número, para ela, ter os nomes das ruas traz pertencimento.